Filipe se formou em jornalismo, em 2010, já publicou dois livros best seller – “Cavaleiro das Américas” e “Cavaleiro das Américas rumo ao Fim do Mundo” – e prepara um terceiro volume. Para ele, contar sua história no cinema representa um grande momento. “Espero que ela possa motivar as pessoas a correr atrás de seus sonhos”, afirma. “Hoje, o mundo é muito visual e o documentário deve atrair essa geração mais nova do Tik Tok e do Instagram”.
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O documentário entra em rede nacional de exibição em setembro. Na manhã de hoje (22), ainda impactado pela boa recepção do público, Leite conversou com a Forbes. E claro, para o lançamento do documentário, o caubói brasileiro chegou a cavalo no shopping e passeou pelos corredores. Confira a seguir o que ele disse:
Forbes: O que te levou à aventura de cruzar as Américas?
Filipe Masetti Leite: Quando era criança, meu pai lia para mim o livro de um suíço que viajou a cavalo de Buenos Aires até Nova York, em 1925. O nome dele é Aimé Tschiffely. Ele viajou com dois cavalos crioulos e essa história deu asas ao sonho da minha vida. Quando criancinha, brincando com meu cavalinho no sítio, ficava imaginando que era o Tschiffely cruzando o México e nadando em rios cheios de crocodilos. Meu pai sempre mexeu com cavalo e me deu o nome Felipe, que significa “amigo dos cavalos”.
No último ano de faculdade de jornalismo senti como se todas as células do meu corpo falassem: “agora é a hora de viver o grande sonho”. Quando decidi, não tinha cavalos, cela, cargueiro ou uma ferradura. Aí, fiquei dois anos planejando. Colei uma cartolina na parede, comecei a listar tudo que precisava e corri atrás de patrocínios. Também falei com cavaleiros de longa distância do mundo inteiro e quando estava tudo pronto uma produtora comprou o projeto para que eu filmasse um documentário. No dia oito de julho de 2012 iniciei a jornada.
FML: Foram muitos. De montanhas e desertos, a ter que nadar em rios e cruzar selvas com um calor de 45 graus. Houve encontros inesperados, com um com urso e até narcotraficantes.
Mas entre os maiores desafios estão dois desse período. O primeiro foi a saúde dos animais. Eles são como filhos, uma extensão do seu corpo. Sem os cavalos não teria viajado um só quilômetro. Só tomava água depois deles e o mesmo valia para comida e descanso. Sentia muita ansiedade e preocupação em ter água no final do dia e pasto para eles.
Em lugares desérticos, chegamos a ficar quase dois dias sem pasto. Cheguei a ficar um mês parado, esperando um cavalo lesionado sarar. O segundo maior desafio foi atravessar fronteiras com os animais. Tem quarentena, muita burocracia e cada país possui as suas leis, além de enfrentar muita corrupção para isso, na América Latina.
F: Qual foi o percurso realizado?
FML: Fiz a jornada mais longa, com três percursos de cavalgadas: Canadá-Brasil, Brasil-Ushuaia e Alaska-Canadá, para fechar as Américas. A primeira foi a mais longa. Do Canadá até o Brasil são 16 mil quilômetros e fiz o percurso com os mesmos três cavalos. Foram 10 países e por causa das fronteiras a segunda e a terceira etapa usei um cavalo diferente para cada país.
FML: É uma relação que, acredito, poucas pessoas vão sentir no mundo, porque são 24 horas por dia com eles. Não tem a separação de quem vive num rancho, e a noite vai para a cama e o cavalo para para o piquete. Um cavaleiro de longa distância dorme, acorda, toma o café da manhã, almoça e janta e vive aventura ao lado deles.
A única maneira de descrever o relacionamento é como pai e filho. Chamo meus cavalos de filhos porque é a sensação que eu tenho. Essa relação me fez uma pessoa melhor e aprendi muitas lições com eles, porque envolve paciência e trabalho, em um relacionamento que vai crescendo devagarzinho.
F: Com algum dos cavalos que te acompanhou aconteceu de surgir entre os dois uma maior afinidade?
FML: Depois de passar 803 dias viajando com os meus três cavalos entre o Canadá e o Brasil, eu era o líder deles, mas trabalhamos como uma equipe totalmente conectada. Amo os três igualmente, como um pai que não pode escolher o filho favorito, mas tem o Bruiser, um alazão. É um cavalo feito para reis, que entende o que você quer antes de precisar pedir.
Bruiser é da raça quarto de milha, da linhagem dash for cash, considerada uma das melhores. Ele era do rancho Copper Spring Ranch, em Montana (EUA). Foi o primeiro cavalo que eu ganhei, então tenho um relacionamento muito forte com Bruiser. Ok, ele é o meu favorito, mas não conta para os outros.
FML: Filmar as 500 horas já foi um desafio porque o cavaleiro tem que ferrar os cavalos, além de atuar como veterinário, burocrata e cavalgar 30 quilômetros por dia, até achar um lugar para dormir. Filmei cerca de 95% das imagens e sou diretor de fotografia no documentário. O segundo desafio foi cortar, cortar e cortar.
Mas o Sean Cisterna, que dirige o documentário, é muito bom e me deu liberdade para ajudar na edição. O seu olhar desconectado da história ajudou e ele conseguiu manter somente as imagens que realmente eram importantes para essa história.
F: O que mais falta conta dessa história e que estará em seu terceiro livro?
FML: O livro se chama “Last Long Ride” ( “A Minha Última Cavalgada”, em português) e conta a jornada do Alasca ao Canadá. Fiz o percurso com a minha noiva, Clara, que conheci na segunda cavalgada até o Ushuaia. Conheci a Clara ao pedir pouso para a família dela e acabei me apaixonando.
O terceiro livro é sobre a aventura que nos aproximou ainda mais. No final da viagem, peço ela em casamento e sou nomeado embaixador do rodeio de Calgary, o maior do Canadá. Fui a primeira pessoa da América Latina a ter essa honra, que já foi concedida a pessoas como Kevin Costner, Walt Disney e outros famosos. Nessa jornada, cruzei algumas das maiores montanhas do Canadá, enfrentei frio, neve e ainda veio a pandemia. O livro deve ser lançado no Brasil no Natal deste ano.