Falta de chips não tem prazo para acabar, diz diretora da Intel

9 de fevereiro de 2022

Gisselle Lanza: “A demanda por chips seguirá aumentando, mas os investimentos resolverão no longo prazo” (Crédito: Divulgação Intel)

Ao comemorar 35 anos no Brasil, em 2022, a Intel vive o mesmo processo de transformação digital que também afeta seus clientes. O grande desafio é se transformar, ao mesmo tempo em que fornece tecnologias fundamentais para a mudança de várias outras indústrias. Este contexto, no entanto, vem sendo ainda mais acelerado desde fevereiro do ano passado, quando Pat Gelsinger assumiu globalmente a companhia e se propôs a criar novos modelos de negócios além de focar na “digitalização do todo”, em outras palavras, tecnologias que incluem internet das coisas, inteligência artificial e computação em nuvem.

Na Intel há 23 anos e responsável pelos negócios na América Latina antes de assumir a direção geral da empresa no Brasil, Gisselle Lanza reforça à Forbes Brasil os novos focos de negócios da companhia e explica o motivo pelo qual a escassez global de chips ainda não tem data definitiva para terminar. “Várias novas indústrias, entre elas a automotiva, por exemplo, vêm demandando semicondutores, o que naturalmente deu início a essa crise que é de alta demanda e global.”

Gisselle já foi mentora do Programaria, plataforma de inclusão de mulheres na tecnologia que também já teve a Intel como parceira. Para a executiva, quanto mais iniciativas, público e privadas, que ampliem acesso de mulheres e de maiorias subrepresentadas na tecnologia, será mais fácil de lidar com todas as transformações tecnológicas e comportamentais que estão por vir.

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Forbes Brasil: Qual o momento da Intel no país e de que maneira ele vem refletindo as mudanças de gestão trazidas pelo novo CEO?
Gisselle Lanza: Globalmente, estamos vivendo um momento muito positivo, sobretudo há um ano da chegada do Pat. Quando ele assumiu, tivemos a oportunidade de revisitar estratégia. Ele trouxe uma velocidade para a transformação da empresa e redefiniu a forma como olhamos para a área de negócios, com foco em agilidade, inovação e novos mercados. Esse movimento trouxe um novo ritmo cujo impacto direto é a geração de novos negócios e mais colaboração e parcerias globais, além do fortalecimento da atuação regional em um mercado tão importante que é o brasileiro.

FB: O que há de oportunidades e desafios nesse movimento?
GL: Neste contexto, nossa estratégia, cada vez mais, está na digitalização do todo, um conceito que vai mudar o mundo. Ele traz oportunidades e desafios. Oportunidade pelo fato de que tudo é digital e vai demandar semicondutores, o que aumenta o papel de empresas como a Intel. E desafios porque, naturalmente, teremos que continuar navegando na mudança da maneira como as pessoas estudam, trabalham, vivem e se comunicam. Existem oportunidades enormes em vários segmentos, de saúde a agronegócio passando por games. A digitalização vem acontecendo de forma importante na vida do consumidor final. Adoção de cloud é um exemplo e, nesta tecnologia, o Brasil está entre os 10 maiores mercados de consumo do mundo e um dos que mais crescem. Além disso, temos também a evolução da indústria 5G no Brasil.

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FB: Como é ser uma empresa que está se transformando, mas que tem como missão transformar digitalmente outras companhias?
GL: As duas coisas precisam caminhar juntas. No final do dia, temos inovação como DNA. A Intel é uma das fundadoras do Vale do Silício e precisa continuar inovando. Ao mesmo tempo em que parte da inovação é originária de nossos clientes, isso sempre tem que estar muito presente no dia a dia. A transformação digital tem o aspecto de tecnologia como eixo central, mas é principalmente cultural. Você não abraça esse processo sem cultura. Então, estamos nos transformando não só do ponto de vista de novos negócios e mercados, mas também culturalmente. E nessa transformação estamos resgatando valores antigos.

FB: A crise de semicondutores afetou várias empresas e mercados no ano passado, da Apple às montadoras, quais as perspectivas e por que ainda atravessamos esse momento?
GL: Novas indústrias  estão demandando semicondutores. A automotiva, por exemplo, vem precisando cada vez mais, considerando, inclusive, que um automóvel hoje é, literalmente um smartphone sobre rodas. Em alguns anos, 20% dos carros serão compostos por chips e isso explica, em partes, essa alta demanda que continuará aumentando. Acreditamos que, no longo prazo, a situação deve ser amenizada, principalmente pelos investimentos que começaram há alguns anos em estrutura e que vão contribuir para sanar essa crise.

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FB: Quando você fala do foco da Intel em digitalizar o todo, qual o contexto do Brasil?
GL: O Brasil tem uma população relativamente jovem e muito aberta a novas tecnologias. É um país digital. Quando olhamos o crescimento de Facebook, Instagram e mesmo as plataformas de pagamento digital, é possível perceber que o nível de adoção aqui é muito rápido. Ou seja, a população brasileira é digital. E isso é muito importante, por que quando pensamos na adoção de novas tecnologias, é sobre ter a mentalidade digital e, sobretudo, talento para dar conta desse ecossistema em formação. Naturalmente, temos que investir em treinamento e capacitação, mas esse aspecto cultural de adoção de tecnologias digitais ajuda muito. Por outro lado, do ponto de vista de IoT, 5G, nuvem e inteligência artificial, o Brasil ainda é emergente e tem muito a crescer.

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Com o aumento da demanda por chips, as empresas de tecnologia lidam com as consequências diretas, mas vislumbram oportunidades no longo prazo (Crédito: Getty Images)

FB: O 5G, bem como a junção de todas essas tecnologias, nos trará uma nova revolução digital?
GL: Serão mudanças importantes na saúde, educação, no agronegócio ampliado e na própria indústria. São quatro verticais que olhamos de forma muito estratégica e que puxará o desenvolvimento desse ecossistema local e nos ajudará a avançar de forma mais rápida. Do ponto de vista de revolução, existe o que chamamos dos quatro poderes: nuvem, 5G, inteligência artificial e IoT, são tecnologias que já estão remodelando todos os aspectos da nossa vida, desde a forma como trabalhamos.

FB: O mercado gamer vem crescendo de forma considerável nos últimos anos, mesmo não sendo uma indústria nova, neste sentido o que ele representa?
GL: É um segmento super importante, se pensar em tudo que já investimos em termos de novas experiências e produtos não só para gamers, mas também criadores de conteúdo, fica clara a importância dessa indústria. Junto com isso lançamos uma nova marca, a Intel Arc, para complementar nossa família de produtos. E aqui tem algo bem importante, temos um grupo de 7 brasileiros que estão trabalhando globalmente para desenvolver novas tecnologias de games . Isso foi algo que o trabalho remoto proporcionou e que vem fazendo não só com que o mercado local seja representado, mas que tenhamos, globalmente, nova vivências, perspectivas e profissionais de repertórios diferentes atuando.