É justamente nesta lacuna que entra a Jobecam, startup de tecnologia que viabiliza o modelo de entrevistas ocultas, ao conectar pessoas candidatas a empresas por meio de vídeo recrutamento e uso intensivo de IA. Com exclusividade , a startup revelou que acaba de receber um aporte de cerca de R$ 2 milhões do Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID Lab). A seleção foi feita a partir de uma convocatória com foco em gênero e inteligência artificial, que teve a colaboração de gigantes de tech como Accenture, Amazon Web Services, Globant, Microsoft e Oracle.
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Liderada pela CEO Cammila Yochabell, a HRtech está entre as 11 soluções de diferentes países latino-americanos que utilizam IA para ajudar a reduzir o preconceito, discriminação e vieses na seleção de talentos, selecionadas pelo BIDLab. O financiamento de contingência a fundo perdido vai apoiar o desenvolvimento tecnológico da Jobecam e ajudar a consolidar a startup no Brasil, cujo produto já é utilizado em plataformas de atração e recrutamento como Success Factors, da SAP.
A Rumo Futuro falou com Yochabell sobre o uso de IA em processos seletivos e temas como avatarização e ética. Veja, a seguir, alguns trechos da conversa:
Rumo Futuro: Como o uso de IA no recrutamento tem avançado e auxiliado nos objetivos de impacto social da empresa?
Cammila Yochabell: Dentre os desafios do laboratório, as propostas de soluções deveriam ser novas, de natureza inovadora e baseadas no desenvolvimento da IA para reduzir lacunas, vieses e discriminação por motivo de sexo e gênero. Outro desafio era promover a inclusão social e econômica das populações pobres e vulneráveis da América Latina e do Caribe e estar centradas em temas, como: educação, talento e emprego. As propostas precisavam estimular a participação das mulheres nas áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas, na sigla em inglês), promover o emprego e o talento feminino ou definir modelos de seleção de pessoal sem vieses.
RF: Quais são as complexidades na integração de IA e outras técnicas ,como avatarização, no produto? Como vocês têm contornado isso?
CY: Os nossos avatares não são gerados em tempo real como em muitos aplicativos que vemos por aí, tivemos o cuidado e carinho de criar avatares personalizados e representando a pluralidade de pessoas. Por isso, só aplicamos uma “máscara” em pessoas candidatas quando entram na sala ao vivo.
Todo o conceito dos avatares 3D e a concepção do projeto foi gerada para causar um impacto positivo para as pessoas usuárias. Hoje, temos 12 avatares dinâmicos 3D, e quando a pessoa candidata entra na sala, a escolha do personagem é randômica e ela automaticamente vira um avatar de algum grupo minoritário. É dinâmico, quebra o gelo e o nervosismo na entrevista e é divertido: afinal, quem foi que definiu que uma entrevista de emprego precisa de tanta pressão?
YC: Nossa maior preocupação é relacionada a como nossa inteligência artificial pode ser usada de forma preconceituosa, apesar de ser desenhada para o inverso. E é pelo mesmo motivo que ganhamos a convocatória de gênero do BID e recebemos o investimento deles. Eles nos avaliaram e nos viram como uma ferramenta potencial para de fato acabar com esse uso discriminatório, e viram que é possível entregar mais ética na IA.