Em entrevista à Reuters, o presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa, disse ainda que a segunda safra de milho do país estimada para ser recorde em 2021/22 pode dar um impulso nos negócios. Mas a questão dos custos com combustíveis –o frete rodoviário em um país continental é chave para o setor– pode comprometer os resultados, algo que tem impactado o escoamento da colheita de soja, bem menor em função da severa seca no Sul, no último verão.
“A safrinha promete, mas as dificuldades de executar a safra de verão foram significativas, e grande parte da safrinha foi negociada no ano passado, quando não tinha a visão de frete (mais caro) que temos hoje. Não quero ser pessimista para o setor… Mas a realidade é que na nossa visão a execução geral da exportação neste ano é menos lucrativa do que no ano passado”, disse Sousa.
“A redução no volume foi o principal fator que levou a uma redução no nossa lucratividade (em 2021). A situação normal é esperar: se cai o volume, cai também o custo variável, mas por conta das altas dos insumos os custos variáveis não caíram na mesma proporção que se esperava com a redução do volume”, disse ele, explicando que o segmento precisa de grandes volumes para diluir seus custos.
Com a queda na safra de milho, atingida por seca e geadas em 2021, a redução geral dos volumes de grãos de exportação da Cargill em 2021 foi de 10%, disse o CEO. Em soja, com a colheita recorde do ano passado, a Cargill expandiu os embarques para o exterior em 2%, enquanto as exportações de farelo de soja pela empresa avançaram 17% –a companhia não revelou os totais gerais nem dados específicos da redução do milho.
A lucratividade foi menor em 2021 apesar de a Cargill ter superado pela primeira vez a marca de 100 bilhões de reais na receita operacional no Brasil, com aumento dos preços das commodities levando a um crescimento de aproximadamente 50% no faturamento ante 2020, para 103 bilhões de reais.
Ele apontou também alta nos custos de escoamento da soja, cujas vendas foram fortemente antecipadas pelo produtor no ano passado, enquanto os compradores não conseguiriam imaginar na época do fechamento dos negócios a disparada dos combustíveis em meio aos impactos da guerra na Ucrânia.
“Com isso, a execução da safra de verão, que está acontecendo, em termos de custos foi bem pior do que o setor planejava, quase seria um pesadelo em relação ao projetado o que está acontecendo agora.”
Ele mencionou também que chuvas na colheita de soja do Centro-Oeste dificultaram o escoamento da produção neste início de ano, já marcado por perdas significativas pela seca no Sul.
Dessa forma, o executivo avaliou que uma queda nas exportações de soja do Brasil estaria mais relacionada ao atraso nos fluxos para os portos e à redução da safra, e disse acreditar que a demanda da China segue “sólida”. “A margem de esmagamento na China não foi tão boa, o chinês corretamente joga com isso, mas a demanda pela soja brasileira continua muito saudável.”
MARGENS POSITIVAS
O destaque positivo de 2022 é a demanda pelos produtos derivados de soja, como farelo e óleo, principalmente pela maior busca por biocombustíveis no mundo, enquanto a guerra na Ucrânia influenciou as cotações do óleo, tornando o negócio ainda mais lucrativo.
Nesse sentido, disse Sousa, a Cargill está tirando vantagem de investimentos em melhorias de processos e na capacidade existente de esmagamento. “Qualquer décimo de percentual que tira mais de óleo do processo, no final do ano são milhões. Grande parte do investimento tem sido nisso e esperamos continuar.”
A Cargill não revelou detalhes de investimentos nas unidades, mas disse que mais de 20 projetos foram desenvolvidos em processamento de soja em 2021.
Ao todo, a empresa investiu 1,023 bilhão de reais no país em 2021, um aumento de 11% ante 2020 –um dos destaques do ano passado foi a nova fábrica de pectina, em Bebedouro (SP), com aporte de 229 milhões de reais que fazem parte do plano de 550 milhões de reais anunciado em 2019.