Mulheres protagonizam maioria dos filmes produzidos por streamings

27 de maio de 2023
Axelle/Bauer-Griffin/Getty Images

The Handmaid’s Tale, série da plataforma de streaming Huli, é protagonizada pela atriz Elisabeth Moss

De acordo com um novo estudo, os serviços de streaming veicularam mais histórias de mulheres do que de homens nos filmes que produziram em 2022. Apesar dos esforços para incluir mulheres nas produções, as mulheres ainda enfrentavam sub-representação, ficando restritas aos papéis de coadjuvantes e aparecendo menos à medida que ficavam mais velhas.

O relatório do Center for the Study of Women in Television and Film da San Diego State University analisou mais de 1,1 mil créditos de filmes e mais de 1,8 mil personagens na tela em 82 filmes produzidos nos EUA lançados pelas plataformas de streaming Amazon Prime, Disney+, Hulu, HBO Max e Netflix.

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Embora o relatório destaque tendências encorajadoras (e também preocupantes), um aspecto positivo se destaca: a maioria desses filmes foram protagonizados por mais mulheres do que por homens. Surpreendentes 49% desses filmes apresentavam protagonistas femininas, enquanto 38% tinham protagonistas masculinos. E os 12% restantes tinham duplas dos dois gêneros. “Os filmes originais dos EUA dos principais serviços de streaming apresentam protagonistas femininas em proporções que se aproximam da representação de meninas e mulheres na população dos EUA”, disse Martha Lauzen, a autora do relatório, em um comunicado à imprensa. “Esses filmes colocam personagens femininas em primeiro plano e são mais propensos a contar histórias do ponto de vista feminino.”.

Um excelente exemplo é o filme “Rosaline”, da plataforma de streaming Hulu, que é uma releitura de Romeu e Julieta a partir da perspectiva de uma mulher. Da mesma forma, o HBO Max em torno de Angela Childs, que trabalha em casa, supervisionando as gravações de um assistente de computador semelhante ao Alexa.

Essa representação da perspectiva feminina em filmes de streaming não é replicada no mundo dos filmes de maior bilheteria e de orçamentos milionários. De acordo com uma pesquisa anterior de Lauzen, só um terço dos 100 filmes de maior bilheteria de 2022 contaram histórias da perspectiva de uma mulher. E mesmo entre os filmes do streaming, a maioria dos personagens ainda é masculina – 70% dos filmes streaming analisados têm mais personagens femininas do que masculinas.

Embora as empresas de streaming ofereçam mais histórias centradas nas mulheres, as mulheres ainda estão em pouca quantidade nos bastidores. As mulheres são apenas 22% dos diretores desses filmes, e mais de três quartos dos filmes não têm diretoras. Quanto aos diretores de fotografia, responsáveis ​​pelos aspectos técnicos de levar a visão do diretor para a tela, apenas 8% eram mulheres.

Menos mulheres nos bastidores dos filmes de alto nível também resultam em menos mulheres em outras posições. Por exemplo, as mulheres são 54% dos roteiristas em filmes com pelo menos uma diretora, mas diminuem para 13% dos roteiristas em filmes dirigidos exclusivamente por diretores homens. Além disso, os filmes dirigidos por mulheres tendem a apresentar uma proporção maior de personagens femininas em relevância.

Não apenas as mulheres estão sub-representadas nos bastidores, mas as mulheres mais velhas também tiveram oportunidades limitadas em 2022. Para personagens na faixa dos 30 anos, as mulheres superaram os homens em quantidade. Essa proporção, entretanto, muda drasticamente com o aumento da idade. Quando os personagens atingem seus 50 anos, há mais do que o dobro de personagens masculinos em relação aos femininos. “Essa diferença de idade reforça os estereótipos de que as mulheres são valorizadas por sua juventude e beleza e os homens são valorizados por suas realizações”, diz a pesquisadora no estudo.

Os filmes também reforçam outros estereótipos. Personagens masculinos são mais frequentemente representados com ocupações definidas, enquanto personagens femininas são mais propensas a serem caracterizadas por seu estado civil. Além disso, é mais provável que os personagens masculinos sejam retratados em ambientes relacionados ao trabalho e exibam objetivos relacionados a isso. As mulheres eram mais propensas a ter objetivos de vida pessoal e a serem vistas em situações relacionadas.

As mulheres não eram as únicas sub-representadas nos filmes de streaming. Os latinos foram o grupo étnico menos representado se comparado à população deles nos EUA. Apenas 6,0% de todos os personagens com falas nas produções eram latinos e 5,6% dos personagens em geral eram latinos.

* Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

(Traduzido por Gabriela Guido)