Agtech que usa drones para controle biológico de pragas cresce oito vezes em 2020

3 de maio de 2021
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Um drone da Sardrones introduzindo agentes biológicos contra pragas na lavoura

Sensores, análise de dados do clima e softwares de gestão de fazendas. Essas são algumas das tecnologias adotadas nos últimos anos para aumentar a produtividade no campo. Mais recentemente, esse arsenal ganhou um reforço de peso: os drones. Usadas no início para fazer fotos aéreas capazes de ajudar a identificar pontos de melhoria na colheita, as aeronaves não tripuladas estão ganhando uma nova função: distribuir e aplicar agentes de controle biológico.

A startup SarDrones, de Ribeirão Preto (SP), é uma das empresas que atuam neste segmento. Fundada em 2018 pelo empreendedor Gustavo Scarpari, a companhia desenvolveu seus próprios equipamentos para dispersar cotesia e trichogramma – dois agentes biológicos registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), muito utilizados no combate de pragas em plantações de cana-de-açúcar.

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Com atuação nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, a SarDrones leva sua solução para, pelo menos, 10 clientes expressivos do agronegócio, como Raízen, Jalles MachadoAdecoagro e BP Bunge. No último ano, a agtech viu o faturamento crescer oito vezes em comparação com 2019. De acordo com Scarpari, a tendência é de continuidade no crescimento. “A meta é dobrar os ganhos em 2021”, afirma. “Nós caminhamos para isso, já que só no primeiro trimestre triplicamos o faturamento [em relação ao mesmo período do ano passado].” Para os próximos cinco anos, o fundador da agtech vai além e projeta que sua empresa aumentará dez vezes de tamanho.

COMO FUNCIONA A SOLUÇÃO

Para introduzir a cotesia e a trichogramma nas plantações de cana-de-açúcar, a SarDrones desenvolveu o seu próprio equipamento, que conta com pequenos compartimentos na parte inferior. Dentro desses contêineres, ficam copos de plástico biodegradável com os insetos que atacam as pragas das lavouras. Durante o voo, as pequenas vespas são liberadas em partes estratégicas da plantação.

A operação necessita de um piloto que comande os drones e identifique os pontos onde os agentes biológicos devem ser liberados. Hoje, a SarDrones tem uma equipe de 11 funcionários, sendo que cinco deles estão habilitados para controlar as aeronaves não tripuladas. “A utilização de cotesia, por exemplo, existe há mais de 40 anos”, diz Scarpari. “Mas o trabalho com ela sempre foi manual. Hoje, o drone viabiliza seu uso de maneira totalmente automatizada.”

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O CEO e fundador da Sardrones Gustavo Scarpari

Antes disso, os copos plásticos eram espalhados pela plantação pelos trabalhadores, tarefa não muito segura. “Muitas vezes, as equipes que entravam no canavial se deparavam com cobras ou enfrentavam temperaturas muito quentes e condições climáticas adversas.” Com a utilização dos drones, os colaboradores podem ser alocados para outras tarefas da produção agrícola.

Conforme os drones sobrevoam a plantação, os dados do voo, assim como da aplicação dos agentes biológicos, são cadastrados no aplicativo desenvolvido pela SarDrones. “Geralmente, as informações do controle biológico eram anotadas no papel”, diz Scarpari. “No aplicativo, eles podem acessar tudo, até mesmo as condições climáticas do dia.”

MERCADO EM CRESCIMENTO

O controle biológico é uma prática que utiliza micro-organismos – como fungos, bactérias e vírus -, insetos ou compostos de origem natural para combater pragas em lavouras. Por serem naturais, esses insumos não deixam resíduos prejudiciais à saúde humana, do terreno e do alimento.

De acordo com a CropLife Brasil, associação de instituições que atuam na pesquisa e desenvolvimento do setor agrícola, o valor deste mercado no país cresceu 40% entre 2019 e 2020, chegando ao patamar de R$ 1,3 bilhão. Segundo a consultoria de inteligência Blink, a perspectiva é de que, até 2030, esse número chegue a R$ 3,6 bilhões, uma expansão de 176% em uma década.

A diretora-executiva de biológicos da CropLife Brasil, Amália Borsani, credita o sucesso desse mercado a um maior conhecimento do produtor rural acerca das defesas biológicas contra pragas. “Há três anos, fizemos uma pesquisa, que indicou que 40% dos agricultores não conheciam os agentes biológicos”, diz. “Hoje, você vai ao campo e vê que o cenário mudou drasticamente. O interesse aumentou muito.”

Segundo ela, o controle natural é um recurso efetivo para evitar que as pragas criem resistência aos produtos químicos, inviabilizando as safras. “É a mesma lógica do uso de antibióticos em nós, seres humanos”, afirma. “O produtor rural precisa variar e usar todas as tecnologias à disposição para ter um controle mais eficiente.” Só em 2020, o Mapa registrou 96 novos agentes biológicos, um crescimento exponencial em comparação a 2010, quando apenas dois foram validados pela pasta.

O POTENCIAL DOS DRONES

Outro mercado que tem grandes perspectivas de crescimento é o de drones. De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC), os serviços realizados por aeronaves não tripuladas têm um mercado total endereçável de US$ 127 bilhões. O setor de agricultura é o segundo gerador de maior receita para a tecnologia, com valor estimado de US$ 32,4 bilhões, atrás apenas do segmento de infraestrutura com US$ 45,2 bilhões.

Para Scarpari, o potencial das aeronaves não tripuladas no agronegócio é grande e sua utilização com agentes biológicos é apenas o começo. “O drone veio para ficar e, no agronegócio, ele já tem feito muita diferença”, diz. “É um equipamento muito versátil.” Segundo o empreendedor, a tecnologia deve, muito em breve, ser adotada também para aplicação de agentes microbiológicos, como fungos, bactérias e vírus.

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