Uber mira delivery de supermercado para manter crescimento

10 de janeiro de 2022

A parceria da Gazit com a Uber Eats envolve criação de áreas específicas para retirada de pedidos em shoppings da companhia

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A partir de março, a Uber Eats deixa de realizar entregas de restaurantes para focar em supermercados e pacotes (Crédito: Getty Images)

O comunicado emitido pela Uber Eats, no final da semana passada, dando conta de que, a partir de março, a plataforma deixará de realizar entregas de restaurantes, veio acompanhado de uma série de análises, suposições e teorias que envolvem até mesmo questões regulatórias. Mas muito além do impacto que essa informação representa para o ecossistema de delivery, ela também aponta para uma movimentação importante dentro deste segmento: o avanço da categoria supermercado entre as plataformas de last-mile.

Ao justificar sua decisão, a Uber Eats afirmou que passa a concentrar o foco em entrega de compras de supermercado e pacotes. Em especial, no caso de supermercado, a empresa conta com a Cornershop. Desde 2020, a Uber mantinha participação de 53% na startup chilena especializada em compras. Em 2021, adquiriu os 47% restantes e passou a ser dona integral do aplicativo. Nos últimos dois anos, e em especial em função do impacto da pandemia no segmento de last-mile, a categoria supermercado tornou-se cada vez mais estratégica. Ela foi, inclusive, o motivo de crescimento de concorrentes como Rappi e iFood, por exemplo.

Esse movimento foi marcado por uma série de aquisições. Em setembro de 2020, o iFood comprou o SiteMercado. E o Rappi potencializou o que já era uma vertical importante com a aquisição da startup Avocado, no mesmo ano. Em agosto de 2021, uma das principais concorrentes do Rappi na Colômbia, a Merqueo, chegou ao Brasil com investimentos de US$ 20 milhões operando, inicialmente, na Grande São Paulo.

Levantamento da Hibou, plataforma especializada em monitoramento de consumo, que mapeou os hábitos de compra em plataformas de delivery, identificou que, em 2020, 51% dos usuários de aplicativos como Uber Eats, Rappi e iFood fizeram compra de supermercado pela primeira vez. A expectativa dessas mesmas pessoas em relação ao consumo de supermercado pós-pandemia era: 25,6% voltar ao hábito antigo, 17,7% manter ao máximo de compras digitais e 40% criar uma rotina hibrida. Já quando os dados foram atualizados em 2021, 80,2% pretendiam manter o delivery como opção de compras pós-pandemia.

“O Uber Eats vai se concentrar no segmento onde eles têm menor participação, que é a entrega de supermercados. Além disso, o ticket médio da compra em restaurante e de supermercado é bem diferente, sendo o segundo mais alto. O ticket médio da Uber Eats durante a pandemia não mudou, enquanto as concorrentes do mesmo segmento cresceram, fato que pode ter sido importante para a decisão, além da aquisição da Cornershop. O setor de supermercado é o maior do comércio varejista e isso justifica a movimentação”, explica Miguel Huertas, professor de Economia da Universidade São Judas.

Novos players e o surgimento de unicórnios

Vale lembrar que, ainda que iFood, Rappi e Uber Eats concentrem volume desta modalidade de compras, existem várias outras plataformas que atuam no segmento. Supermercado Now, Pão de Açúcar Mais, James Delivery e Carrefour são apenas algumas delas. Além disso, essa modalidade também vem atraindo investimentos.

No início de dezembro, a Daki, plataforma de mercado e entrega ultrarrápida, anunciou, junto à JOKR, sua segunda rodada de investimentos no valor de US$ 260 milhões passando a valer US$ 1,2 bilhão e a ser classificada como um unicórnio. A rodada foi apoiada por Activant Capital, Balderton, Greycroft, G-Squared, HV Capital, Kaszek, Mirae Asset, Monashees, Moving Capital, Tiger Global e outros.

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Os fundadores da Daki, Rodrigo Maroja (à esq.), Rafael Vasto (centro) e Alex Bretzner (à dir.), apostam na rapidez da entrega e nos centros de distribuição dedicados para vencer no acirrado ringue dos apps de delivery (Crédito: Divulgação)

“Essa nova rodada veio para acelerar ainda mais nossa expansão no país e cumprir o objetivo de revolucionar o hábito da população em fazer compras de mercado, tornando o varejo cada vez mais espontâneo e prático. Estou muito orgulhoso do que estamos construindo, do time que montamos e do que já alcançamos”, comenta Rafael Vasto, CEO e cofundador da Daki. Para Rodrigo Maroja, cofundador, o encontro de uma solução de tecnologia versátil com uma demanda cada vez maior por conveniência digital é só um, dentre os vários motivos de crescimento. A dupla entrou na lista Under 30, da Forbes, de 2021.

Além da Daki, outros players especializados estão no radar dos investidores. Em dezembro, a Shopper, supermercado on-line, recebeu um novo aporte, desta vez, no valor de R$ 170 milhões. Em outubro, a Favo recebeu aporte de R$ 141 milhões, criada em 2019, a startup opera na região metropolitana de São Paulo e em Lima, no Peru, um modelo de “comunidade de compras”, usando um website e apoio logístico para interligar consumidores a pequenos empreendedores, especialmente em regiões periféricas de grandes cidades.