A Mottu tem como público-alvo pessoas que querem trabalhar no aquecido mercado de e-commerce como entregadores, mas não têm condições de comprar a moto para tal. Com o objetivo de “servir os que não são servidos”, a startup aluga motocicletas por uma média de R$ 35 por dia para desbancarizados e negativados e oferece seguro e manutenção, além de plugar seus clientes a uma rede de marketplaces como o Mercado Livre, aplicativos de delivery e varejistas que procuram para aumentar sua capacidade de logística “last mile”.
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Desde seu lançamento, há pouco mais de um ano, a startup levantou duas rodadas seed, a primeira fechada duas semanas antes da pandemia da Covid-19. Esses primeiros investimentos foram liderados pela Caravela Capital e envolveram nomes como Ariel Lambrecht e Renato Freitas, cofundadores da 99 e da Yellow, além de Vélez, que conectaram a empresa a investidores internacionais. Em sua última rodada em maio de 2020, a empresa levantou US$ 2 milhões em recursos, a um valuation de US$ 17 milhões; o mais recente aporte leva a empresa a um nível significativamente mais alto, em ambos os aspectos.
A Mottu iniciou sua operação com menos de 200 motocicletas e atualmente possui mais de 1 mil unidades; todas estão alugadas e a empresa está inundada com a demanda de entregadores de primeira viagem. De acordo com o fundador da Mottu, Rubens Zanelatto, a empresa espera ter uma frota de 10 mil motos até o final do ano e investir em pessoas, bem como em melhorias para o que define como uma plataforma tecnológica que ajuda entregadores a prosperar.
“A maioria das empresas de tecnologia de sucesso apoiadas por VCs no Brasil tem alguma correlação com o que está sendo feito em outros lugares e são muito mais modernas, mais sexy. Estamos fazendo algo realmente diferente para um público que antes era ignorado: isso é o que mais me motiva”, disse Zanelatto, em entrevista exclusiva à Forbes.
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De acordo com o sócio da Base, Fernando Spnola, a empresa adotou uma abordagem inovadora para a questão da logística da última milha, criando uma solução focada no lado da oferta da equação. “Ao colocar o courier no centro [de seu modelo de negócio], a Mottu não está apenas fazendo o bem para eles, mas também construindo uma plataforma para o avanço do comércio online e da logística no Brasil”, observou o investidor, que se tornou parte do conselho da startup.
O crescimento do e-commerce brasileiro que os entregadores da Mottu atendem também salta aos olhos. De acordo com o relatório Webshoppers, da eBit Nielsen, os seis primeiros meses do ano passado somaram R$ 38,8 bilhões em faturamento para as lojas eletrônicas no país, um aumento de 47% em comparação com o primeiro semestre de 2019.
Dado o crescimento que a Mottu tem visto em sua curta trajetória e seus ambiciosos planos de crescimento, uma rodada da Série B pode não estar muito longe. “Queremos construir uma das melhores empresas de tecnologia do Brasil. Para fazer isso acontecer, há muito trabalho e investimentos a serem feitos”, disse o empresário de 34 anos. “Considerando o tipo de investidores que atraímos, muitas pessoas vão querer olhar nossa próxima rodada, mas ainda não dá para dizer quando isso deve acontecer.”
Para cumprir sua proposta de negócio que torna o aluguel de uma motocicleta mais acessível aos trabalhadores da gig economy do que comprar uma – uma moto básica nova não custa menos que R$ 8 mil- a Mottu faz uso intensivo de tecnologia. No entanto, isso não se aplica quando se trata de aceitar clientes com histórico de crédito ruim ou inexistente.
“Se a habilitação [do cliente] estiver OK e com menos de 20 pontos, alugaremos uma moto para ele. Essa pode ser a maior inovação: confiar nas pessoas”, argumenta Zanelatto. Por outro lado, uma vez que o cliente adere ao serviço, a empresa faz uso intenso de telemetria para monitorar e construir um score de veículos e usuários, e para combater roubos.
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Segundo o fundador, que se diz movido pelo propósito de ajudar pessoas a terem melhores chances na vida, o trabalho também busca endereçar complexas questões socioeconômicas. Segundo um estudo da empresa de venture capital Flourish com 500 trabalhadores da chamada economia compartilhada no Brasil, 88% dos entrevistados relataram uma queda significativa de renda após o início da pandemia e medidas restritivas em março de 2020. Além disso, 77% disseram ter visto um declínio em sua qualidade de vida por conta da diminuição da receita mensal e dificuldade em pagar contas. Quase 75% dos entrevistados confirmaram que não conseguiriam ficar um mês sem ter a receita proveniente dos aplicativos.
Olhando para o futuro, Zanelatto espera construir uma trajetória de sucesso, que define como a capacidade de criar valor para os investidores, enquanto “muda a vida de pessoas em quem ninguém tinha acreditado antes” no processo. “As pessoas estão desempregadas e sem chance de encontrar trabalho, pois não têm as competências que a nova economia exige – a Mottu existe para permitir que essas pessoas ganhem a vida. Queremos fazer parte do Brasil que dá certo.”
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