“É crescente o interesse pela cultura afrourbana”, diz fundador da Trace

4 de outubro de 2022

Olivier Laouchez, fundador e CEO da Trace

A Trace, plataforma de conteúdo voltada à cultura afrourbana, chegou ao Brasil em 2019, fruto de uma parceria entre o canal criado na França em 2003 e investidores locais. Desde então, o hub se expandiu, ampliou o número de parceiros, entre eles o Globoplay, e já contabiliza 6,2 milhões de brasileiros em sua audiência. À Forbes Brasil, Olivier Laouchez, fundador e atual CEO da Trace, fala sobre os aprendizados com o mercado local e os resultados destes últimos anos.

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“A Trace já atinge 350 milhões de usuários globalmente e nós tínhamos identificado que o Brasil deveria ser uma prioridade dada a importância da população brasileira de origem africana. Após Zizo Papa (José Papa Neto) se tornar nosso parceiro e chefe de nossas operações brasileiras em 2018, houve uma aceleração maciça. Nomeamos uma equipe brasileira completa baseada em São Paulo, com grande experiência neste mercado. Para citar apenas algumas delas, além de José, AD Junior, Alberto Pereira Jr, Danilo Lima e Kenya Sade que começou como assistente administrativa e agora é uma jornalista e apresentadora reconhecida e apontada como uma das maiores revelações na TV”, relembra Olivier.

Forbes Brasil – Pode dar uma perspectiva desses últimos anos de Trace no Brasil?
Olivier Laouchez – O projeto da Trace Brasil era necessário e aguardado há muito tempo. Nas últimas duas décadas, a Trace tem mostrado antes de qualquer outro projeto audiovisual no mundo, o quão determinante é a cultura afrourbana para definir as macro tendências através da cultura periférica. Trace Brasil pode legitimamente ser considerado um pioneiro no cenário audiovisual brasileiro. A primeira plataforma de cultura afro urbana no maior país negro do mundo fora da África.

FB – O que vocês identificaram em relação ao consumo de conteúdo com narrativas da população negra?
Olivier – Sabendo que o DNA brasileiro é resultado da mistura de diversas origens, incluindo a África, era incompreensível não ver as verdadeiras raízes e herança do país corretamente representadas na TV. Ser o primeiro a se mover para mudar essa realidade em um país que tem uma longa tradição na mídia, não foi uma tarefa fácil. Nossa posição foi consolidada quando a Trace Brasil antecipou no início de 2019 alguns dos principais movimentos globais (Identity, #meetoo, Black Pride, diversidade e inclusão) que definiram temas que irão impactar significativamente as gerações futuras. Temas que têm estado no centro da jornada da Trace nas últimas duas décadas.

FB – Do ponto de vista de produtos e tecnologia, como vocês evoluíram?
Olivier – Estamos fortalecendo cada vez mais nossa ideia de um ecossistema que entretém e desenvolve a juventude negra e periférica do Brasil. Somos uma multiplataforma que se comunica com seu público por diferentes canais como programas como o Trace Trends hoje na TV fechada e digital e no streaming, o canal a cabo Trace Brazuca com 24 horas de programação focada na cultura afrourbana, e o Trace Academia nossa inovadora plataforma de desenvolvimento vocacional, além das redes sociais (no Instagram) e branded content para marcas. Começamos com um programa na TV aberta e migramos para TV fechada com o maior grupo de comunicação do país que é a Globo, trazendo para o Multishow e Globo Play o Trace Trends e essa aceleração nos fez melhorar muito, desde as pautas que ficaram mais fluidas, por conta da experiência que fomos adquirindo e a nossa forma de comunicar ficou mais objetiva.

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FB – Quais os perfis de consumidores dentro do recorte que a Trace atinge?
Olivier – 60% do público é feminino e 40% masculino. Nosso principal público são jovens negros e periféricos, a juventude afrourbana que é o retrato do Brasil real com toda a sua pluralidade. A idade equivale entre 15 a 19 anos (11.6%); 20 a 24 (13,5%); 25 a 35 (35,8%); 35 a 39 (20,1%) e 40 a 55 (19%). Com esse recorte, conseguimos alcançar a grande maioria da população do país, pessoas que estão buscando se ver representadas a também ter acesso a produção artística do país fora do mainstream. Isso se reflete também no interesse pela cultura afrourbana ao redor do mundo. Hoje, a Trace proporciona para sua audiência acesso aos melhores conteúdos e artistas afrourbanos do mundo.

FB – Quais os planos futuros?
Olivier – Temos como missão da Trace Brasil entreter e capacitar a população. Para executar esta missão, identificamos duas prioridades de investimento no Brasil: conteúdo e digital. Todos os nossos planos no país estão focados nestas prioridades. O que irá se traduzir no aumento da produção de conteúdo original, investindo em canais de comunicação para geração de conversas com a audiência, na ampliação das soluções oferecidas às marcas, mais plataformas digitais e mais eventos. Estamos bastante animados com os primeiros feedbacks que recebemos do mercado quando apresentamos o piloto de nossa plataforma Trace Academia, que é o primeiro aplicativo digital a oferecer cursos de treinamento profissional gratuitos relacionados ao empreendedorismo, Soft e Hard Skills para geração de oportunidades no mercado de trabalho. Portanto, nosso plano para 2023 inclui uma aceleração maciça da Trace Academia no Brasil.