16 cientistas brasileiras que fizeram história

18 de junho de 2022
Anselmo Cunha

A cientista brasileira Márcia Barbosa é diretora da Academia Brasileira de Ciências e integrante da Academia Mundial de Ciências

Mulheres e meninas representam metade da população do mundo e, portanto, metade de seu potencial, segundo um artigo da ONU (Organização das Nações Unidas). Apesar disso, o gap de gênero nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) é o responsável pela imagem masculina quando se fala em cientistas. 

Nas universidades, as mulheres representam 35% dos alunos matriculados nesses campos – e o percentual é menor nas engenharias e na tecnologia, não chegando a 28% do total, ainda de acordo com a ONU. 

Isso se reflete na academia: a cada dez membros das academias nacionais de ciências, apenas um é mulher. E elas geralmente recebem bolsas de pesquisa menores do que seus colegas homens.

Estas brasileiras enfrentaram as dificuldades da área e fizeram história na ciência. Conheça suas trajetórias, trabalhos e descobertas:

Bertha Lutz (1894-1976)

Bertha Lutz foi uma cientista e bióloga especializada em anfíbios. Filha de Adolfo Lutz, referência da zoologia médica no Brasil, estudou na Universidade de Paris. Descobriu uma nova espécie de sapo e, em 1919, se tornou pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Para além da ciência, participou da Conferência das Nações Unidas em São Francisco, em 1945, onde lutou para que a igualdade de gênero fosse incluída na Carta das Nações Unidas.

Elisa Frota Pessoa (1921-2018)

Elisa foi uma das primeiras mulheres a se formar em física no Brasil. Ela ingressou na Faculdade Nacional de Filosofia – hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) – contra a vontade de seu pai, que via no casamento o único destino para meninas como ela. Ainda estudante, começou a se destacar nos estudos sobre radioatividade, participou da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, onde coordenou o Laboratório de Emulsões Nucleares e estudou na University College de Londres.

Elza Furtado Gomide (1925-2013)

Elza foi a primeira doutora em matemática pela USP (Universidade de São Paulo). Ela se formou em física, mas seguiu os passos do pai e se dedicou à matemática. Foi eleita chefe do Departamento de Matemática da USP em 1968 e trabalhou na instituição de 1945 até sua aposentadoria compulsória, em 1995. 

Enedina Alves Marques (1913-1981)

Formada em engenharia civil pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), em 1945, Enedina foi a primeira engenheira negra do Brasil. Na sua turma, se formaram outros 32 engenheiros, todos homens brancos. Ela foi professora, trabalhou como chefe em obras públicas e no desenvolvimento do Plano Hidrelétrico do Paraná. Dizem que ela andava com uma arma na cintura e dava tiros para o alto para ganhar respeito em um ambiente dominado por homens. 

Graziela Maciel Barroso (1912-2003)

Nascida em Corumbá, no interior do Mato Grosso do Sul, foi uma naturalista e botânica brasileira. Casou-se com 16 anos e, aos 30, começou a aprender botânica. Mesmo sem curso superior, foi aprovada em segundo lugar no concurso de naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Aos 47, ingressou no curso de biologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e, aos 60, defendeu seu doutorado. Ela se tornou a maior taxonomista de plantas no Brasil e, hoje, é conhecida como a “primeira dama da botânica brasileira”, tendo mais de 25 espécies batizadas em seu nome. Autora de livros considerados referência internacional no tema, foi a única brasileira a receber a medalha internacional Millenium Botany Award. 

Jaqueline Goes e Ester Sabino

A biomédica Jaqueline Goes de Jesus e a imunologista Ester Sabino ficaram conhecidas por terem sequenciado o genoma do novo coronavírus  24 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Jaqueline desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes e faz parte de um projeto de mapeamento genômico do vírus Zika no Brasil. Ester é pesquisadora do Laboratório de Parasitologia Médica, com trabalhos sobre HIV, doença de Chagas e anemia falciforme. 

Leia também: Mulheres na ciência: as brasileiras na linha de frente contra a Covid

Maria José Deane (1916-1955)

Maria José foi uma médica parasitóloga paraense. Ela se formou na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, em 1937, e viajou o Brasil estudando doenças causadas por parasitas – ao lado do marido, também cientista. Na década de 1980, foi chefe do departamento de protozoologia da Fiocruz e, mais tarde, foi vice-diretora da instituição. Suas pesquisas contribuíram para a erradicação de epidemias causadas por parasitas, e melhoraram a saúde pública brasileira. 

Márcia Barbosa

Diretora da Academia Brasileira de Ciências e integrante da Academia Mundial de Ciências, Márcia é doutora em física e especialista em estudos relacionados à água. Ela também é professora e pesquisadora do Instituto de Física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), onde se graduou e fez mestrado e doutorado. Em 2020, foi eleita pela Forbes uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil.

Nadia Ayad

Em 2016, a carioca Nadia Ayad recebeu o prêmio internacional Global Graphene Challenge Competition. Ela criou um mecanismo sustentável que torna a água potável, usando a dessalinização a partir do grafeno, material composto por átomos de carbono. Nadia é formada em engenharia de materiais pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), líder da Fundação Estudar e doutoranda em bioengenharia pela Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.

Simone Maia Evaristo

Simone se formou em biologia pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, e se especializou em Citologia Clínica pela UFRJ. Hoje, é presidente da Anacito (Associação Nacional de Citotecnologia) e supervisora na área de ensino técnico do INCA (Instituto Nacional do Câncer). 

Sonia Guimarães

Nascida em Brotas, no interior de São Paulo, Sonia é uma física brasileira, a primeira mulher negra doutora em física e professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Formada pela Ufscar, era uma das 5 mulheres em uma sala de 50 alunos. Fez mestrado em física aplicada na USP e doutorado em materiais eletrônicos na Inglaterra. Quando começou a lecionar no ITA, em 1993, a instituição nem aceitava alunas mulheres. Sonia também é ativista na luta contra o racismo e a discriminação de gênero.

Sonja Ashauer (1923-1948)

Sonja foi a primeira mulher brasileira a concluir o doutorado em física, pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ela fez o curso na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo e foi uma das primeiras brasileiras a se formar em física, em 1942, no mesmo ano de Elisa Frota Pessoa. Participou de pesquisas na área de mecânica quântica e morreu aos 25 anos, de uma gripe que acabou se tornando uma pneumonia.

Thelma Krug

Thelma é uma matemática, professora e pesquisadora brasileira com atuação na área de mudanças climáticas. Ela se graduou e fez mestrado na Roosevelt University, nos Estados Unidos, e concluiu o doutorado em estatística espacial pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Ela é pesquisadora aposentada do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e vice-presidente do IPCC (sigla em inglês para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), uma organização criada pela ONU, desde 2015.

Vivian Miranda

A carioca Vivian Miranda foi a única brasileira a trabalhar em um projeto da Nasa para desenvolver um satélite avaliado em US$ 3,5 bilhões (R$ 16,74 bilhões). Ela fez graduação em física na UFRJ e foi para os Estados Unidos cursar o doutorado em astronomia e pós-doutorado em astrofísica na Universidade do Arizona, onde foi a primeira transexual a concluir este curso. 

Viviane dos Santos

A pesquisadora Viviane dos Santos Barbosa ficou conhecida por desenvolver um produto catalisador que reduz a emissão de gases poluentes. Ela cursou química industrial por dois anos na UFBA (Universidade Federal da Bahia), e se mudou para a Holanda para estudar bioquímica e engenharia química na Delft University of Technology. Em 2010, sua invenção recebeu a premiação máxima em uma conferência na Finlândia com outros 800 pesquisadores.

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