O curso não é sobre o Mamilos especificamente, mas uma reunião de de cases, boas práticas e caminhos trilhados por quem já fez podcasts em áreas diversas. O B9 tem programas sobre cultura digital, literatura, beleza e drinks, para ficar em alguns. “Levantamos diversas maneiras de monetizar um podcast, as que experimentamos e outras que nunca tentamos, mas que já deu certo”, diz Cris Bartis. Um dos caminhos trilhados pelo Mamilos foi aproveitar o movimento das marcas que querem abraçar causas sociais e pretendiam assinar embaixo dos recados dados pelas duas apresentadoras.
Unir suas causas a empresas pode ser um campo delicado quando se trata de manter a audiência que depende, em grande parte, da credibilidade conquistada pela dupla desde que foi ao ar o primeiro programa, em 2014. “Temos uma política de aceitar marcas consistentes com os nossos valores, caso contrário nossa audiência criaria uma grande rejeição”, diz Ju Wallauer. Essa audiência fiel foi uma das formas de viabilizar os programas quando as então publicitárias decidiram se dedicar em tempo integral ao podcast. “A gente fez uma proposta para os ouvintes, de nos apoiar para ter dedicação exclusiva ao Mamilos e conseguimos mais do que o proposto, que era de R$ 25 mil na época.”
Empresas envolvidas em casos de racismo, machismo ou trabalho escravo, por exemplo, não entram na lista, já que qualquer nome que se ligue ao departamento comercial do Mamilos está intimamente ligado ao editorial. “As marcas que estão com a gente são as que querem participar da nossa conversa, de algo que já acontece, então elas não escolhem convidados, não tem esse negócio de aprovar antes de ir pro ar. Não é publicidade, é conteúdo”, completa Cris. A minissérie com a Natura, por exemplo, foi feita depois que Bartis e Wallauer já haviam desenvolvido outros trabalhos para a empresa, como conversas sobre violência doméstica em cidades onde a marca está presente.
Para chegar em uma companhia do porte da Natura – ou de qualquer outra que possibilite colocar um projeto de pé, planejamento é essencial, dizem as podcasters. E tanto faz se vai ser gravado dentro do armário, que tem “uma acústica perfeita”, garante Cris, ou em um super estúdio. As duas contam sobre um ouvinte que escreveu dizendo que havia investido R$ 110 mil em equipamentos e agora precisava ter retorno, só não sabia como. “É mais do que gastamos desde o começo”, diz Bartis. “Quem pretende transformar conteúdo em fonte de renda precisa de um projeto bem estruturado antes de tudo.”
O mercado parece promissor. O Brasil está entre os cinco países onde a produção mais cresceu em 2020. Entre 2019 e 2020, foram sete milhões de ouvintes a mais (acima dos 16 anos). No ano passado, o Spotify comprou a Megaphone, que desenvolve tecnologia para inserção publicitária em podcasts, por algo em torno de US$ 230 milhões. Um estudo realizado pela Globo em parceria com o Ibope, apontou que 57% dos brasileiros começaram a ouvir podcasts durante a pandemia. E a empresa tem investido continuamente nesse novo pilar de negócios, inclusive com a parceria para hospedar todo o conteúdo do Mamilos e Braincast, os dois mais ouvidos do B9, na plataforma Globoplay. “Estamos em um momento de maturação e, como tudo na internet, teremos uma cauda muito longa, com muita gente ganhando um pouco e alguns se destacando e ganhando mais”, diz Ju Wallauer.