Entenda por que o chip de Elon Musk é um divisor de águas para a neurociência

3 de fevereiro de 2024
Getty Images

Para o Prof. Dr. Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, professor livre-docente da UNIFESP, essa combinação mostrada pela Neuralink mostra que os algoritmos generativos podem somar força com as neurociências

No início da semana, Elon Musk anunciou que o primeiro implante de um chip no cérebro humano foi feito por sua empresa, a Neuralink. O procedimento ocorreu após a empresa receber a aprovação da FDA, órgão regulador dos Estados Unidos, e escolher um voluntário para os testes que foram iniciados em setembro do ano passado.

Para o Prof. Dr. Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, professor livre-docente da UNIFESP, essa combinação mostrada pela Neuralink mostra que os algoritmos generativos podem somar força com as neurociências. Porém, é preciso ter em mente que tal progresso usa uma decorrência da atividade mental, que é a perfusão sanguínea, a qual é medida por meio da ressonância magnética funcional. Seguimos sem saber qual é a ‘linguagem do pensamento’ e mesmo se existe uma.”

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Conectar o pensamento com a internet

“A ideia de conectar o pensamento a internet, exposta em detalhes em 2017, era a de poder consultar fontes informacionais externas simplesmente pensando e também a de enviar pensamentos para o compartilhamento com outras pessoas, tornando a telepatia uma realidade. Passados sete anos, é seguro dizer que não avançamos um milímetro nesta direção, posto que seguimos completamente ignorantes sobre a neurofisiologia das representações que nos aparecem à consciência e que chamamos de pensamento. Por outro lado, evoluímos em direções menos ambiciosas, mas ainda assim bastante importantes”.

Como é possível conectar o cérebro?

“Uma linha em que avançamos de maneira inequívoca foi na decodificação indireta de imagens mentais e mesmo discurso imaginado (‘sub-vocalizado’) usando uma combinação de ressonância magnética funcional e algoritmos generativos do tipo Mid Journey e ChatGPT. Isso não tem a ver diretamente com o trabalho da Neuralink, mas mostra como as novas tecnologias – no caso, os algoritmos generativos – podem somar força com as neurociências. Porém, é preciso ter em mente que tal progresso usa uma decorrência da atividade mental, que é a perfusão sanguínea, a qual é medida por meio da ressonância magnética funcional. Como eu disse anteriormente, seguimos sem saber qual é a ‘linguagem do pensamento’ e mesmo se existe uma”.

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Qual foi o feito da Neuralink?

“Os dois maiores avanços da Neuralink são o seu eletrodo, que é fino, compacto e anatômico e o seu método de inserção no córtex, que envolve um robô cirúrgico especialmente desenvolvido para a função. Essas não são contribuições que revolucionam a ciência diretamente. Porém, o fato de os eletrodos terem filamentos mais delgados permite que eles cubram maior número de neurônios e isso por sua vez pode levar ao desenvolvimento de próteses neurais que permitam a reabilitação de comportamentos complexos, o que em si seria revolucionário. A mesma coisa se aplica aos robôs cirúrgicos, que não são novidade, mas que podem dar escala às neurocirurgias, o que em si seria socialmente disruptivo”.