Mas Armstrong não está nos trópicos da América Central – ele está em Ventura, Califórnia, a apenas 97 km do centro de Los Angeles.
“Acho que agora posso dizer que sou um produtor de café!” disse, após plantar as últimas mudas de variedades de café arábica de alta qualidade, tradicionalmente cultivadas em climas equatoriais escaldantes.
O café é amplamente produzido no cinturão cafeeiro, localizado entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, onde países como Brasil, Colômbia, Etiópia e Vietnã têm proporcionado o melhor clima para os cafezais, que precisam de calor constante para se desenvolver.
A mudança climática está alterando as temperaturas ao redor do globo. Isso está prejudicando as safras em vários locais, mas abrindo possibilidades em outras regiões. O cenário inclui a Califórnia e a Flórida, onde fazendeiros e pesquisadores estão estudando o cultivo de café.
Armstrong recentemente se juntou a um grupo de produtores que participaram do maior empreendimento de cultivo de café de todos os tempos nos Estados Unidos. O país é o maior consumidor mundial da bebida, mas produz apenas 0,01% da safra cafeeira mundial – sendo toda a produção no Havaí, um dos únicos dois Estados norte-americanos com clima tropical, junto com o sul da Flórida.
Maior produtor, o Brasil vive a pior seca dos últimos 90 anos. Isso foi agravado por uma série de geadas inesperadas, que danificaram cerca de 10% das lavouras, prejudicando a produção de café neste ano e no próximo.
Oportunidades na Califórnia
“Estamos chegando a 100.000 pés”, disse Jay Ruskey, fundador e executivo-chefe da Frinj Coffee, empresa que oferece aos produtores interessados no cultivo de café um pacote de parceria que inclui mudas, processamento pós-colheita e comercialização.
A Frinj ainda é uma pequena empresa de café voltada para compradores de especialidades sofisticadas. A companhia vende pacotinhos de 5 onças (140 gramas) por US$ 80 cada, em seu site.
Como comparação, pacotes de 8 onças de Starbucks Reserve, o café de alta qualidade da rede americana, são vendidos por US$ 35 cada. Frinj produziu 2.000 libras-peso (907 kg) de café de sequeiro este ano em oito fazendas.
“Ainda somos jovens, ainda estamos crescendo em termos de fazendas, capacidades pós-colheita”, disse Ruskey. “Estamos tentando manter os preços altos e vendendo tudo o que produzimos. O empreendimento já é lucrativo”, acrescentou.
A empresa tem crescido lentamente desde então, com o Smith Hobson Ranch de 2.833 hectares de Armstrong, um dos maiores e mais recentes a ser parceiro de Ruskey.
Para aumentar suas chances de sucesso, ele instalou um novo sistema de irrigação para aumentar a eficiência do uso da água e plantou as árvores longe de partes da fazenda que foram atingidas por geadas no passado.
O café usa 20% menos água do que a maioria das árvores frutíferas e de nozes, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês).
A água tornou-se escassa na Califórnia após as recentes secas e incêndios florestais. Muitos agricultores estão trocando de cultivos para lidar com os limites do uso de água.
“Parece mais lógico investir em novas variedades de café que possam ser cultivadas nas mesmas geografias atuais”, disse ele.
Pesquisas na Flórida
À medida que o clima esquenta no sul dos Estados Unidos, pesquisadores da Universidade da Flórida (UF) estão trabalhando com um plantio piloto para ver se as árvores sobreviverão naquele Estado.
“Será a primeira vez que elas serão testadas”, disse Diane Rowland, pesquisadora líder do projeto.
Diane afirmou que os pesquisadores estão plantando cafezais próximos aos citros, uma técnica de consórcio usada em outras partes do mundo, já que árvores maiores ajudam a conter os ventos e fornecem sombra as lavouras de café.
O projeto, no entanto, é mais do que apenas o cultivo do café. Alina Zare, pesquisadora de inteligência artificial na Faculdade de Engenharia da UF, disse que os cientistas também estão tentando melhorar a forma de estudar o sistema de raízes das plantas. Isso, por sua vez, poderia ajudar na seleção das variedades de café ideais para a região no futuro.
A Flórida experimentou um calor recorde no ano passado, com temperaturas médias de 28,3 graus C em julho e 16,4 graus em janeiro. Isso é mais quente do que a área de Varginha, em Minas Gerais, a maior região produtora de café do mundo, que tem uma média de 22,1 graus no mês mais quente e 16,6 graus no mais frio.
“Com a mudança climática, sabemos que muitas áreas do mundo terão dificuldades para cultivar café porque estará muito quente, então a Flórida pode ser uma opção”, disse Rowland. (com Reuters)
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