Pesquisa mostra como se autopromover sem despertar reações negativas

21 de agosto de 2023
Getty Images

A autopromoção pode fazer homens e mulheres serem vistos como arrogantes, mas a situação é quase sempre pior para elas

A autopromoção no trabalho é uma faca de dois gumes para as mulheres. Quando falam sobre suas realizações, elas são vistas como competentes, mas não como pessoas agradáveis. Por outro lado, optar pela modéstia ou pela autodepreciação faz com que elas pareçam agradáveis, mas menos competentes. 

Agora esse problema pode ser reduzido. Pesquisadores descobriram uma abordagem ganha-ganha que pode ajudar mulheres – e homens – a se autopromover sem parecerem hostis.

Homens e mulheres podem ser vistos como arrogantes quando falam bem de si mesmos, mas a situação é quase sempre pior para elas. Estudos mostram que mulheres que divulgam suas realizações são vistas como menos simpáticas e menos contratáveis ​​do que seus colegas do sexo masculino que fazem o mesmo. 

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Ao mesmo tempo, falar abertamente das suas habilidades e conquistas não é algo que pode, ou deve, ser evitado. A maioria das carreiras exige que divulguemos nossas realizações, seja para nossos líderes, possíveis empregadores ou clientes.

Como funciona a “promoção dupla”

Uma nova abordagem, chamada de “dual-promotion”, ou “promoção dupla”, ajuda homens e mulheres a falar sobre suas realizações sem prejudicar a questão da simpatia. O segredo é dar crédito aos outros enquanto faz seus próprios elogios. “Mostramos que, ao combinar a autopromoção com a promoção de outros (elogiar ou dar crédito a outros), o que chamamos de ‘promoção dupla’, as pessoas podem projetar afeto e competência para causar melhores impressões”, escrevem os autores em sua pesquisa publicada na revista acadêmica Journal of Personality and Social Psychology.

A promoção dupla não apenas faz as pessoas parecerem mais agradáveis, também causa uma percepção de maior competência. Ou seja, as pessoas vão pensar que você é mais legal e mais capaz de fazer o seu trabalho.

De políticos a vendedores, os pesquisadores descobriram que a promoção dupla é eficaz para várias profissões. Para os políticos, essa estratégia aumentou o número de votos prováveis. Nas postagens de mídia social, aqueles que divulgam as realizações dos outros junto com as suas próprias são classificados como mais calorosos, competentes e apresentam uma impressão geral melhor do que aqueles que postam apenas sobre suas próprias realizações.

Para aqueles que trabalham em equipes ou ambientes colaborativos, é mais fácil imaginar como a promoção dupla pode ser implementada. Os funcionários podem mencionar as contribuições dos membros de sua equipe para atingir uma meta específica.

Eric VanEpps, professor de marketing na Universidade de Vanderbilt, nos EUA, e principal autor do estudo, diz que a promoção dupla é um pouco mais complicada, mas ainda viável para freelancers e profissionais independentes. “Embora colegas de equipe e de trabalho sejam pessoas naturais para elogiar, profissionais independentes também podem fazer isso, incluindo as conquistas de outras pessoas no seu campo”, disse ele. Por exemplo, um romancista pode elogiar um livro de um outro colega autor, ou um político pode falar bem de outros indivíduos que realizam mudanças para seus eleitores.

Mulheres têm mais dificuldade em se autopromover

Apesar dessas vantagens, poucos atualmente promovem colegas além de si mesmos. Profissionais de RH nos EUA relataram que apenas um em cada oito candidatos a emprego usam essa estratégia.

Embora ela funcione para homens e mulheres, pode ser mais benéfica para as mulheres. Isso porque geralmente elas recebem mais reações negativas do que os homens quando se autopromovem, já que falar bem de si mesmo se encaixa mais nos estereótipos de gênero associados aos homens. As pessoas não acham apropriado que as mulheres falem de suas realizações.

As mulheres estão cientes de que podem enfrentar uma reação negativa ao se gabar demais, e, consequentemente, tendem a evitar esse tipo de comportamento. Um estudo mostrou como isso acontece: as mulheres não tiveram nenhum problema em se autopromover se pudessem usar um pseudônimo para fazer isso, mas quando tiveram que usar seu nome real, foram mais cautelosas.

“Nossos resultados fornecem algumas informações sobre as experiências de autopromoção das mulheres, sugerindo que as mulheres que se autopromovem sob um pseudônimo feminino percebem seu desempenho como de maior qualidade do que aquelas que se autopromovem usando seu próprio nome.”

Elogiar os outros enquanto fala sobre suas próprias realizações é uma alternativa mais segura para homens e mulheres poderem se autopromover sem medo das reações.

* Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

(Traduzido por Fernanda de Almeida)