Quando Daniely Ferreira voltou de licença-maternidade, foi surpreendida com um email anunciando a nova diretora financeira da Apsen Farmacêutica, empresa em que trabalha há quase 15 anos. Seria ela mesma a nova gestora, depois de sete meses afastada e com uma bebê de colo para cuidar. “Quando você descobre uma gravidez, vêm aquelas interrogações e angústias. Eu vinha numa crescente, quase 15 anos de empresa, e estava no meu melhor momento de entregas e resultados.”
Ela não tinha medo do desligamento, mas entendia que, depois de tantos meses longe da empresa, muita coisa poderia ter mudado. “Deu aquele baita frio na barriga, medo do desafio, mas o que me motivou foi a confiança que depositaram em mim por terem me colocado nessa posição”. Ela vai liderar um setor chave no plano estratégico que tem como meta dobrar o faturamento da empresa até 2025.
Daniely entrou na Apsen como estagiária, aos 17 anos, em 2007. Passou pelas áreas médica e científica, em que tinha contato com rotinas administrativas, e foi aprovada em um processo interno para estagiar no departamento de marketing.
Por indicação de uma colega, passou mais uma vez por um processo interno e foi efetivada como assistente no setor administrativo. Depois, ocupou todas as cadeiras dentro da área financeira, desde a parte fiscal até a tesouraria. “Fui sendo promovida, de assistente passei para analista júnior, depois para analista pleno, analista sênior e quando já tinha uma bagagem, recebi a oportunidade de ser coordenadora”. Dentro de três anos, Daniely assumiu a posição de gerente.
Gravidez
Ela saiu de licença-maternidade no segundo semestre de 2021 e, durante os primeiros seis meses do ano, se preocupou em preparar a equipe para sua ausência “A Renata [Spallici, vice-presidente da empresa], fez até um evento surpresa com meu time reunido para me desejar boa sorte e para que eu saísse tranquila para a licença-maternidade.”
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Durante o período de licença-maternidade, Daniely aproveitou a filha, mas não deixou de monitorar os processos da empresa para se assegurar de que tudo estava acontecendo conforme o planejado.
Trabalho e maternidade
O novo cargo já está sendo conciliado com a função de mãe desta maneira: “Durante o expediente, eu me dedico 200% para a empresa, mas bateu 17h30, eu não posso e nem consigo estender mais como fazia antes”, diz a nova diretora financeira.
Daniely se considerava workaholic, mas as prioridades mudaram. “Quando você volta, muita coisa passa na cabeça de uma mãe. Quero estar próxima da bebê, não quero faltar como mãe, mas ao mesmo tempo não passou pela minha cabeça interromper minha carreira.”
Hoje, ela tem a ajuda de uma babá, o que considera indispensável, já que seu marido também trabalha o dia todo. “Foi fundamental ter uma pessoa para eu conseguir dividir esses dois universos. Eu precisei ter esse marco de divisão porque se não você acaba não vivendo nem uma coisa nem outra.”
A privação do sono é uma das maiores dificuldades neste momento. Sua filha, Manuela, acorda de 10 a 15 vezes à noite e, às 8h, Daniely já tem que estar na frente de uma tela cumprindo sua função na empresa. “Se eu falar que é fácil, vou estar mentindo. Dar conta de tudo e estar envolvida em muitas questões que não podem falhar é realmente muito difícil, porém é possível.”
Nesse momento, o home office ajuda. “Eu não consigo dar atenção para ela o dia inteiro, mas estar próxima já é algo impagável.” Hoje, ela é muito mais empática com outras mulheres que também conciliam o trabalho com a maternidade.
A executiva está disposta a enfrentar as dificuldades, entendendo que essa é uma fase e que, se decidisse abrir mão da sua carreira, o arrependimento acabaria batendo à porta no futuro. “É difícil voltar para o ambiente corporativo depois de uma pausa, você acaba ficando desatualizada.”
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Meu primeiro cargo de liderança
“Foi quando eu virei coordenadora. Foi um desafio porque quando você assume uma posição de liderança, você tem que mudar sua mentalidade. Você não está mais lidando só com processos ou questões operacionais, você tem pessoas abaixo de você. A responsabilidade aumenta, mas eu sempre busquei estar muito próxima do meu time. Um ponto que ajudou muito foi o fato de eu já ter sentado ali na cadeira deles. Foi algo muito positivo na minha visão, porque eu vim de baixo, não me colocaram naquela posição, ela foi conquistada. Então eu não tive resistência por parte da equipe, foi uma transição que aconteceu de forma natural”.
Turning point da carreira
“Foi quando eu virei gerente administrativo-financeira, porque eu vinha passando por uma uma separação, então estava em um momento de baixa autoestima e recebi a promoção. Foi um marco muito importante porque nem eu acreditava que eu chegaria àquela posição, eu não confiava no meu próprio potencial. E aí eu pensei ‘agora eu vou dar realmente tudo de mim’. Foi um empurrão que eu tive para que as coisas dali para frente fossem só uma crescente.”
Quem me ajudou
“Acho que todo mundo ajudou e agregou de alguma forma, mas duas pessoas que eu gostaria de citar o nome seriam a Neli e a Renata. A Neli é uma pessoa que está na Apsen há 33 anos, é o braço direito do Renato [Spallicci, presidente da Apsen], e foi ela que viu em mim uma pessoa que poderia vir para o financeiro. E a Renata é uma pessoa em quem eu me inspiro muito e que de fato me ajudou a galgar essa posição”.
O que ainda quero fazer…
“Começou a passar pela minha cabeça empreender, pensando a longo prazo, numa possível aposentadoria ou com algo que eu já pudesse começar a tocar em paralelo. Surgiu um desejo de empreender com algo voltado para o nicho de crianças, até para ter uma estabilidade financeira”.
Causas que abraço
“Questões de diversidade e inclusão, principalmente das mulheres assumindo posições de liderança e sendo valorizadas no retorno da sua licença-maternidade, um momento em que elas estão bem fragilizadas.”
Minha formação
“Administração de empresas na Universidade Ítalo Brasileiro e pós-graduação em finanças corporativas na FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado)”.