Escalada urgente para uma safra recorde

3 de junho de 2022
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Alimentos mais acessíveis deve ser um esforço mundial contínuo e o Brasil pode contribuir com a tarefa

Na semana passada estive com o ex-ministro Roberto Rodrigues no jantar Forbes Agro 100, onde ele defendeu que o Brasil tem a oportunidade histórica de se consolidar como um confiável fornecedor mundial de alimentos. Rodrigues defende um plano safra “de guerra” que forneça financiamento para que o Brasil alcance a produção de 300 milhões de toneladas de grãos, 30 milhões de toneladas a mais do que a última safra.

Diferentemente de planos assistenciais, o aumento do crédito rural tem efeito multiplicador, gera empregos, amplia a renda, aumento do consumo das famílias, aumento das exportações, arrecadação e PIB, alavancando serviços, indústria e comércio. De acordo com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e o incremento de R $8,8 bilhões, no período de um ano, geraria um aumento de R$ 16,5 bilhões no PIB, R$ 13,3 bilhões em exportações e R$ 9 bilhões no consumo das famílias.

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Ainda de acordo com a CNA a equalização dos juros, resultaria na criação de mais de 202 mil postos de trabalho, o equivalente a 7,3% do total de vagas formais de trabalho abertas em 2021. A CNA também projeta uma queda de 0,46% no preço dos alimentos, o que beneficiaria principalmente as famílias de baixa renda.

O sistema alimentar global está fragilizado, devido a uma sequência de acontecimentos, primeiro a crise gerada pela pandemia, onde muitas cadeias de produção foram quebradas, depois os países buscando se abastecer, aumentando a demanda e consequentemente os preços, seguido da quebra de produção devido a reflexos de mudanças climáticas e crise energética. Se não bastasse esse cenário, a cadeia se enfraquece ainda mais com a guerra da na Ucrânia, deixando o mundo à beira de uma catástrofe alimentar.

A responsabilidade de corrigir esta rota é mundial e o Brasil, tem um papel de destaque, pois é um dos poucos países do mundo, que tem o potencial de aumentar sua produção, sem a necessidade do aumento de área.

Conforme discutido na coluna do dia 14 de janeiro, “A alta dos preços dos alimentos nos supermercado é culpa do produtor rural?”, a média mundial anual do preço dos alimentos subiu 28,1% nos últimos 12 meses (em relação a 2020) de acordo com o índice da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). A inflação dos alimentos vem gerando insegurança alimentar mundial.

Mais de 20 países, entre eles Índia, Indonésia, Hungria, Argentina e Cazaquistão tomaram medidas protecionistas restringindo a exportação de insumos e produtos agrícolas. De acordo com a revista The Economist, as restrições sobre exportações de alimentos já correspondem a 10% das calorias comercializadas mundialmente. Mais de um quinto de todas as exportações de fertilizantes foram restritas. Se o comércio parar, a fome será consequência.”

Marcos Montes, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, defendeu o livre comércio na reunião ministerial Global Food Security – Call to Action, que aconteceu em Nova York, “Em um mundo interdependente e interconectado, nenhum país pode manter-se isolado e prosperar. A segurança alimentar, enquanto meta comum, é responsabilidade de todos”

Diferente de outros países como os EUA, que permitirá o plantio em áreas parte do programa federal de conservação visando a segurança alimentar e abastecimento, o Brasil pretende aumentar a produtividade investindo em tecnologia, técnicas e cultivares, intensificando assim a produção, sem a necessidade de ocupação de novas áreas. Estados Unidos e União Europeia têm usado estratégias para fortalecer sua produção de alimentos como subsídios e abertura de áreas de pousio.

Apesar da alta das commodities, os custos que já estavam crescendo devido ao covid pioraram após a guerra. Junte-se a isto as questões climáticas, a seca na região Sul e MS e as enchentes em Minas e no Nordeste. Com o aumento dos custos de produção, o setor do agronegócio brasileiro, que é um dos menos subsidiados do mundo, precisará de crédito visando ampliar a próxima safra.

De acordo com Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, os gastos com a política agrícola corresponderam a apenas 0,84% do VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária ) de R$ 1,13 trilhão em 2021. Esforços mundiais sendo tomados para tornar o preço dos alimentos mais acessíveis, e  nosso país tem a nobre missão de produzir alimentos para o Brasil e para o mundo. A política agrícola é o investimento mais barato e eficiente que o estado pode fazer com resultados positivos para a sociedade.

*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.

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