A apresentação da cultivar, uma braquiária, que está marcada para a quinta (24), representa uma evolução dos longos trabalhos que a Embrapa desenvolve em busca de plantas destinadas à alimentação de bovinos.
LEIA TAMBÉM:
Antes da BRS Integra, a cv. Kennedy era a cultivar de ruziziensis existente no mercado de sementes forrageiras. O problema é que ela não foi desenvolvida especificamente para as condições brasileiras de solo e clima. Para o pesquisador, apesar de possuir boa adaptação às diferentes condições ambientais do país, a cultivar Kennedy apresenta menor produção de forragem se comparada a cultivares de outras espécies de braquiária, como a brizantha ou a decumbens. “Isso acontece principalmente no inverno, durante a entressafra das lavouras, quando nos sistemas integrados de cultivo, as forrageiras se encontram sozinhas na área ou acompanhadas apenas pelo componente florestal”, explica Souza Sobrinho.
Ao manter a produtividade alta no inverno, a braquiária BRS Integra pode ser aproveitada tanto como forragem para alimentação do gado na entressafra, quanto como palhada para o próximo plantio das lavouras.
O cientista explica ainda que, embora a brizantha e a decumbens possuam maior área cultivada no País, a ruziziensis vem aumentando seu espaço com o incremento da ILPF.
De onde vêm as braquiárias
Originária da África, ela possui boa adaptabilidade a solos de baixa fertilidade e a diferentes climas e latitudes, além de apresentar agressividade na competição com plantas daninhas e proporcionar bom desempenho animal. Essas qualidades fizeram do gênero braquiária quase um sinônimo de pastagem. Cultivada em regiões tropicais, a gramínea possui uma centena de espécies. Além da ruziziensis, outras bastante conhecidas e utilizadas no Brasil são decumbens, brizantha e humidicola.
De um total 180 milhões de hectares de pastagens no País, 80% pertencem ao gênero Brachiaria. Ou pertenciam. Recentemente, os cientistas reclassificaram quase todas as braquiárias para o gênero Urochloa. A reclassificação segue critérios taxonômicos (normas de classificação) cuja função é organizar vegetais e animais, facilitando o estudo e a identificação dos organismos vivos. Dessa forma, cada planta ou animal ganha nome (gênero) e sobrenome (espécie), mas mudanças podem ocorrer para facilitar o trabalho dos cientistas.
Foi o que aconteceu com a Brachiaria. No entanto, por questões legais, desde a última reclassificação taxinômica, a nomenclatura científica para o “capim braquiária” passa a ser “Urochloa (sinonímia, Brachiaria)” ou “Brachiaria (sinonímia, Urochloa)”. A sorte é que, para o produtor, nada muda e a “brachiaria” pode continuar sendo chamada de braquiária, como fizemos nesta reportagem. O mesmo serve para as expressões idiomáticas e ninguém precisa “vazar na urochloa” se quiser sair rapidamente de algum lugar. “Vazar na braquiária” ainda é uma forma válida de se retirar.
Como foi o desenvolvimento da BRS Integra
“O programa de melhoramento teve como estratégia a seleção recorrente fenotípica, que se baseia em ciclos de avaliação, identificação e seleção dos melhores indivíduos e sua recombinação para obtenção de novas populações melhoradas, ou seja, com frequências mais elevadas dos alelos desejáveis”, explica o pesquisador. A existência de variabilidade genética entre progênies ou plantas de ruziziensis para todas as características avaliadas, observada nos primeiros ciclos, tem impulsionado o programa de melhoramento genético da espécie e mostrado a possibilidade de seleção de genótipos superiores.
Ao fim do terceiro ciclo de seleção foram obtidas 14 populações melhoradas para avaliações posteriores. Esses grupos foram identificados basicamente pela superioridade em relação à produtividade e à qualidade da forragem. A população denominada “REC 2” se destacou nas avaliações posteriores, incluindo os ensaios para determinação do valor de cultivo e uso (VCU) sob corte, realizados entre os anos de 2013 e 2016. O material genético também foi testado sob pastejo seguindo as normas de VCU do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), nos anos de 2016 a 2018. Nesses ensaios de pastejo, a população “REC 2” mostrou-se semelhante à cultivar comercial (Kennedy) tanto em produtividade de forragem como em desempenho animal.
Semelhanças entre as duas cultivares também foram verificadas em ensaios comparativos da produtividade de leite de vacas mestiças. Nesse caso, embora a produtividade animal tenha sido semelhante, a BRS Integra confirmou os resultados obtidos nos ensaios de VCU sob corte, produzindo maiores quantidades de forragem e de folhas e menores quantidades de material morto na época seca do ano, além de apresentar melhor relação entre folhas e caules na maior parte do ano, comparado à Kennedy.