Pavel Cardoso, eleito em junho para comandar a associação das empresas torrefadoras do Brasil até 2025, comentou em entrevista à Reuters que a firmeza das exportações e do consumo nacional de café não dá margem a problemas climáticos, o que explica os preços futuros sustentados da commodity, enquanto o mercado físico não recua apesar da colheita já avançada no país.
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“A partir de 2024, é possível que tenhamos oferta maior, mas no horizonte de 18 meses não se vislumbra mudança no cenário de aperto”, disse ele à Reuters.
Para justificar sua avaliação, Cardoso citou projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que em seu último levantamento reduziu a previsão para a safra nacional de 2022 a 53,4 milhões de sacas, com a colheita de arábica sentindo os efeitos de geadas e seca de 2021.
Ele disse ainda que o país tem exportado 40 milhões de sacas ao ano, enquanto a demanda brasileira se aproxima de 22 milhões de sacas ao ano, o que resulta na redução de estoques.
O presidente da Abic avalia que as geadas de 2021 colaboraram para uma inversão de ciclo bianual do arábica em 2022, o que o leva a crer que em 2023 a produção poderá superar a deste ano.
“Mesmo com uma boa oferta em 2023, considerando safra de 65 milhões de sacas, por exemplo, a exportação de 40 e consumo de 22… dentro deste cenário, se não tiver boas chuvas na florada (para 2023) e se tiver qualquer evento climático negativo, novamente teremos oferta justa na próxima safra”, afirmou.
DESAFIOS
Cardoso, sócio-gestor da torrefadora Sobésa, maior indústria de café da Bahia e uma das maiores do Brasil, disse que o setor ainda não conseguiu repassar todos os custos da matéria-prima, que subiram mais de 150% em 12 meses –desde as geadas–, tendo repassado cerca de um terço disso.
Cardoso comentou ainda que uma das diretrizes de sua gestão à frente da Abic será promover o café torrado e moído brasileiro internacionalmente, cujas exportações giram em torno de apenas dezenas de milhares de sacas ao ano, enquanto os embarques do produto verde somam dezenas de milhões.
“Produzimos não só a maior quantidade, mas temos os melhores café, e esta qualidade é percebida aqui, mas não é percebida pelo consumidor do mundo”, disse, afirmando que este plano de marketing ainda está sendo elaborado.
A indústria de Cardoso, a Sobésa, já exporta café torrado e moído aos Estados Unidos e está trabalhando na abertura de mais dois mercados, cujos nomes não foram revelados.