Líder “grossa” ou “boazinha”, eis a questão?

3 de abril de 2024
GettyImages

Para mulheres que estão na linha de frente da liderança, a solução não está em mudar sua essência ou suavizar sua abordagem, mas em redefinir a narrativa em torno da liderança feminina.

Em uma sociedade que ainda oscila na corda bamba entre a tradição e a inovação, a figura da mulher empreendedora emerge não apenas como um sinal de progresso, mas como um pilar de força inabalável. Porém, mesmo diante de avanços significativos, a liderança feminina é frequentemente confrontada com um dilema que eu diria, no mínimo, antiquado: o de ser percebida como ‘gentil’ ou ‘dura’ na hora de se posicionar. Como se fosse simples direcionar o posicionamento da liderança feminina em caixinhas estereotipadas. Não. A questão não reside na escolha de uma personalidade sobre a outra, mas na percepção distorcida que acompanha a objetividade feminina no ambiente corporativo.

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Hipoteticamente, pense no dia a dia de uma empresária. Aquela que equilibra as demandas do seu negócio com a precisão de um maestro de orquestra, dirigindo sua equipe com clareza e propósito. Agora pense no exato momento em que esta mesma líder organizacional solicita a revisão de um relatório com firmeza e sua abordagem direta é muitas vezes mal interpretada como grosseria. Neste momento eu paro, respiro profundamente e me questiono: Por quê?

Uma mulher no poder é frequentemente julgada por ser direta e ao ponto, e sua assertividade é vista como agressividade em diversos momentos da liderança. Pois é. Este não é um cenário hipotético. Dados de um estudo realizado pela McKinsey & Company em parceria com o LeanIn.Org revela que as mulheres são significativamente menos propensas a serem promovidas para cargos de gestão, em parte devido a essas percepções distorcidas de suas habilidades de liderança. E tem mais, um relatório da Harvard Business Review aponta que as mulheres líderes são mais propensas a serem analisadas negativamente em suas avaliações de desempenho quando exibem comportamentos considerados ‘agressivos’ ou ‘diretos’, em comparação com seus demais colegas.

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Esses dados reforçam que está mais do que na hora de fazer uma reavaliação cultural profunda sobre o assunto. A questão motriz da discussão não é se uma líder feminina deveria ser “grossa” ou ‘boazinha”, mas sim se sua assertividade e objetividade deveriam ser interpretadas de forma negativa. Pense comigo: essa estrutura arcaica que ainda permeia o mundo dos negócios, mesmo em pleno século XXI, cuja objetividade feminina é considerada uma anomalia, em vez de um ativo, é um retrocesso. Para mulheres que estão na linha de frente da liderança, a solução não está em mudar sua essência ou suavizar sua abordagem, mas em redefinir a narrativa em torno da liderança feminina. É sobre possuir sua força e firmeza com orgulho, desafiando as percepções desatualizadas e abrindo novos caminhos para as futuras gerações de mulheres líderes.

A objetividade e a direção clara não são sinônimos de grosseria, ok?! Na verdade, são indicadores de liderança eficaz. Em uma época em que o mundo dos negócios exige inovação, agilidade e decisões rápidas, a capacidade de ser direto é mais valiosa do que nunca. Portanto, para as mulheres em cargo de chefia, a mensagem é clara: sua força não é apenas necessária; é indispensável.

Liderança feminina não é uma questão de ser ‘gentil’ ou ‘dura’, mas sim de ser autêntica e eficaz. À medida que mais mulheres assumem papéis de liderança, elas devem se sentir empoderadas para liderar com sua verdadeira voz, independentemente das percepções desatualizadas. Pois, no final das contas, a verdadeira liderança transcende o gênero, e foca unicamente na visão, na habilidade e na determinação inabalável de levar sua equipe e sua empresa ao sucesso.

Mulheres, abracem sua força e firmeza, não como uma armadura, mas como um sinal de sua liderança inquestionável. Sejamos diretas, não como uma concessão, mas como um compromisso com a excelência e a inovação nos negócios. Afinal, em um mundo que anseia por liderança autêntica, a firmeza feminina não é apenas bem-vinda; é essencial.

Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.

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