O que levou a AB Inbev a lançar um criptogame?

13 de dezembro de 2022

Adi Abili, head de Web3 da AB Inbev para marcas não alcoólicas

Games que têm blockchain como base, ou criptogames, essa modalidade que vem crescendo de forma expressiva é um elemento importante da chamada Web3. Recentemente, diversas plataformas, jogos e iniciativas voltadas a esse ecossistema surgiram. Os projetos não são apenas de empresas orgânicas do mundo de games ou criptomoedas, mas incluem outros tipos de companhias, em alguns casos, até outsiders da tecnologia, como a AB Inbev.

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A empresa criou o Titans of Ereo, um jogo desenvolvido 100% no Brasil e em NY com foco no mobile. Ele tem como base os NFTs que podem ser adquiridos pelos usuários e que também representam elementos de performance no game. Desde que foi lançado, em novembro, os ativos do jogo já valorizam mais de 400%. Mas, na prática, o que faz uma companhia de bebidas investir nessa modalidade? De acordo com Adi Abili, head de Web3 da AB Inbev para marcas não alcoólicas, o universo de Web3, ainda que com todos os seus desafios, segue crescendo e representa grandes oportunidades.

Forbes Brasil – O que motivou a empresa a explorar a Web3?
Adi Abili – Temos explorado a Web3 estrategicamente como uma empresa nos últimos 18 meses e, apesar da recente recessão, vemos uma grande tendência geral de alta nesse espaço e a oportunidade que a Web3 apresenta. Não estamos apenas testemunhando produtos Web3 como NFTs ou mundos imersivos, mas também vendo uma enorme construção e desenvolvimento na infraestrutura que suporta esses aplicativos. Podemos apontar muitos casos de uso que fazem sentido para nós, como uma empresa global, explorar. Comunidades nativas da Web3 e a capacidade de ter interações 1:1 por meio do Discord, como exemplo, é um espaço que estamos aprendendo. Após um mergulho profundo, e aproveitando o tempo para ver o que poderíamos oferecer e onde encontramos o que acreditamos ser a aplicação mais forte do Web3, nos acomodamos perfeitamente nos jogos.

O CryptoTitans foi lançado em novembro e seus ativos vêm apresentando valorização expressiva

FB – Na prática, o que esse ecossistema apresenta de oportunidades?
Adi – Quando falamos de Web3, estamos testemunhando uma mudança na forma como interagimos com a tecnologia, como nos comunicamos e socializamos, como nos comportamos no mundo. Queríamos entender e ver se poderíamos fazer parte disso. O que sabemos é que com essa mudança, vem uma nova dinâmica do consumidor, um novo consumidor com o qual devemos aprender a falar. A linguagem do novo consumidor Web3 digitalmente nativo. O mercado se apresenta. Se você olhar para a interseção de Gaming e Web3, houve expansões significativas em milhares de % nos últimos 5 anos, com muito mais crescimento previsto e investimento sendo colocado nesse espaço nos próximos 5 a 10 anos. Temos vários exemplos de tecnologia forte dentro da empresa. Bees é uma plataforma de comércio eletrônico B2B que construímos totalmente internamente, portanto, a inovação técnica sempre fez parte de nossa estratégia de longo prazo como empresa. O espaço Web3 está surgindo, mas ainda tem uma forte barreira à entrada que planejamos reduzir fortemente com CryptoTitans. Um jogo fácil de usar, com transações acontecendo em nosso próprio mercado, com jogabilidade diretamente em nosso site CryptoTitans.

O jogo foi desenvolvido 100% por uma equipe brasileira e outra em NY

FB – Quais as possibilidades você enxerga hoje entre o mundo dos NFTs e blockchain e os negócios da empresa?
Adi – Isso realmente se resume a entender qual é a proposta de valor para cada um. Existem aplicações tecnológicas e alianças comerciais e fortes de marketing. Claro, por causa do que estamos construindo com CryptoTitans, vemos oportunidades com nossas marcas sem álcool e colecionáveis digitais: especialmente quando você começa a pensar em lealdade e recompensas. Como uma tecnologia, blockchain pode ser realmente de grande alcance. Não é algo que estamos buscando ativamente, mas vemos avanços tecnológicos que podem ser aplicáveis a uma empresa como a nossa, como cadeia de suprimentos ou gerenciamento de dados.

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FB – Como surgiu a ideia de criar um jogo e como foi o processo de criação?
Adi – A premissa de seguirmos a rota do mundo dos jogos está ligada a ativos digitais e propriedade. Com a introdução do Web3 nos jogos, um jogador agora pode possuir esses itens do jogo, como personagens, skins, itens, armas, e trocá-los sempre que quiser por um preço no mercado. O processo de criação foi desafiador, mas extremamente gratificante. Não tínhamos nada. Tínhamos uma pequena equipe interna que acreditava no poder da Web3 e dos jogos, e aderimos totalmente à ideia dos CryptoTitans. Tudo o que você vê em termos de IP do CryptoTitans foi criado internamente por uma pequena equipe baseada no Brasil e em Nova York. Começou com uma visão. Dedicamos um tempo para criar por que os personagens estariam lutando. A história fala de uma batalha épica em curso entre as duas facções, Chaos e Order, e a luta pelo domínio dentro deste mundo. Nós mesmos criamos todos os personagens. Cada um dos 8 Titãs primordiais tem personalidades diferentes, todos ocupam uma parte diferente deste mundo. E aí vem o jogo em si, quando você tem a história, você tem a ideia, você precisa do desenvolvimento técnico e do design. Este processo envolveu muitas pessoas e aspectos diferentes, desde especialistas em animações, designers de jogos, desenvolvedores, produtos, engenheiros de som, artistas, todos reunidos sob a visão de um jogo de cartas de batalha estratégico. O processo de criação está em constante evolução, e para nos ajudar temos nossa comunidade.