Algumas empresas de grande porte se mostram mais propensas, ainda que de forma tímida, a absorver pessoas que querem se manter ativas e têm muito a contribuir para quem as contrata. Além disso, existem exemplos notáveis de pessoas que fazem cada vez mais durante a vida: o ex-âncora do “Jornal Nacional”, Cid Moreira, que anunciou sua startup aos 93 anos de idade, é um deles.
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Em um artigo recente, Almeida (que hoje é professor em Harvard) fala de competências digitais para o Brasil. Entre outras coisas, o artigo publicado com Francisco Gaetani (também ex-secretário, nos Ministérios do Meio Ambiente, Planejamento e hoje professor na FGV) defende a tese de que, para se posicionar bem na economia digital, atrair investimentos e melhorar sua competitividade, o Brasil precisa desenvolver seu capital humano.
E como isso se dá? Primeiro, existe um conjunto de requisitos que os acadêmicos citam como necessários para participar da economia digital. Um deles é o desenvolvimento do “olhar digital” – ou seja, conseguir olhar um problema e achar formas de resolvê-lo ou mesmo de criar novas realidades usando ferramentas digitais.
Segundo os acadêmicos, isso é algo difícil de aprender depois de certa idade. Isso, dizem os autores, ocorre porque muitas pessoas simplesmente não conhecem estas possibilidades digitais apesar de terem um vasto repertório de conhecimentos da vida real. Adiciono aqui a desigualdade no acesso à tecnologia nas classes menos abastadas, que reduz as possibilidades de saber mais sobre as oportunidades da nova economia.
De quem é a responsabilidade de fazer com que essa reinvenção aconteça?
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Além do debate sobre os benefícios de ter diversas gerações trabalhando num contexto digital estar ganhando novo fôlego, há também uma discussão em curso sobre a necessidade de educação contínua. A ideia é que as pessoas desenvolvam uma série de capacidades técnicas e socioemocionais para continuar participando desse admirável mundo novo.
Mais à frente no texto, o especialista nota, citando o psicólogo Herbert Gerjuoy, que “o analfabeto de amanhã não será a pessoa que não sabe ler, mas aquele que não aprendeu a aprender”. Ou seja, ter a capacidade de transitar entre o concreto e o abstrato, lidar com problemas de forma não-óbvia, o famoso “pensar fora da caixa”. Principalmente, inclui a habilidade de aprender sozinho e de forma contínua – o tal do “lifelong learning”, em que se busca, por conta própria, aprender coisas novas ao longo da vida.
Em uma defesa da necessidade de ter uma motivação para aprender e da descoberta do propósito individual, Nakagawa ressalta que muitas pessoas não conseguirão se reinventar por não saberem qual é o seu propósito no mundo.
O texto faz um convite para que pessoas vivenciem outras realidades além da atual, para quem sabe, conseguir encontrar algo que se alinhe a um propósito.
São muitos os exemplos de pessoas que conseguiram se reinventar para continuar, ou mesmo começar, uma nova trajetória profissional em meio a revolução digital, como o de Cid Moreira, que também é influenciador digital. Além disso, existem abordagens defendidas por especialistas como Strack, como o no-code, movimento em que elimina-se a necessidade de conhecimento em programação tradicional para a criação de novos produtos digitais, como aplicativos.
Hoje em dia, é possível cortar caminhos para criar coisas com tecnologia. Estes atalhos, no entanto, não são necessariamente óbvios para todos. Para além da responsabilidade individual e do fato de que as ferramentas estão aí, é preciso considerar os que ainda não conseguem empreender tal reinvenção – e criar condições para mudar estas realidades.
Neste contexto, qual é o papel do governo e das empresas? Me chamou a atenção o ponto levantado por Almeida e Gaetani, de que a revolução digital traz consigo uma urgência que insistimos em ignorar, como se isso nos absolvesse de consequências e responsabilidades. Isso inclui a priorização de competências digitais na agenda de desenvolvimento do Brasil.
Ao invés de aceitar que a tarefa de avançar nas competências para a economia digital recaia nos ombros da academia e do terceiro setor, conforme propõem Almeida e Gaetani, é preciso criar uma situação em que os detentores do poder contribuam para a alteração deste cenário.
Há uma estratégia nacional de inovação em desenvolvimento, que deve endereçar a criação de competências, porém o escopo precisa ir além da criação de talentos em início de carreira. Nesse desenho, é necessário criar meios (mais subsídios, incentivos, cotas?), leis e regulamentações para garantir que todos – incluindo os mais de 14 milhões de desempregados – se mantenham social e economicamente ativos através de empregos na economia digital.
Tudo isso parece evidente e desejável, mas temos uma realidade em que grande parte da população se encontra digitalmente excluída ou quase isso, com uma série de outros fatores que não colaboram para que o Brasil e seus cidadãos acompanhem a revolução digital de fato. Por outro lado, empresas continuam a protagonizar episódios lamentáveis e rotineiros de idadismo, racismo, sexismo e outros tipos de preconceito, desperdiçando o potencial da geração coletiva de valor.
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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