Como o desafio da conectividade também impacta a agricultura familiar nos Estados Unidos

26 de dezembro de 2021
Ariel Skelley_Gettyimages

Pequenos produtores têm mais dificuldades de conexão à internet e aos seus benefícios que ela proporciona

Enquanto famílias em todo os Estados Unidos celebram as festas de final de ano, alguns podem demonstrar gratidão pela abundância de alimentos em nossas mesas. Mas o quanto realmente sabemos sobre de onde nossa comida vem?  No país, 90% das fazendas são pequenas — com receita bruta de menos de US$ 350 mil por fazenda —, e respondem por apenas 22% da produção,  número que  vem diminuindo ao longo do tempo. Em 2019, em média, somente US$ 0,14 de cada dólar gasto em comida voltou para as fazendas. Em 1975, esse valor era de US$ 0,40.

Decisões sistemáticas permitiram que as grandes empresas de agricultura avançassem sobre a agricultura familiar, o que leva à desigualdade de riquezas na agricultura.

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Para Somil Aggarwal, um veterano da Universidade de Cornell, a situação do pequeno agricultor é uma questão pessoal. Com raízes familiares em comunidades agrícolas da Índia, ele se sente atraído pela agricultura desde criança. Na universidade, se tornou assistente de pesquisa em um laboratório agrícola digital e aprendeu como a tecnologia e a inovação podem aproveitar o potencial dos pequenos agricultores para otimizar a produção de alimentos e práticas favoráveis ​​ao clima. Ao mesmo tempo, Aggarwal aprendeu que grande parte dessa tecnologia é inacessível aos agricultores devido à baixa conectividade e à largura de banda escassa nas comunidades rurais e agrícolas.

Mais de 90% dos americanos usam a internet diariamente. Em muitos aspectos, o acesso à Internet é uma necessidade da vida no século 21. Tornou-se um utilitário básico. No entanto, a banda larga, ou a infraestrutura para acessar a internet, não está disponível em muitas partes dos EUA. Só para comparação: 97% da área terrestre do país consiste em zonas rurais, mas a grande maioria da infraestrutura e da política está voltada para os 3% das terras que são urbanas e densamente povoadas.

Isso pode ter resultados prejudiciais. Sem surpresa, as mulheres rurais têm acesso limitado aos cuidados de saúde em comparação com as mulheres urbanas e experimentam piores resultados de saúde, incluindo estado de saúde precário auto-relatado, lesões não intencionais e mortes relacionadas com veículos motorizados, suicídio, tabagismo, obesidade e incidência de câncer cervical.

Para resolver essa lacuna de conectividade, Aggrawal formou a Agcess, uma equipe de estudantes universitários e recém-formados que querem fazer a diferença nas comunidades rurais e agrícolas.

“Queremos que esses agricultores, comunidades rurais e comunidades desconectadas tenham o mesmo acesso e conectividade que outras pessoas”, diz ele. Aggrawal também explica que com muita frequência as comunidades rurais e carentes são abandonadas, negligenciadas ou deixadas para trás devido ao subinvestimento histórico em infraestrutura. Em sua opinião, eles têm sido rotineiramente negligenciados pelo desenvolvimento econômico e pelas políticas de infraestrutura, deixando-os despreparados para as necessidades tecnológicas do mundo moderno.

O time da Agcess está se preparando para levar esta luta aos salões do congresso norte-americano. Em última instância, eles querem levar conectividade às comunidades que foram deixadas para trás na era digital.

O conselho de Aggarwal para outros agentes interessados na mudança é a de realizar a construção de uma comunidade em torno de seus esforços — ou seja, buscar outras pessoas que advoguem ao seu lado e por você quando precisar. “A campanha e o ativismo não devem ser esforços solitários”, diz ele, “portanto, construa uma comunidade tão grande e forte quanto possível por seus esforços e para apoiar a comunidade pela qual você está lutando”. No seu caso, ele continua promovendo a comunidade Agcess, convidando mais jovens a se juntar ao movimento para levar o acesso à Internet às populações rurais e carentes.

*Amanda Nguyen é colaboradora da Forbes EUA, CEO e fundadora da Rise, aceleradora de movimentos sociais. Já foi reconhecida com os prêmios Forbes 30 Under 30, Heinz Laureate, Nelson Mandela Changemaker, Foreign Policy 100, Time 100, Frederick Douglass 100 e Jovem Mulher do Ano pela Marie Claire. É formada na Universidade de Harvard com foco em segurança nacional e astrofísica e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz de 2019. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.