Como tirar o melhor 2022: o mindset e as tendências do Vale do Silício

27 de dezembro de 2022
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Ano de 2022, mesmo com crises, deixa lições e oportunidades

Após anos de curva positiva, recordes de investimentos, disrupções tecnológicas e massificação de consumo digital, os ventos mudaram. Vimos uma avalanche de demissões, down rounds, e até mesmo uma penumbra de pânico no mundo tech. Adicione a isso o fantasma da recessão e a troca de mãos do governo no Brasil. A cena não é animadora. Mas lembremos que toda crise oferece oportunidades. Convido o leitor a vir comigo numa análise de tendências e oportunidades sob a ótica do novo normal e dos layoffs.

O contexto global, a grosso modo, pode ser resumido com as notícias sobre a compra do Twitter e o imediato corte de pessoal pela metade. Amazon, Meta, e Google enxugaram seus times em dois dígitos. Os unicórnios brasileiros estão na segunda ou terceira leva de layoffs. E aqui no Vale há um consenso de que as empresas continuarão a reestruturar seus times. Com mais de 150 mil demissões no mundo, de acordo com o site LayoffsTracker, como dar suporte e potencializar o talento de quem ficou e de quem está a procura de novas oportunidades?

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Alguns fatores sobre o novo normal, ou seja, o trabalho híbrido ou remoto, irão ganhar mais espaço em 2023. Vejamos algumas tendências:

• Supervisão do trabalho remoto: à medida que o trabalho flexível se torna a nova norma, 60% das empresas com funcionários remotos estão usando software de monitoramento para rastrear a atividade de seus colaboradores. Outros 17% estão considerando adotar a prática, de acordo com uma pesquisa da Digital.com. Com base na pesquisa mais recente da Spherical Insights & Consulting, o mercado global de software de monitoramento foi avaliado acima de US$ 1 bilhão em 2021 e deve passar de US$ 2 bilhões em 2030. O perigo aqui está na crescente “paranóia” e o aumento de estresse mental que ficou mais exacerbado durante e depois da pandemia. Ainda sem regulamentação, práticas de monitoramento irão ganhar os holofotes legislativos.

• Equilíbrio físico e mental: falamos muito sobre isso desde a pandemia, porém, apesar de as empresas estarem atentas, ainda precisamos criar hábitos e rituais para equilibrar quatro pilares: qualidade no trabalho remoto (suporte com hardware, internet, mesa e cadeira), conexão com o time e com a natureza, e exercício físico. São pilares que tínhamos com mais naturalidade antes do trabalho remoto. De acordo com uma pesquisa da Gympass nos EUA, 48% dos funcionários que utilizam a plataforma sofreram declínio no seu bem-estar em 2022. Drasticamente, 28% reportam ser muito infelizes no trabalho. Não é surpresa que, com a onda crescente de burnout, os empregadores veem o apoio ao bem-estar mental de seus funcionários como uma prioridade, especialmente porque o esgotamento é uma das principais razões pelas quais os funcionários deixam seus empregos.

• Metaverso no trabalho: com muita controversa, cresce a aposta do metaverso como ferramenta de trabalho, seja remoto ou no próprio headquarter. A experiência imersiva de colaboração conta com investimento de importantes players como o Meta e seu Horizon Workrooms, Microsoft com a plataforma Mesh, e também a NVidia provendo a Omniverse. Vale dizer que a plataforma de video-call Zoom vem lançando features durante esse ano para sustentar seu crescimento meteórico desde a pandemia. Numa visita ao headquarter em San José, o head internacional Abe Smith apresentou uma demo completa sobre os planos para que o Zoom se torne omnichannel e não perca tração frente às novas tecnologias, como o metaverso. Confesso que não estou totalmente convencida de que o arsenal-Zoom desenvolvido para essa guerra será suficiente para enfrentar os pesos-pesados veteranos.

• Sob a ótica dos layoffs, no entanto, o fator mais importante é o papel das empresas no upskilling e reskilling da sua força de trabalho. Com times enxutos, margens desafiadas pela inflação, e a concorrência acirrada, os líderes de RHs ganham mais voz no planejamento estratégico. O argumento é simples: temos que fazer mais com o time que temos. Com as ferramentas e cuidados acima mencionados, a pergunta mais relevante é: Como melhorar a performance do time que já sofreu reduções drásticas e precisa, a todo custo, se aprimorar e se requalificar para entregar os resultados da empresa? Como aumentar o ROL – Return On Learning? O investimento em upskilling e reskilling vem crescendo 17% por ano desde 2018, de acordo com a Harvard Business Review.  A tendência é que esse número só aumente com os times mais enxutos e com mais expectativas.

Muito se fala sobre manter o engajamento no trabalho e, com o ano novo ali na frente, esse é um excelente momento para implementar a cultura de lifelong learning. Estimular o time que você escolheu para continuar na sua empresa significa uma oportunidade em criar mais foco na disciplina financeira. Todos nós queremos o lucro sustentável para os próximos semestres, sem dúvida. O modus operandi do trabalho remoto é um exemplo de ressignificação de acesso a talentos, otimização de recursos e eficiência de produtividade. Se você entrar no ano novo olhando para dentro, criando relacionamentos genuínos, utilizando as ferramentas que mais se adaptam a sua cultura, as chances de vencer em 2023 são muito maiores. É hora de cuidar, mais do que nunca, das pessoas que estão com você nessa jornada, e todos, sem exceção, tem muito que aprender, colaborar, apoiar, e melhorar. Seja o líder que decide, que ouve e que entrega, esse é o melhor mindset para 2023. Feliz ano novo, até janeiro.

Iona Szkurnik é fundadora e CEO da Education Journey, tem mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford, é cofundadora da Brazil at Silicon Valley, fellow da Fundação Lemann e ganhadora do prêmio Start-Ed de Empreendedorismo em Educação e Tecnologia da fundação.

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