Sem lugar seguro, as mulheres estão sendo obrigadas a permanecer mais tempo no próprio lar junto a seu agressor, muitas vezes em residências precárias, com os filhos e sem renda. Nesta situação solitária, os únicos canais de ajuda tendem a ser digitais, muitas vezes via smartphone.
Segundo um levantamento feito em abril pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido do Banco Mundial, os registros de boletins de ocorrência diminuíram neste período, o que reflete a dificuldade de realizar a denúncia durante o isolamento. No entanto, os números de feminicídio deixam claro o tamanho do problema.
Se os canais oficiais de denúncia não são capazes de traduzir, em detalhes, esta realidade, a internet é. De acordo com um capítulo do levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feito em parceria com a empresa de análise de dados e redes sociais Decode, os relatos de brigas de casais feitos pelos vizinhos no Twitter aumentaram consideravelmente. A empresa coletou um universo de pouco mais de 52 mil menções contendo algum indicativo de briga entre casais vizinhos realizadas entre fevereiro e abril.
Após uma filtragem com foco apenas nas mensagens que indicassem a ocorrência de violência doméstica, resultaram 5.583 menções. Quando analisados, os dados desagregados por mês indicam um aumento de 431% entre fevereiro e abril, ou seja, os relatos de brigas de casal com indícios de violência doméstica aumentaram quatro vezes. Mais da metade (53% dos relatos) foram publicados apenas no mês de abril.
EMPODERAMENTO COM INFORMAÇÃO
“O chat foi lançado em novembro do ano passado com vistas à violência online, como vazamento de fotos íntimas e extorsão”, explica Maira Liguori, diretora de impacto da organização. “No entanto, ao acompanhar o que estava acontecendo nos países que adotaram o isolamento antes de nós, percebemos que seria necessário atuar também nessa frente.”
A Isa.bot, que funciona por meio do Messenger, do Facebook, e do assistente de voz do Google – o que amplia o acesso a vítimas que não saibam escrever com muita desenvoltura – e já atendeu 69.000 mulheres, ganhou novos fluxos de conversa para englobar a violência de uma maneira geral em tempos de pandemia, e não apenas os crimes virtuais.
Maira explica que a ferramenta faz, inicialmente, uma validação da ocorrência, já que, muitas vezes, a vítima não tem clareza daquilo que está vivendo. Uma vez comprovada, a Isa.bot está programada para lidar com três situações distintas. A primeira é no momento da agressão, como um botão de pânico. Neste caso, ela faz o encaminhamento para os serviços públicos ou particulares capazes de lidar com a situação – e que estejam funcionamento durante o isolamento.
Maira ressalta que a tecnologia é uma ferramenta fundamental para lidar com o tema, e que muito ainda poderia ser feito para avançar nesse sentido, como integrar esses mecanismos de denúncia a um registro automático de boletim de ocorrência, por exemplo. Mas alerta que há algo ainda mais importante que precisa ser resolvido: a precisão dos dados.
“Os órgãos e serviços do governo diretamente ligados ao tema não têm um registro fiel das informações e, muitas vezes, elas não são integradas. Há uma dificuldade enorme em conseguir dados. Isso nos faz acreditar numa subnotificação. A nossa percepção é de que apenas 10% dos casos são realmente computados.” E, como num efeito dominó, fica difícil elaborar políticas públicas ou até criar mecanismos de defesa se nem sabemos, realmente, a dimensão do problema.
A VEZ DAS EMPRESAS
A Mete a Colher, startup recifense liderada por Renata Albertim e que já atendeu centenas de milhares de mulheres em situações de risco no país inteiro nos últimos quatro anos, é um exemplo de fornecedor deste tipo de solução.
A startup, que atende mulheres através de canais como redes sociais e aplicativos com acolhimento e informações sobre quais canais de apoio mulheres podem buscar, criou um produto específico para empresas, chamado Tina, que oferece atendimento online para colaboradoras. Clientes da startup incluem Carrefour e Natura – nesta última, o canal digital está disponível para mais de 5 mil mulheres.
“Ajudamos as empresas a acolherem e fortalecerem suas funcionárias e a reforçar o ponto de que elas não serão demitidas por estarem passando por violência em seu lar, que obviamente impacta no trabalho, especialmente durante a pandemia”, aponta.
“Em algumas empresas a chave não virou totalmente, mas a expectativa é que esse apoio dos empregadores continuará crescendo”, ressalta, acrescentando que o foco em saúde mental no home office trazido pela pandemia tornará a questão da violência doméstica, bem como seu impacto no trabalho, ainda mais óbvia para empregadores.
APPS ENTRAM NA LUTA
Na tarde de ontem (6), o Rappi, que entrega os mais variados tipos de produtos, anunciou o lançamento do botão SOS Justiceiras, que funciona dentro do aplicativo.
O grande diferencial do novo botão, segundo ela, é o potencial de alcance. “Hoje, no Brasil, um dos maiores problemas da violência doméstica é o desconhecimento das vítimas de como e onde pedir ajuda. Elas não sabem onde procurar e não possuem conhecimento jurídico sobre o assunto, além da vergonha – a maioria delas não se sente confortável em contar para familiares e amigos. A Rappi decidiu usar todo seu potencial de comunicação para combater à violência doméstica nesse momento em que as pesquisas mostram aumento dos casos.”
Na prática, o botão, ao ser acionado, direciona a mulher para o preenchimento de um formulário simples, que serve para fazer uma triagem rápida para que os profissionais de apoio – das áreas jurídica, psicológica, saúde e assistência social – conheçam a situação. Em seguida, uma das voluntárias do projeto entra em contato via Whatsapp, iniciando assim toda a conversa.
O projeto Justiceiras, como um todo, ainda oferece acolhimento, por isso a ação vem acompanhada da #NãoÉSóDenunciar, reforçando que se trata de uma iniciativa muito mais ampla, já que a vítima encontra suporte em todo esse processo, em um trabalho voluntário de pessoas reais.
“Temos feito autocríticas sobre a utilidade do app, pois apesar de estas ferramentas serem muito legais, não cobrem toda a sociedade”, aponta a fundadora, ressaltando limitações como espaço no celular ou não ter facilidade no uso de tecnologia. “As mulheres normalmente vão optar por aplicativos que são úteis no dia a dia: por isso, nunca deixamos de atender via redes sociais.”
****
Mercado de smartphones enfrenta demanda deprimida
Depois de uma fase inicial de impacto na cadeia produtiva de smartphones, os efeitos negativos da pandemia no setor agora foram transferidos para o lado da demanda, segundo novo relatório da Omdia, empresa de pesquisa do grupo Informa.
No início do primeiro trimestre, a paralisação da produção nas fábricas da China, que interrompeu a fabricação de telefones e seus principais componentes, acertou o mercado de smartphones. No entanto, temores de um fechamento prolongado das operações essenciais de produção, cadeia de suprimentos e logística na China foram atenuados, com sinais que apontam uma retomada de atividade econômica aumentando rapidamente no país.
“Embora as preocupações com a situação [de fabricação dos smartphones] tenham sido atenuadas, as marcas também enfrentaram novos desafios, incluindo cronogramas de lançamento interrompidos para novos telefones”, aponta Jusy Hong, diretor de pesquisa e análise de smartphones da Omdia, em referência aos planos de anúncios de novos produtos interrompidos pelo cancelamento do Mobile World Congress em Barcelona no início deste ano, onde muitas empresas planejavam lançar novos smartphones.
Remessas de smartphones durante os primeiros três meses do ano caíram para 274,4 milhões de unidades, ante 329,9 milhões no mesmo período de 2019, segundo o relatório da Omdia. Essa queda impactou todas as principais marcas de smartphones, com nove dos 10 principais fabricantes vendo suas remessas desabarem em comparação com o primeiro trimestre de 2019.
O relatório nota que em grandes mercados, como os Estados Unidos, medidas mais restritivas de distanciamento social foram anunciadas só nas últimas semanas do trimestre em alguns estados, e o comportamento do consumidor permaneceu irrestrito até então. Mesmo assim, os fabricantes tiveram que lidar com diversos outros problemas nos primeiros três meses do ano, que devem se agravar no restante de 2020.
O impacto do coronavírus no business de smartphones agora tem a ver com o aspecto da demanda. Segundo Hong, embora os aparelhos possam ser produzidos em níveis quase normais, os mercados para esses aparelhos estão passando por algum estado de quarentena.
“Algo bem preocupante para os fabricantes de smartphones é um grande declínio na demanda global devido a medidas de bloqueio de governos”, ressalta Hong. “Alguns países fizeram mais progressos ao lidar com o surto, enquanto outros ainda estão no meio da luta contra a pandemia, e outros ainda não sentirão todos os efeitos da crise até o final do ano”, acrescenta.
“O mercado de smartphones enfrentará grandes lutas no primeiro semestre de 2020, à medida que diferentes países experimentam os períodos iniciais de choque e recuperação em momentos diferentes. É por isso que os [fabricantes] têm mais medo dos resultados de vendas do segundo trimestre”, disse Hong, que espera um início de recuperação do segmento em alguns países e regiões na segunda metade do ano.
A ELAS, startup focada no desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres que desejam assumir posições de destaque nas empresas, em seus negócios e/ou na sociedade, dará acesso gratuito à sua plataforma online. Por lá, alunas e mulheres que tenham interesse em se conhecer melhor, encontrarão diversas ferramentas que a escola já oferece, como por exemplo os workshops de autoconfiança e de influência, ebook sobre síndrome da impostora e uma ferramenta de produtividade que ajuda a gerenciar melhor o tempo.
Começa hoje (6), às 18h30, a versão digital da Brazil at Silicon Valley, conferência idealizada por estudantes brasileiros das universidades de Stanford e Berkeley, na Califórnia. Batizada de BSV Digital, a iniciativa contará com cinco painéis virtuais, sempre às quartas-feiras, com speakers que são referência em tecnologia e inovação, discutindo tendências e como aplicá-las para transformar o cenário brasileiro. No de hoje, a apresentação da consultoria McKinsey, que entrevistou líderes do ecossistema de inovação brasileiro para trazer informações nos campos da economia, inovação, digitalização e empreendedorismo. Em seguida, a BSV Digital apresenta “Unicórnios Brasileiros: Caminhando para uma Nova Economia”, discussão com Cesar Carvalho (Gympass); David Vélez (Nubank), Fabrício Bloisi (iFood) e Vitor Lazarte (Wildlife). O moderador será André Street, cofundador e presidente da Stone. A audiência convidada para a versão presencial da conferência vai receber um link para inscrição e poderá assistir ao painel via Zoom, onde também terão a chance de interagir durante o debate. Os demais interessados poderão acompanhar pelo canal do BSV no YouTube.
Será hoje, às 17h58, no Instagram, a live “Como Desenvolver Mindset de Inovação”, promovida pela HT One, com Solange Mata Machado, pós-doutora em neurociência aplicada aos processos de inovação com especialização em empreendedorismo. Entre os temas, a diferença entre inovação e criatividade e dicas para começar a inovar.
Amanhã (7), a Linx, especializada em tecnologia para o varejo, promoverá, às 15h, uma live com o tema “E-commerce – Direct to Consumer (D2C): Estratégia Volta a Ser Solução para o Cenário Atual”, com a participação de Ronan Maia (Linx) e Rodrigo Motono (E-millennial). Para participar, é só acessar o link.
MAIS:
– Empresas de destaque do ecossistema de startups de Curitiba se uniram para ajudar as comunidades carentes da região a enfrentar a pandemia. Participam da ação conjunta as empresas de tecnologia Bcredi, Contabilizei, EBANX, HeroSpark, James, Juno, MadeiraMadeira, Olist, Pipefy e Rentcars.com. A campanha de arrecadação de recursos Ajude de Casa beneficiará o negócio social Youngers e o Grupo Dignidade, que estão distribuindo alimentos e materiais de limpeza para pessoas em situação de vulnerabilidade. As startups criaram uma página na plataforma EBANX Beep, em que apoiadores podem fazer as doações;
– A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho anunciou na semana passada as 10 startups selecionadas no programa que busca iniciativas de combate aos efeitos econômicos da crise causada pela pandemia. Cada uma delas receberá dois meses de mentoria e aporte financeiro de R$ 100 mil para acelerar a produção de soluções tecnológicas, que sejam aplicáveis imediatamente. As escolhidas são: CAPPTA (meios de pagamento); Data Machina Inteligência em Análise de Dados; P2AS (desenvolvimento de software); RN Costa Pesquisa e Design; Instituto Feira Livre (comércio online); Fofuuu Soluções Tecnológicas para Saúde e Educação; Keepz Consultoria em Tecnologia da Informação; Boomit Inovação e Tecnologia Empreendedora (plataforma de mentorias online); Mova Sociedade de Empréstimo entre Pessoas; Ideias de Futuro (programa de empreendedorismo tecnológico voltado para jovens);
– A Cleveland Clinic, centro médico acadêmico norte-americano com sede no estado de Ohio, e o SAS, especializado em analytics, criaram modelos inovadores que ajudam hospitais a prever o volume de pacientes, a capacidade de leitos e a disponibilidade de ventiladores, entre outros itens necessários ao planejamento de recursos médico-hospitalares durante o combate da pandemia. Os modelos, que estão disponíveis gratuitamente via GitHub, fornecem informações confiáveis para que hospitais e departamentos de saúde otimizem o cuidado das vítimas da Covid-19 e de outros pacientes, e também prevejam impactos na cadeia de suprimentos, nas finanças e em outras áreas críticas. O link onde os modelos estão disponíveis já foi acessado 1,7 mil vezes nas últimas duas semanas.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Tenha também a Forbes no Google Notícias.