A paridade econômica das mulheres contribuiria com US$12 trilhões para a economia global, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Você pode pensar que um número dessa mobilizaria recursos para aproveitar a oportunidade de crescimento econômico, mas não é o que acontece.
É difícil ser mulher e ter sucesso econômico no mundo de hoje. Essa foi uma triste frase dita no Mastercard Global Inclusive Growth Summit em Washington, nos EUA, no último sábado (15). Sim, as mulheres percorreram um longo caminho, mas poderosas forças culturais, financeiras e políticas ainda estão dificultando que elas avancem.
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Contando histórias de aldeias e comunidades que ela viu serem transformadas por mulheres trabalhadoras e empreendedoras em países em desenvolvimento, Melinda French Gates disse ao público que, ao não capacitar as mulheres, estamos perdendo grande crescimento econômico – prosperidade que é desesperadamente necessária hoje em todo o mundo.
O que é preciso para maximizar a capacidade das mulheres de fazer a economia crescer (o que, no final, beneficia todos)?
Melinda French Gates estava acompanhada por outros palestrantes da conferência: Trevor Noah, comediante, Maria Teresa Kumar, fundadora e CEO da Ong de empoderamento de latinos Voto Latino, Samantha Power, administradora da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, Lilly Singh, influenciadora e fundadora da produtora Unicorn Island Fund, a Rainha Máxima da Holanda e Shamina Singh, fundadora e presidente do Mastercard Center for Inclusive Growth. Eles levantaram várias questões relevantes para capacitar as mulheres e outras comunidades marginalizadas.
É preciso uma aldeia – e compaixão, recursos financeiros, tecnologia, educação, colaboração, planejamento familiar, saúde, engenhosidade, determinação, amizade, autocuidado – e pessoas influentes liderando essa causa. É necessário envolver toda a sociedade.
“Estamos perdendo em algumas dessas conversas hoje”, disse French Gates. “O mundo está em uma situação difícil: altos preços dos alimentos em todo o mundo, guerra na Ucrânia, crises financeiras e cicatrizes econômicas da Covid-19. Estamos falando, felizmente, sobre mudanças climáticas porque isso é muito importante, mas não estamos falando dessa oportunidade incrível de prosperar. As mulheres são motores econômicos do crescimento.”
Barreiras sociais e soluções para a equidade de gênero
“Como podemos garantir que elas atinjam todo o seu potencial?”, Melinda French Gates perguntou. “Falamos há muito tempo sobre empoderar as mulheres, mas, se falarmos apenas sobre isso, não estamos olhando para as barreiras sociais que criam obstáculos. O que realmente precisamos discutir é sobre como as mulheres podem ter autoridade para tomar decisões, ter assentos à mesa de decisões, definir políticas, ter controle de suas finanças, ter controle de seus corpos.”
Dando o exemplo da expansão do banco digital na Índia, French Gates enfatizou como essa instituição financeira mudou a realidade para as mulheres, especialmente nos países em desenvolvimento: “Nos últimos 10 anos, a porcentagem de mulheres com contas em bancos digitais cresceu de 28% para 78% no país. E assim, se fizermos certas coisas para realmente olhar para esta oportunidade que temos com as mulheres – ou seja, garantir que elas tenham uma ótima educação, que possam planejar e espaçar o nascimento de seus filhos e, em seguida, garantir que tenham contatos para entrar um ótimo trabalho e um sistema bancário disponível para economizar dinheiro –, você certamente acelerará o crescimento delas. E adivinha? Eles vão acelerar ainda mais a sua economia.”
Melinda French Gates compartilhou sua própria história de crescimento em uma família humilde de quatro filhos com pais que “estavam absolutamente determinados a fazer nós quatro entrar na faculdade”. Ela via como essa motivação ajudou seu pai a trabalhar pela família. “Eu cortava grama e fazia outros trabalhos para contribuir para a renda da minha família. Foi esse dinheiro que me permitiu cursar a faculdade”.
A importância do empoderamento financeiro para as mulheres
Uma das histórias mais emocionantes da conferência foi a de Gates sobre uma mulher em um país de baixa renda com quem ela esteve em contato nos últimos dois anos. Segundo ela, a mulher havia conseguido alguns recursos financeiros para si e tomou o controle deles.
O impacto de ter controle financeiro foi profundo naquela mulher. French Gates contou que: “’Meu filho me vê de maneira diferente porque comprei uma bicicleta para ele’, ela me disse. ‘Meu marido me vê de forma diferente porque posso comprar combustível para a moto dele. Todos na minha comunidade sabem meu nome agora.’”
“É por isso que acho que temos que falar sobre dinheiro e mulheres tendo seus próprios recursos financeiros, porque é só assim que ela tem poder e, consequentemente, muda o mundo para melhor.”
O impacto do empoderamento das mulheres nos homens
“Quando damos poder às mulheres, muitas vezes não pensamos em como isso alivia a pressão sobre os homens”, disse Trevor Noah sobre como o benefício do empoderamento financeiro das mulheres também recai sobre os homens, discussão que é comumente esquecida.
“Fazemos parecer que é uma coisa maravilhosa, uma caridade que faremos para as mulheres. Mas, repetidas vezes, você vê que, quando dá a uma mulher o poder que ela merece, você dá a ela equidade e inclusão, gerando mudanças no ambiente doméstico e na sociedade. Por isso, a pressão que os homens sentem também se transforma”, ele explica. “Quando essa pressão muda, você começa a ver uma sociedade que se estabiliza – mais pacífica, mais tranquila. É um lugar mais agradável para se estar.
* Joan Michelson é apresentadora do podcast Electric Ladies Podcast, palestrante e consultora de ESG e de carreira.
(Traduzido por Gabriela Guido)