A brasileira de 24 anos que criou um aparelho que devolve movimentos a quem parou de andar

2 de fevereiro de 2024

Duda Franklin, cientista e fundadora da Orby, teve sua empresa investida pelo fundo do Google para empreendedores negros

No segundo ano do curso de neurociências na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Duda Franklin, que faz parte da lista Forbes Under 30 2023, foi chamada à sala da reitoria. Chegando lá, além do reitor do Instituto do Cérebro, um dos principais centros de pesquisa do país, encontrou também o célebre neurocientista Sidarta Ribeiro. “Os dois estavam esperando para ter uma conversa comigo. Meu coração gelou”, conta Duda,  lembrando do início da sua trajetória como empreendedora e pesquisadora.

Não se tratava de uma bronca, mas de uma correção de rota. Chegou à direção que Duda estava se envolvendo com a pesquisa de sistema embarcado, o que o reitor considerou um desperdício. “Ele me disse que, a partir daquele momento, eu deveria me voltar apenas para a neurociência e aos meus estudos sobre neuromodulação.”

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Ele estava certo em direcionar o foco da jovem cientista. Antes dos 20 anos, Duda Franklin já deixava claro sua capacidade de inovação e criava o protótipo do que hoje é sua empresa, a Orby

A startup produz um dispositivo de neuromodulação não-invasiva, o Ortech, que promete que pessoas que sofreram acidentes e foram parar em uma cadeira de rodas – ou que desenvolveram Mal de Parkinson ou AVC, por exemplo –, voltem a se movimentar. 

Pacientes com disfunções neuromotoras ou que estão na UTI por muito tempo sem se movimentar também são o público-alvo do Ortech, que ajudaria a estimular a musculatura e a reduzir a dependência de opioides no tratamento da dor. Um dos pacientes, que está em fase de testes e que antes usava andador, hoje está caminhando com a ajuda de muletas. Dentro de dois anos, espera-se que volte a andar com alguma autonomia.

O Ortech está em fase de testes também no Hospital do Amor, em Campinas (SP) e no CHN em Niterói (RJ), que pertence à rede DASA. “O aparelho, que cabe na palma da mão, transmite sinais para os neurônios para ativar os movimentos ou modular a dor. São sinais que saem de um computador para o sistema fisiológico do paciente.” 

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Criança atípica e prodígio

Desde cedo, Duda Franklin mostrou que era diferente – e muito acima da média quando se tratava de criatividade e capacidade de pensamento. “Meus trabalhos para a feira de ciências eram protótipos de tomógrafo, por exemplo”, diz. Ela conta também que ser uma criança atípica (diagnosticada com o que hoje se chama de altas habilidades, dentro do Transtorno do Espectro Autista) podia ser motivo de orgulho para a mãe, uma assistente social que incentivou seus estudos, mas não era simples para ela. “As meninas se interessavam por One Direction e eu nunca entendi direito essas paixões adolescentes. Ficava de fora”. 

Além disso, como estudava em um colégio de elite, era uma das poucas crianças sem recursos na turma formada por adolescentes da classe alta. “Sofri preconceito pela minha cor e meu cabelo. Demorei muito pra me aceitar”, diz. E, por conta de mais essa diferença, seu refúgio era no laboratório e nas bibliotecas. Enquanto as colegas falavam de acessórios para o cabelo e boys bands, Duda estava interessada em entender o funcionamento de áreas desativadas do cérebro desde o ensino médio. 

Assim, aos 24 anos, acumula os diplomas de graduação em neurociência e em engenharia biomédica, é mestre em neuroengenharia e em ciência, tecnologia e inovação, além de ter uma formação em empreendedorismo. “Não quis aceitar a ideia de ser uma cientista que fica só dentro do laboratório. Meus ídolos são inventores que criaram empresas, como Steve Jobs”, diz a potiguar, que faz parte do hub de fundadores Microsoft for Startups e, em 2023, teve sua empresa investida pelo fundo do Google para fundadores negros. “Eu me preparei para gerir uma empresa ao mesmo tempo em que trabalho no desenvolvimento de produtos. Eu sei que consigo.”