Plataformas de inovação entram na luta contra o coronavírus

20 de março de 2020
Forbes

Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups

Desde quinta-feira (18), a 100 Open Startups, plataforma de inovação aberta que conecta empresas e startups, abriu gratuitamente seu sistema para o lançamento de desafios relacionados à crise causada pelo coronavírus. Isso quer dizer que empresas de qualquer porte, governo e sociedade civil do Brasil e da Colômbia, onde o movimento atua, podem acessar a plataforma, mesmo que não seja integrante, descrever um problema que esteja enfrentando ou em vias de enfrentar relacionado à Covid-19 e aguardar propostas de startups que se achem capazes de resolvê-lo.

Inicialmente, foram definidos seis temas principais no que está sendo chamado de Super Desafio Covid-19, mas a ideia é incluir outros nos próximos dias conforme as necessidades forem surgindo. O primeiro está relacionado ao trabalho remoto, uma nova realidade nos tempos de pandemia. Como boa parte das empresas não estava preparada para isso – o que gera uma série de novas necessidades para as organizações e seus funcionários – o objetivo é buscar soluções que atendam a essas necessidades, como ferramentas de comunicação e videoconferência, gestão de tarefas e da equipe, recursos para relacionamento com stakeholders, gestão de documentos e assinatura eletrônica, conectividade, cuidados com os filhos e parentes e gestão de finanças, entre outras.

O segundo desafio passa pela saúde e pelos tratamentos, já que além de avanços em direção à cura e ampliação do acesso ao diagnóstico, o cenário gerou demandas específicas para instituições e profissionais do setor. A meta é encontrar soluções a essas necessidades, como novos princípios ativos, medicamentos e tecnologias em vacinas, recursos para monitoramento de sintomas à distância, gestão e ampliação de leitos, telemedicina, monitoramento de grupos de risco e pesquisa e desenvolvimento de testes e exames, entre outras inúmeras possibilidades relacionadas ao tema.

Em seguida está a busca por soluções para o varejo, comércio e logística, já que a necessidade de controle da disseminação da doença limitou a circulação de pessoas e mudou a rotina de toda a cadeia. O objetivo é minimizar esse impacto, com, por exemplo, plataformas para compra e venda de produtos e serviços por meio da internet, redes sociais e outros canais, recursos de relacionamento com clientes, soluções para sustentabilidade de pequenos e médios empreendedores e empresas, sistemas de delivery, gestão financeira e acesso a crédito.

O quarto desafio está relacionado à resolução de gargalos causados na educação, informação e conscientização, já que a suspensão das aulas presenciais para reduzir a propagação da doença gera necessidades específicas para professores autônomos e instituições de ensino. Paralelamente, há a necessidade de informação confiável e conscientização da população sobre a doença e seus desdobramentos. A busca é por soluções como plataformas de ensino à distância, acesso à informação confiável e soluções para o cuidado familiar, entre outras.

No que diz respeito ao entretenimento, vale lembrar que o isolamento também tem impacto direto sobre artistas, músicos e outros profissionais ligados ao lazer e diversão. O objetivo, neste caso, é encontrar soluções que diminuam esse impacto, como streaming de vídeos, música e outros, comercialização de serviços de artistas e plataformas de crowdfunding.

O último desafio está relacionado à mobilidade, já que o deslocamento da população, especialmente nos transportes públicos, é fator de risco e uma das principais formas de propagação do vírus. A meta é encontrar soluções à mobilidade urbana diante dos cuidados que essa crise demanda, como higienização e prevenção da contaminação no transporte público, formas de transportes alternativos, informações sobre rotas seguras e com menos aglomeração e segurança.

AGILIDADE É PRIMORDIAL

“O que estamos fazendo é disponibilizar a nossa plataforma e metodologia para um tema específico, que, neste momento, é mais importante do que todos os outros”, explica Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, que já conta com uma rede de mais de 10 mil startups e 2.400 instituições, e que vem presenciando um aumento da demanda por soluções emergenciais relacionadas ao coronavírus.

E a proposta é agir com a rapidez que a situação exige. “Vamos fazer a curadoria de centenas de startups levando também em consideração as diversas demandas regionais. Nosso compromisso é divulgar cada desafio cadastrado em até 24 horas para as comunidades de startups e, em outras 24 horas, disponibilizar uma lista de soluções mapeadas e ranqueadas”, explica Rondani. “Acreditamos no poder da colaboração e da rede para enfrentarmos este desafio rapidamente, reduzindo ao máximo seu impacto na sociedade.”

Rondani cita como exemplo uma das demandas vindas do governo colombiano. “Atualmente, estamos tendo a oportunidade de ficar mais próximos das nossas famílias. Queremos que este cenário fortaleça nossos laços, por isso buscamos soluções inovadoras que melhorem as condições de isolamento e distanciamento social”, diz o chamado, já prevendo um provável aumento dos casos de violência doméstica. Outra preocupação é com o cuidado dos idosos. “Cuidar uns dos outros faz parte do nosso DNA. Esta é uma chance de zelar pelas pessoas da terceira idade da nossa comunidade”, diz o documento, em busca de alternativas que garantam a saúde e o bem-estar dessa população sem que ela precise sair de casa.

O executivo revela, ainda, que nas primeiras 24 horas do lançamento da iniciativa, empresas como Latam, Basf e Danone Nutricia já manifestaram interesse nas soluções de uma das 50 startups inscritas no desafio.

Divulgação

Pierre Lucena, presidente do Porto Digital

PERNAMBUCO ENTRA NA GUERRA

Quem está fazendo algo parecido é o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio do MPLabs e da Secretaria Estadual de Saúde, com realização do Open Innovation Lab (OIL), do Porto Digital. A iniciativa pernambucana, batizada de Desafio Covid-19, foi lançada na última terça-feira (17).

Neste caso, são cinco os desafios propostos: como monitorar o principal grupo de risco (acima de 60 anos) e aumentar o nível de proteção e atenção sustentada para esse grupo vulnerável à Covid-19; como gerenciar o fluxo de informações em tempo real de todo o ciclo de vida dos casos epidemiológicos; como monitorar, em tempo real, os fluxos populacionais para identificar, educar e coibir aglomerações ou comportamentos inadequados ou em não conformidade com as determinações de isolamento social; como criar e uniformizar os protocolos de atendimento à saúde em todos os níveis do sistema; e como aumentar a escala (em massa) dos testes de forma rápida, acessível e confiável.

As empresas interessadas em participar têm até às 18 horas de hoje para submeter suas ideias. Até o momento, já são 267 propostas apresentadas, 156 delas analisadas e 37 selecionadas. As startups contempladas terão a mentoria necessária para que possam entregar uma solução inicial e funcional até às 23h59 de segunda-feira (23). As soluções premiadas serão divulgadas até a terça-feira (24), com objetivo de implementação imediata.

“Esse ciclo de inovação aberta é uma grande contribuição para o enfrentamento aos efeitos do coronavírus no Brasil e até no mundo. Nossa ideia, em conjunto com o governo do Estado e o Ministério Público, é disponibilizar as soluções criadas para que o poder público e outras instituições possam utilizá-las para poder enfrentar melhor esse momento crítico. Por isso, queremos contribuições de todo o país para responder aos diversos desafios como telemedicina, por exemplo. Só com a cooperação vamos conseguir resultados mais positivos em um curtíssimo espaço de tempo”, diz Pierre Lucena, presidente do Porto Digital.

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Buser interrompe operações para conter coronavírus

A startup de fretamento colaborativo Buser vai suspender as viagens interurbanas em todas as 60 cidades em que opera a partir de amanhã (21) como forma de ajudar a conter a disseminação do coronavírus no país. A decisão segue o cancelamento da rota Rio-São Paulo na quarta-feira (18). “Este é um momento sem precedentes no nosso país e no mundo”, disse Marcelo Abritta, cofundador da startup de São José dos Campos (SP), em nota.

“Todos os dias surgem novas determinações, e o poder público tem imposto, acertadamente, um número crescente de restrições às viagens. A Buser concorda com a extrema necessidade dessas restrições”, ressalta. Segundo o empreendedor, a empresa, que crescia 30% ao ano, considerou sua responsabilidade para com os clientes, mais também com outros atores do seu ecossistema, como os mais de 1.000 motoristas e parceiros que operam através da plataforma.

A empresa está pronta para retomar as operações “a qualquer momento”, diz Abritta, e está criando um plano de ação para minimizar o impacto da interrupção das atividades para as pessoas envolvidas no funcionamento da Buser.

A startup, que é investida do fundo SoftBank desde outubro do ano passado e anunciou planos na época de investir R$ 300 milhões em sua expansão, não vai buscar apoio do governo mesmo com o impacto sofrido pela pandemia. “Acreditamos que os recursos públicos devem ser destinados à área de saúde, e saberemos lidar com a situação junto aos nossos parceiros de maneira independente”, reitera.

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Telecine incentiva adesão ao streaming em meio à preocupações globais sobre pressão na rede

A plataforma de streaming Telecine está incentivando a adesão ao streaming com a oferta de um período de 30 dias de experimentação gratuita de seus serviços. A empresa oferece um catálogo de mais de 2 mil filmes, de todos os gêneros, entre produções nacionais e blockbusters de Hollywood.

A oferta vem na esteira de crescentes preocupações sobre a crescente pressão na infraestrutura de internet global, trazida pelo isolamento social provocado pelo coronavírus. A permanência das pessoas em casa em vários países causou um uso sem precedentes de plataformas de streaming.

Nesta semana, o comissário europeu de mercado interno da União Europeia, Thierry Breton, tratou do assunto com o CEO da Netflix, Reed Hastings, e pediu que plataformas transmitam em definição padrão ao invés de alta definição (HD), para garantir acesso estável à internet para todos.

Um anúncio também inédito foi feito na Espanha, um dos países europeus líderes em infraestrutura de fibra ótica e provisão de serviços móveis de telecomunicações. Os principais operadores – Movistar, Orange, Vodafone, Masmovil e Euskaltel – divulgaram uma nota revelando que suas redes, tanto fixas quanto móveis, tiveram uma explosão de demanda como resultado do isolamento social.

Procurada pela FORBES, o Telecine diz que não tem planos imediatos de reajustar a definição de suas transmissões. “Até o momento não recebemos nenhum direcionamento ou contato do governo”, afirma Eldes Mattiuzzo, diretor geral da empresa. “Independentemente disso, estamos prontos para colaborar e seguir a determinação das autoridades.”

LEIA MAIS: Telecine desafia as Big Techs: “Somos Golias”

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Criminosos se aproveitam de pandemia para aplicar golpes na internet

Levantamento da Apura Cybersecurity Intelligence, empresa brasileira especializada em cibercrimes, revelou a existência de 2.236 sites com a palavra “coronavírus” no domínio, sem o Certificado SSL, uma espécie de protocolo que atesta a segurança do ambiente. Apenas uma das plataformas que detectam ameaças da companhia já acumula 63.463 eventos (ocorrências) que mencionam a palavra “coronavírus”.

“A alta repercussão mundial sobre a Covid-19 abriu espaço para pessoas mal intencionadas se aproveitaram tanto do caos como da constate procura por informações para disseminarem malwares e ransomwares”, adverte o fundador e CEO da empresa, Sandro Süffert.

Um dos casos detectados vitimou a Johns Hopkins University, dos Estados Unidos. Um mapa com a atualização dos casos do novo coronavírus pelo mundo idêntico ao do site da instituição era enviada por e-mail pelos cibercriminosos. Na mensagem, o mapa exigia download, por meio do qual se escondia um malware, voltado ao roubo de senhas.

Por aqui, um vídeo adulterado sobre a construção do hospital na China erguido para receber as vítimas de coronavírus era enviado por e-mail, como phishing (isca) contendo um malware que, por acesso remoto, permitia aos criminosos acessarem o computador da vítima.

Ainda em território brasileiro, circulam pelo Whatsapp e outros grupos de mensagens informações sobre empresas como a Ambev e Netflix, por exemplo. No caso da primeira, a mensagem é que a empresa está distribuindo, gratuitamente, unidades de álcool gel para quem clicar no “Continue Lendo”. O segundo oferece acesso gratuito às primeiras pessoas que se cadastrarem mediante cliques em links fraudulentos. “É preciso tomar cuidado e nunca acessar este tipo de mensagem”, afirma Süffert.

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MAIS

– O Sebrae e a EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) vão liberar, hoje (20), R$ 2 milhões para o desenvolvimento de soluções tecnológicas para auxiliar o país a enfrentar o avanço do coronavírus em seu território. O aporte será somado a outros R$ 4 milhões da EMBRAPII e a contrapartidas das empresas e recurso econômicos das Unidades EMBRAPII. A expectativa é chegar a R$ 10 milhões em projetos de PD&I. As soluções podem envolver o diagnóstico e o tratamento da doença por meio de tecnologias que incluem softwares, sistemas inteligentes, hardware, peças e equipamentos médicos, entre outros;

– A Positivo As a Service, unidade da Positivo Tecnologia para locação de equipamentos de informática, está flexibilizando o prazo para novos contratos de locação de notebooks. A condição, que antes indicava período de 36 a 60 meses, está adaptada ao novo tipo de demanda das empresas, que estão solicitando períodos menores de locação de computadores, principalmente notebooks, para atender ao aumento da prática de home office;

– A startup Xprajá, especializada em recolocar bens de consumo descartados pelas indústrias, registrou um aumento de 40% na procura por alimentos e produtos de higiene por parte de supermercados e distribuidores. É o caso de itens como biscoitos, sucos e sabonete. Segundo Vinicius Alves, fundador da greentech, o giro no varejo aumentou muito com a proliferação de novos casos de coronavírus no Brasil. Por conta disso, é natural que os estabelecimentos do setor também queiram potencializar esta movimentação criando promoções para o consumidor conseguir comprar por melhores preços.

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