Mulheres na tecnologia: trabalho híbrido pode atrair mais talentos?

8 de abril de 2022
Erik Isakson/Getty Images

O aumento do número de mulheres jovens que se candidatam a cursos relacionados à tecnologia também é uma tendência

A diversidade de gênero na indústria de tecnologia tem sido um problema há anos, com as mulheres continuando sub-representadas, especialmente em cargos de liderança sênior. Agora, conforme a escassez de habilidades tecnológicas ameaça os planos de transformação digital de empresas em todo o mundo e o trabalho híbrido e flexível se torna a norma, a diferença de gênero pode começar a diminuir.

As estatísticas em torno das mulheres na tecnologia geralmente pintam um quadro pessimista. Uma pesquisa da empresa de criação de talentos baseada em nuvem Revolent descobriu que menos de 5% dos CEOs das empresas de tecnologia da Fortune 500, lista com as maiores corporações dos Estados Unidos, são mulheres, uma queda de 14% entre 2016 e 2021.

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O estudo também mostrou que 73% das profissionais de tecnologia dizem que existe desigualdade de gênero na indústria e 64% delas não acreditam que seu empregador pague homens e mulheres igualmente.

A empresa identificou que a falta de modelos femininos, a cultura desconfortável das companhias do setor e a reputação da tecnologia como uma área de desequilíbrio entre vida profissional e pessoal são barreiras que impedem as mulheres de seguir uma carreira nessa área. 

Mas também existem concepções erradas sobre trabalhar com tecnologia, de acordo com Anna Sutton, cofundadora da consultoria de negócios The Data Shed. “As pessoas parecem pensar que, para poder trabalhar em tecnologia, você precisa saber codificar”, diz. “A tecnologia tem uma linguagem específica e que pode parecer impossível de entender. Precisamos quebrar esses mitos e obstáculos. A diversidade é imperativa. A tecnologia serve a todos nós e a indústria precisa representar isso.”

Mulheres em cargos de tecnologia

Agora, com uma enorme demanda por talentos em tecnologia e muitas empresas adotando o modelo de trabalho híbrido, a maré pode estar prestes a mudar. No Reino Unido, a tecnologia tem sido um dos setores líderes em termos de reequilíbrio de gênero, recrutando mais de 150 mil mulheres nos últimos três anos, de acordo com números do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico de novembro de 2021. 

O aumento de 44% no número de mulheres entrando em cargos de tecnologia foi quase três vezes maior do que o de homens, de 19%, no mesmo período. “Há agora mais de meio milhão de mulheres trabalhando em tecnologia no Reino Unido. Essa tendência deve continuar, pois o trabalho híbrido oferece o nível de flexibilidade que as mulheres com famílias jovens precisam há muito tempo. Empresas de todos os tamanhos também estão reconhecendo que o investimento em programas de diversidade tem um claro argumento comercial e de igualdade”, diz Bev White, CEO da empresa de recrutamento de TI Harvey Nash Group.

A plataforma de investimento Freetrade, lançada em 2018, criou uma cultura inclusiva que acolhe e apoia talentos diversos. Ela cresceu de 70 funcionários em 2019 para 350 hoje, com uma divisão de gênero 70% masculina e 30% feminina, em comparação com uma proporção 80% masculina e 20% feminina no final de 2019. Dentro das funções de tecnologia, especificamente, a divisão de gênero é agora 85% masculina e 15% feminina, em comparação com a proporção 95% masculina e 5% feminina no final de 2019.

Outras ações de diversidade e inclusão realizadas pela empresa incluem aumentar a conscientização e priorizar o treinamento para entrevistadores, com foco principalmente em vieses inconscientes, e para gestores e líderes, especialmente sobre como os diferentes gêneros se comportam e por quê. “Isso dá aos gestores e líderes as habilidades e a confiança de que precisam para engajar e reter uma força de trabalho diversificada ao longo do tempo”, diz a líder de recursos humanos, Amy Gilman.

Mas, além do básico, ela insiste que é necessário desafiar a falta de mulheres em funções de tecnologia, finanças e engenharia, por exemplo, em parceria com iniciativas educacionais e governamentais para impulsionar a inclusão na tecnologia.

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Também é fundamental ter uma equipe de liderança que tenha um papel ativo na defesa de projetos de diversidade e inclusão e desafie consistentemente a falta de progresso ou de impacto positivo. “Os líderes devem ir além da identificação do problema e alavancar sua influência para ajudar a encontrar soluções”, afirma Gilman.

Outra tendência encorajadora é o aumento do número de mulheres jovens que se candidatam a cursos relacionados à tecnologia. Dados divulgados pelo UCAS (sigla em inglês para o Serviço de Admissão de Universidades e Faculdades) mostram que os cursos de TI nas universidades do Reino Unido tiveram um número recorde de mulheres candidatas, um aumento de 82% nos últimos 10 anos. Analisando os dados mais recentes, os cursos de IA têm o maior número de mulheres inscritas, embora atualmente ele seja de apenas uma mulher em cada cinco inscritos (21%).

“O aumento de mulheres entrando no setor pode fazer uma grande diferença nos próximos cinco a 10 anos”, afirma o CEO da Harvey Nash Group, Bev White. “Eu espero que essa tendência continue; podemos estar à beira de uma mudança real e sustentada no que tem sido tradicionalmente um setor dominado por homens.”