Mas não é só isso. A SLC é um dos centenas de grupos agrícolas que possuem o selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável), um programa auditável pela Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), e que assegura a sustentabilidade da fibra nas boas práticas sociais, ambientais e econômicas. As práticas abrem um mercado mais valorizado pelos consumidores internos e também no mercado internacional.
Leia mais: Da ficção à realidade, o que são o boi e o boiadeiro do Pantanal
Na fazenda Pamplona, a de Cristalina, uma das 23 propriedades do grupo, as condições climáticas ao longo do ciclo 2021/2022 de cultivo das lavouras, de aproximadamente 220 dias, foram regulares e devem garantir um bom resultado na safra. “Nós tivemos um cenário de chuva ideal, o que deixou nossas médias melhores do que o resto do Brasil. Aqui, a produtividade está acima de 360 arrobas por hectare”, diz o engenheiro agrônomo Diego André Goldschmidt, coordenador de produção da SLC.
A produtividade da Pamplona deve chegar a 4.300 quilos por hectare, nos 6.419 hectares dedicados ao cultivo de algodão neste ciclo. No total, a companhia plantou 86.326 hectares de algodão na primeira safra, com a estimativa de produtividade próxima de 1.807 quilos por hectare. O grupo ainda produz soja e milho, além de trabalhar com criação de gado em sistema ILP (integração lavoura-pecuária). No ano passado, a receita líquida foi de R$ 4,363 bilhões, com lucro de R$ 1,13 bilhão, recorde na companhia criada e controlada pela família gaúcha Logemann em 1977.
O país tem 1,64 milhão de hectares cultivados nesta safra, segundo a estimativa de julho divulgada pela Abrapa. Os 2,61 milhões de toneladas ainda é um bom volume, mas a entidade esperava uma produção com quase 300 mil toneladas a mais em suas primeiras previsões. “Infelizmente as 2,9 milhões de toneladas de algodão que poderíamos colher não existem mais. A produtividade caiu em função de uma falta de chuvas no fim do ciclo, principalmente nos estados da Bahia e de Mato Grosso, que produzem 93% do algodão brasileiro”, avalia Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa, sobre safra. “Nós gostaríamos de voltar aos 3 milhões que colhemos em 2019, já que estamos conquistando o mercado lá na Ásia.”
A demanda por fibras naturais deve permanecer aquecida, impulsionando a produção, porque o uso da commodity vai além das roupas. Ela é usada pela indústria na criação de coadores de café, tecidos para a medicina e até dinheiro — uma parte das notas do real brasileiro é feita com 100% de algodão. Mas a fibra não é a única parte da commodity que brilha. Sua semente, o popular caroço, e a casca, também possuem valor comercial e nutricional por fornecer altas quantidades de energias e fibras em rações para animais, entre eles gado de corte e pets. O óleo, que pode ser extraído de ambas as partes, também pode ser utilizado como substituto do óleo de soja na produção de margarinas e para biocombustível, por exemplo.
No final da semana passada, a Forbes Brasil acompanhou uma parte da colheita de algodão na fazenda Pamplona. Confira, a seguir, as diferentes etapas do cultivo da fibra e da lida no campo, antes do algodão ser enviado à indústria têxtil ou quaisquer outra destinação:
Planejamento agrícola e plantio
O início da produção de algodão começa com o planejamento agrícola, como também acontece com outras culturas. No caso da SLC, a empresa analisa os dados de sua área de pesquisas para definir as melhores épocas de semeadura e de suas operações agrícolas. A fazenda Pamplona possui a unidade de pesquisa mais antiga da empresa, uma área de 178 hectares utilizada para estudos de campo desde 1988.
Semeadura e monitoramento da lavoura
Para a semeadura, pela grandeza das lavouras, a companhia utiliza máquinas com até 50 linhas de semeadura. São máquinas gigantescas, mas mesmo assim não é difícil varar noites de plantio, caso alguma intempérie chegue de surpresa e o trabalho precise ser suspenso. O plantio é um período crítico porque perder a janela climática ideal pode trazer, na sequência, atrasos às etapas seguintes, o que em geral compromete a produtividade.
A partir daí, o manejo das lavouras também considera boas práticas agronômicas. Uma delas é o MIP/MID (Monitoramento Integrado de Pragas e Doenças), etapa em que são aplicados defensivos agrícolas que garantem a segurança do algodão ao longo de seu crescimento. O sistema de plantio direto e a rotação de culturas são outras duas estratégias adotadas pela SLC em suas produções de algodão e também do milho e da soja.
O plantio direto, um modelo no qual o solo não é revolvido e representa um dos sistemas mais sustentáveis de cultivo no planeta, é aplicado em cerca de 36 milhões de hectares no Brasil, para todas as culturas, segundo a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha. A meta para a próxima década é chegar a 48,5 milhões de hectares
Colheita
Beneficiamento
Após a colheita, os rolos de algodão — cada um com cerca de 2 metros de diâmetro e 2.300 quilos — são levados ao beneficiamento, um processo composto por nove tipos de máquinas que prepararam o algodão para o envio às indústrias. No caso, a SLC possui usinas de beneficiamento em suas sedes, realizando esta etapa sem que o produto saia das fazendas.
Neste momento, o algodão é pesado e tem sua qualidade avaliada, com amostras retiradas que indicam a pureza e a umidade do algodão. A commodity, então, passa por uma pré-lavagem que tira até 70% das sujeiras encontradas na pluma. Daí, seguem para as máquinas de descaroçamento, separando a semente da pluma.
Aqui a fibra do algodão é separada de sua semente. Esta, por sua vez, ainda passa em uma outra máquina para retirar as pequenas fibras que estão juntas ao caroço — com o nome de línter, esta fibra é utilizada na fabricação de gaze e outros tecidos cirúrgicos. Com a fibra do algodão separada, a empresa realiza o enfardamento e a prensagem, formando fardos de algodão menores, com cerca de 200 quilos, que facilitam o transporte da matéria para a indústria.