Militares e governo da China compram chips da Nvidia

15 de janeiro de 2024
Placa com chips da Nvidia - Foto: REUTERS

Placa com chips da Nvidia – Foto: REUTERS

Órgãos militares, institutos estatais de pesquisa de inteligência artificial e universidades da China compraram, no ano passado, pequenos lotes de microprocessadores da Nvidia, cuja exportação para o país asiático foi proibida pelos Estados Unidos, segundo uma análise de documentos de feita pela Reuters.

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As vendas realizadas por fornecedores chineses, em grande parte pouco conhecidos, destacam as dificuldades que Washington enfrenta para cortar completamente o acesso da China a chips avançados produzidos por empresas norte-americanas. Washington tenta retardar os avanços de Pequim nas áreas de inteligência artificial e desenvolvimento de computadores sofisticados.

A compra ou venda de chips avançados dos EUA não é ilegal na China e os documentos de licitação disponíveis publicamente mostram que dezenas de entidades chinesas compraram e receberam semicondutores da Nvidia desde que as restrições foram impostas.

Isso inclui os chips A100 e H100 da Nvidia – cujas exportações para a China e Hong Kong foram proibidas em setembro de 2022 – bem como os chips A800 e H800 mais lentos que a Nvidia desenvolveu para o mercado chinês, mas que também foram proibidos em outubro passado.

Os chips gráficos da Nvidia são amplamente considerados como muito superiores aos produtos rivais para aplicações de inteligência artificial, pois podem processar com mais eficiência grandes quantidades de dados necessários para tarefas de aprendizado de máquina.

A demanda contínua e o acesso aos chips proibidos da Nvidia também destacam a falta de boas alternativas para as empresas chinesas, apesar do desenvolvimento incipiente de produtos rivais da Huawei e outras companhias. Antes das proibições, a Nvidia detinha uma participação de 90% no mercado de chips de inteligência artificial da China.

Os compradores na China desses chips incluíram universidades de elite, bem como duas entidades sujeitas a restrições de exportação dos EUA – o Instituto de Tecnologia de Harbin e a Universidade de Ciência e Tecnologia Eletrônica da China, que foram acusadas de envolvimento em questões militares ou de serem afiliadas a um órgão militar contrário ao interesse nacional dos EUA.

A primeira entidade adquiriu seis chips Nvidia A100 em maio para treinar um modelo de aprendizagem profunda. A segunda comprou um A100 em dezembro de 2022. Nenhum dos compradores mencionados neste artigo respondeu a pedidos de comentários.

A análise da Reuters constatou que nem a Nvidia nem os varejistas aprovados pela empresa estavam entre os fornecedores identificados. Não ficou claro como os fornecedores adquiriram seus chips Nvidia.

No entanto, na esteira das restrições impostas pelos EUA, surgiu um mercado clandestino para esses chips na China. Os fornecedores chineses já haviam dito anteriormente que eles pegam o excesso de estoque que chega ao mercado depois que a Nvidia envia grandes quantidades para grandes empresas dos EUA, ou importam por meio de empresas incorporadas localmente em lugares como Índia, Taiwan e Cingapura.

A Reuters solicitou comentários de 10 dos fornecedores listados nos documentos da licitação, incluindo os mencionados neste artigo – nenhum deles respondeu.

A Nvidia disse que cumpre todas as leis de controle de exportação aplicáveis e exige que seus clientes façam o mesmo.

“Se soubermos que um cliente fez uma revenda ilegal a terceiros, tomaremos medidas imediatas e apropriadas”, disse um porta-voz da empresa.

O Departamento de Comércio dos EUA não quis comentar. As autoridades norte-americanas prometeram fechar brechas nas restrições de exportação e agiram para limitar o acesso aos chips por unidades de empresas chinesas localizadas fora da China.

Chris Miller, professor da Universidade Tufts e autor de “Chip War: The Fight for the World’s Most Critical Technology” (“Guerra dos chips: a luta pela tecnologia mais importante do mundo”), disse que não é realista pensar que as restrições de exportação dos EUA possam ser estanques, já que os chips são pequenos e podem ser facilmente contrabandeados.

O principal objetivo é “jogar areia nas engrenagens do desenvolvimento de IA da China”, dificultando o desenvolvimento de grandes grupos de chips avançados capazes de treinarem sistemas de inteligência artificial, acrescentou.

A maioria das licitações mostra que os chips estão sendo usados para aplicações de inteligência artificial. As quantidades da maioria das compras são, no entanto, muito pequenas, longe do que é necessário para construir um modelo sofisticado de inteligência artificial a partir do zero.

Um modelo semelhante ao GPT, da OpenAI, exigiria mais de 30 mil placas Nvidia A100, de acordo com a empresa de pesquisa TrendForce. Mas algumas delas já podem executar tarefas complexas de aprendizado de máquina e aprimorar os modelos de inteligência artificial existentes.

Em um exemplo, o Instituto de Inteligência Artificial de Shandong concedeu um contrato de 290 mil iuans (40.500 dólares) envolvendo 5 chips A100 à Shandong Chengxiang Electronic Technology no mês passado.

Muitas das licitações estipulam que os fornecedores devem entregar e instalar os produtos antes de receberem o pagamento. A maioria das universidades também publicou avisos mostrando que a transação foi concluída.

A Universidade de Tsinghua, apelidada de Instituto de Tecnologia de Massachusetts da China, comprou cerca de 80 chips A100 desde a proibição de 2022.