Em 2024, a tecnologia desenvolvida por Carla Fonseca e Silmara Neves, co-fundadoras da startup IQX, impediu que 700 toneladas de plásticos fossem descartadas em aterros ou incineradas. “É urgente que esses materiais sejam reaproveitados e possam manter uma circularidade”, diz Neves, pós-doutora em Química pela Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com um estudo publicado neste ano pela Center for Climate Integrity, apenas 9% do plástico global é reciclado anualmente. Estima-se que, até 2050, haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos.
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Além do descarte inadequado e da produção e consumo desenfreados, um dos principais desafios para a reciclagem do plástico é a complexidade dos componentes utilizados para desenvolvê-lo.
“A embalagem de um pacote alimentício, por exemplo, pode conter até doze camadas de plásticos diferentes. Por isso, tanto na literatura quanto nas cooperativas e nas associações, esses produtos são considerados rejeitos”, explica Silmara Neves.
Desenvolver uma solução para o reaproveitamento de plásticos de alta complexidade era o desafio da dupla de cientistas. Felizmente, com o desejo de transformar a indústria aliado aos — quase — quarenta anos de bagagem acadêmica, Carla e Silmara criaram um aditivo compatibilizante chamado “IQX FLEX”.
“O aditivo compatibilizante pode ser aplicado no momento em que a reciclagem é feita para unir essas diferentes camadas, gerando uma resina reciclada de boa qualidade, que pode retornar ao setor produtivo. O composto foi ostensivamente testado e passamos por uma prova de conceito robusta em parceria com a BRF”, afirma a co-fundadora da startup.
A partir dos testes, a IQX conseguiu validar a incorporação do aditivo durante a produção da embalagem. “É algo muito inovador, pois o plástico sai da fábrica pronto para ser reciclado. Nós nomeamos essa tecnologia de ‘reciclagem embarcada’.”
Não à toa, durante a 9ª edição do Ranking 100 Open Startups, em outubro, a IQX foi escolhida como uma das dez melhores startups do país na categoria “Clean Techs”.
Atuação na Pandemia
A IQX também foi responsável pela elaboração de um aditivo capaz de inativar o coronavírus em superfícies plásticas. “Lançamos, durante o pior momento da pandemia, a primeira embalagem de lixo antivírus”, conta Silmara Neves.
O produto age de duas maneiras: impedindo a transmissão do vírus para células humanas e rompendo a camada de gordura que envolve o vírus, o que impede sua atuação.
“Nosso negócio quase fechou naquele momento, mas foi uma virada de chave. A partir dali, conseguimos estabilizar a empresa e passamos a operar no verde”, relembra Silmara.
Para a cientista e co-fundadora, o acontecimento representa o objetivo da startup e a missão de vida da dupla: “Utilizar a ciência para resolver problemas da sociedade.”