Primeira mulher do mundo eleita presidente avalia igualdade de gênero

22 de novembro de 2022
AP Photo/David Keyton

Aos 92 anos, Vigdis Finnbogadottir continua abrindo espaço para a igualdade de gênero na política islandesa e do mundo

Mesmo aos 92 anos, Vigdis Finnbogadottir, a primeira mulher a ser eleita presidente de um país em 1980, na Islândia, ainda é uma política ativa e continua a lutar pelos direitos das mulheres.

Finnbogadottir fez uma aparição, recentemente, no Fórum Global de Reykjavik, capital da Islândia – que discute a liderança feminina pelo mundo –, e foi celebrada pela atual primeira-ministra do país, Katrin Jakobsdottir, e outras mulheres de altos escalões da política. A ex-presidente, em uma entrevista, discutiu temas como mulheres em posições de liderança, direitos das mulheres e a situação do Afeganistão.

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Vigdis Finnbogadottir no Fórum Global de Reykjavik

Rompendo barreiras

Quando Finnbogadottir foi eleita para o cargo político mais alto de seu país, ela não só se tornou a primeira mulher no mundo a ser eleita presidente, mas também acabou sendo a mulher que ficou mais tempo nessa posição. Ela foi presidente do país por 16 anos, entre 1980 e 1996, e muitas mulheres e meninas islandesas cresceram tendo sua figura como um exemplo, encorajando outras a se envolverem na vida política do país.

“Eu tinha oito anos quando ela [Vigdis Finnbogadottir] foi eleita”, disse Helga Vala Helgadottir, política islandesa e membro do parlamento do país. “Ela e outras mulheres nos fizeram orgulhosas e fortes, pois crescemos com essa visão de que as mulheres podem fazer as mesmas coisas que os homens.”

Finnbogadottir era divorciada e mãe solo quando se tornou presidente, sofrendo, na época, muita resistência, ao  que ela respondia com sagacidade. Também é uma sobrevivente de câncer de mama e, depois que lhe perguntaram como iria governar o país com somente um seio, ela respondeu: “Nunca foi minha intenção amamentar a nação.”

A atual primeira-ministra da Islândia disse que construiu sua carreira na política lembrando de uma das frases mais famosas da primeira mulher presidente: “O mundo é duro, mas eu sou ainda mais.”

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Rainha Elizabeth em visita oficial à Islândia em 1990 com a ex-presidente Vigdis Finnbogadottir

Finnbogadottir denunciou o direito das mulheres no Afeganistão durante a discussão no fórum. No último mês de março, a autoridade do Taliban decidiu proibir a educação de meninas do país após o sexto ano. A decisão foi, segundo ela, uma resposta ao medo. “Isso mostra, claramente, a insegurança de homens em não conceder direito às mulheres por medo delas”. Ela acrescentou que as mulheres afegãs deveriam saber que “o mundo tem ambição por elas”, mas que acredita que a mudança no país deve vir de dentro.

Abrindo caminho para a igualdade de gênero

A Islândia é, atualmente, o país mais igualitário em termos de gênero, segundo o Fórum Econômico Mundial. Apesar de não possuir um parlamento totalmente igualitário, o país se sai melhor do que outras nações em âmbitos como equidade salarial e participação no mercado de trabalho. Desde que Finnbogadottir deixou o cargo de presidente, nenhuma outra mulher foi eleita para a posição no país, mas foram eleitas duas mulheres como primeiras-ministras – incluindo a atual Katrin Jakobsdottir.

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Ex-presidente da Islândia Vigdis Finnbogadottir

“Eu não digo que precisamos nos colocar no mapa porque já estamos nele”, disse Finnbogadottir. “Eu tenho muito orgulho do meu país por se posicionar em favor da igualdade.”

De acordo com os últimos índices de desigualdade de gênero divulgados pelo Fórum Global, a percepção da aptidão de mulheres e homens para a liderança teve queda a níveis inferiores àqueles medidos quando o relatório foi lançado nos países do G7 em 2018.

O índice também indicou que a Islândia é a nação que mais acredita na ambição de mulheres para a liderança, com uma taxa de 91%. Segundo o Fórum Econômico Mundial, a pioneira e longa presença de Finnbogadottir como figura política contribuiu para o estreitamento da desigualdade social no país e aumento da igualdade de gênero.

“Eu estava representando tanto os homens quanto as mulheres”, afirmou a ex-presidente. “Os homens, às vezes, se esquecem de que eles são metade mulher. Metade dos genes deles vêm de mulheres.”

Muitos países ao redor do mundo ainda não elegeram uma mulher para a presidência – incluindo os Estados Unidos e a França –, mas a primeira mulher no mundo a ser escolhida para a posição acredita que as mulheres precisam continuar lutando. “Acredite que você está fazendo a coisa certa”, afirma. “Por favor, acredite que você não é inferior a um homem, porque isso está só na cabeça – não está no corpo, mas sim, na cabeça e nos pensamentos.”