“A pandemia criou um senso de urgência nas pessoas”, diz Márvio Portela, do SAS, um ano depois da crise sanitária

1 de abril de 2021

Márvio Portela, do SAS: resultados acima do esperado apesar do cenário

Divulgação

Márvio Portela, vice-presidente sênior do SAS para América Latina e EUA: resultados acima do esperado apesar do cenário

Caminhar por um túnel escuro com uma lanterna na mão. Para Márvio Portela, vice-presidente sênior do SAS para América Latina e EUA, foi essa a sensação gerada pela pandemia: a incerteza em relação a quanto tempo essa situação iria durar e ao que viria a seguir. “Em fevereiro do ano passado, estávamos em um evento da empresa no Havaí e alguns executivos chineses não puderam participar já em função da Covid-19. Mas, até então, tudo era muito incerto”, lembra.

Agora, um ano depois, apesar de boa parte das incertezas continuarem, principalmente no Brasil, o executivo já consegue vislumbrar alguns acertos e aprendizados. Um deles é que a companhia, especializada em sistemas de analytics, intensificou o relacionamento com os clientes durante a crise sanitária. “Em muitos casos, nós batemos mesmo na porta de alguns deles, principalmente de indústrias mais afetadas pela pandemia, para estender licenças e flexibilizar pagamentos.”

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Portela, no entanto, reconhece que o SAS, assim como inúmeras outras empresas do setor de tecnologia, acabou sendo beneficiado pela crise, não apenas em termos financeiros. “Como as empresas precisavam otimizar e reduzir custos, os dados se tornaram mais imprescindíveis do que nunca para a tomada de decisão. Varejistas, empresas de telecom, bancos – todos eles tiveram que rever seus modelos e seus planejamentos. Pessoas com históricos maravilhosos de pagamento de repente se viram inadimplentes, e as empresas precisaram lidar com isso. Nós, como fornecedores de soluções que apoiam as decisões, criamos abordagens de curto prazo e de baixo valor para atender o mercado”, conta. “Isso fez com que percebêssemos que poderíamos ser muito mais ágeis em alguns processos e lançamos mão da criatividade, que é uma característica dos nossos colaboradores, para criar muita coisa.”

Grupos de trabalho foram, então, definidos internamente para atender a algumas demandas. De um deles saiu a solução de contract tracing – que, baseada em dados, mapeia quantas pessoas foram expostas ao risco por um paciente de Covid-19 – oferecida aos governos, em alguns casos até de forma gratuita. De outro, uma solução para a otimização de camas de hospitais. “Nesse processo, primeiro pensamos em iniciativas que pudessem ajudar a sociedade como um todo naquele momento. Mas, como consequência, também fomos muito beneficiados, porque disso saiu propriedade intelectual que acabou se transformando em novos produtos.”

Segundo Portela, o SAS chegou ao fim de 2020 com novos cases, proposições de valores e estratégias. “Tudo ficou mais rápido e as pessoas foram tomadas por um espírito diferente. Eu sempre preguei a progressão em vez da perfeição. Se estamos num túnel, e não sabemos onde ele termina, não adianta buscar a perfeição. Você está diante de um cenário desconhecido. Então continuar é sempre a melhor opção.”

RESULTADOS ACIMA DO PREVISTO

Embora não divulgue o balanço por país, Portela garante que os resultados de 2020 foram acima das expectativas na América Latina. A receita cresceu, as renovações de licença aumentaram a taxas de dois dígitos – mesma proporção da área de consultoria – e os serviços de hosting foram incrementados em três dígitos, muito impulsionados pela parceria de analytics e inteligência artificial com a Microsoft em junho, para o desenvolvimento de produtos em nuvem para clientes em busca de soluções para iniciativas de transformação digital.

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O executivo credita tudo isso à agilidade da companhia em responder aos desafios. “Nós somos grandes, mas continuamos com espírito de startup. Não somos reféns da burocracia”, diz. Ele exemplifica citando os processos de concepção e implementação de boas ideias. “A melhor sempre ganha, independentemente de ter sido originada nas Filipinas, no Peru ou nos Estados Unidos. O time de marketing do Brasil, por exemplo, é considerado o melhor do mundo. Quando temos uma campanha, ela não entra numa fila para ser analisada pelo board e aprovada. É tudo muito rápido. E, se fizer sentido para outros lugares, é replicado.”

O estilo de gestão do executivo – que faz parte de um rol cada vez maior de brasileiros em posições de liderança fora do país – também contribuiu para atravessar o último ano. “Durante muito tempo eu tive um perfil ‘sangue nos olhos’. Eu segui à risca as orientações de Bernardinho [técnico de vôlei] no livro ‘Transformando Suor em Ouro’. Até que um dia, ao encontrá-lo em um evento, ele me disse que foi obrigado, ao longo da sua carreira, a trafegar da geração ‘sangue nos olhos’ para a geração ‘brilho nos olhos’. Aquilo fez muito sentido pra mim. O mundo mudou e a forma de engajar as pessoas também. Quando se tem um propósito, é muito mais fácil convencê-las a estarem ao seu lado. E quanto mais confortáveis elas estiverem, maior será a entrega e a geração de valor. Para mim, a atitude importa mais do que o conhecimento, a propriedade mais do que o controle e as soft skills mais do que habilidades técnicas. De novo eu prefiro a progressão à perfeição. Quem busca a perfeição está sempre infeliz, porque ela não existe.”

Adepto da máxima “be kind first, be right later” (seja gentil primeiro e esteja certo depois, em tradução livre), o executivo garante que suas portas estão sempre abertas e seu telefone sempre disponível para ouvir as angústias da equipe. “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que tem por trás de algumas decisões. E, quando se aumenta a perspectiva, muita coisa faz sentido. As organizações consomem mais da metade do tempo de seus funcionários em fricções e debates totalmente desnecessários. Eu prefiro que as coisas sejam resolvidas logo, sem dedos apontados, sem exposições desnecessárias, na base da conversa sincera.”

PERSPECTIVAS PARA 2021

Para dar conta das expectativas para este ano, Márvio Portela diz que orientou o time a deixar a autoconfiança de lado e zerar o jogo. “Mas a verdade é que construímos várias pontes ao longo de 2020 e muitos setores com os quais lidamos estão a todo vapor. O mercado financeiro nunca cresceu tanto, o varejo online explodiu. E esses são dois segmentos importantes para o SAS, ao lado do setor público, telecom e manufatura”, diz.

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Em janeiro, revela o executivo, as operações da companhia na América Latina cresceram três dígitos em relação ao mesmo período do ano passado. “A pandemia criou um senso de urgência nas pessoas. Ninguém fica mais esperando as coisas acontecerem”, diz. Portela continua apostando no crescimento do setor financeiro, mas vê uma grande oportunidade também no setor público, inclusive o brasileiro, ávido por reduções de fraudes para melhorar a arrecadação – segmento onde a companhia pode atuar com suas soluções de segurança e prevenção, inclusive de lavagem de dinheiro. E cita, ainda, o agronegócio, área na qual a empresa é forte nos Estados Unidos e tem práticas que podem ser aplicadas na América Latina, aproveitando o imenso potencial do mercado brasileiro no segmento. “O mesmo vale para a área de manufatura, na qual temos atuações expressivas em países como EUA, Coreia, Taiwan e Inglaterra.”

Portela menciona também do setor farmacêutico. O FDA (entidade norte-americana equivalente à Anvisa no Brasil), assim como parte da indústria de fármacos do país, usa soluções de dados do SAS para a tomada de decisão. Com a grande movimentação provocada neste mercado em função da crise sanitária e da produção de vacinas, a companhia começou a ser acionada por um número maior de empresas do setor.

No que diz respeito ao ambiente de trabalho, o executivo diz que o momento atual é de estudo. “Estamos analisando como empregar todo o aprendizado do ano passado para benefício dos funcionários. Como vamos fazer isso, ainda não sabemos. Não é uma resposta fácil”, diz ele, explicando que pesquisas internas estão sendo conduzidas nos escritórios do SAS do mundo todo para traçar os próximos passos do que será o nosso “novo normal”.

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