A crise dos fertilizantes gerada pela guerra na Ucrânia, e que tirou o sono dos agricultores na safra passada, já não é uma ameaça à produção de alimentos no Brasil, mas o momento ainda é de alerta. As dificuldades da cadeia ajudaram a unir os dependentes desse suprimento e impulsionar as possíveis soluções sobre a sustentabilidade do setor. É no que acredita o engenheiro agrônomo Roberto Carlos Oliveira, head de fertilizantes da gigante Nutrien para a América Latina. “O grande aprendizado é que nesse ano vimos de fato uma união de pesquisadores, consultores e todos para falar sobre a nutrição de plantas, agricultura sustentável e uso racional de fertilizantes”, diz ele. “Nunca se usou tantos mapas de produtividade quanto esse ano”, se referindo a uma melhor gestão do uso de insumos nas lavouras.
A canadense Nutrien, com operações também nos Estados Unidos, Europa e na Austrália, é uma das maiores do mundo na produção de potássio, com estimativa de sair de 15 milhões de toneladas neste ano, para 18 milhões de toneladas até 2025.
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No Congresso Nacional dos Fertilizantes, hoje (23), evento promovido pela Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) em conversa com a Forbes, Oliveira reforçou a estratégia da Nutrien e explicou como o país, um cliente cativo do potássio da companhia, se encaixa na estratégia global da empresa. Atualmente, a empresa possui cinco unidades industriais no exterior. “Já temos no Brasil quatro misturadores operando e novos investimentos que vão dobrar nossa capacidade. Isso nos ajuda a minimizar o risco eventual que possamos ter aqui”, diz. “O agricultor está no centro da nossa estratégia e o que estamos fazendo globalmente é aumentar a produção justamente para suprir a produção e não deixar faltar essa demanda.” No final do ano passado, a empresa anunciou que investiria R$ 600 milhões no Brasil.
Segundo a Anda, 85% dos fertilizantes utilizados nas lavouras do país em 2021 foram importados. Do total de 45,8 milhões de toneladas, o volume foi de 39,2 milhões. O país é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo. Fica atrás, apenas, de Estados Unidos, Índia e China, que também são grandes produtores. O Brasil, ao contrário, não faz parte desse clube de elite. No caso do potássio, o percentual importado é de cerca de 95%, com volumes superiores a 10 milhões de toneladas por ano.
O engenheiro agrônomo, André Pessôa, presidente da consultoria Agroconsult, afirma que o país deve consumir um pouco menos de fertilizantes neste ano, algo em torno de 800 mil toneladas, volume que não compromete o desempenho das lavouras. “Nós ainda cresceremos 2,5 milhões de hectares de área plantada, com a soja puxando o crescimento”, diz ele, se referindo à safra 2022/23 que começa a ser plantada nos próximos meses. Em 2021/22, foram cultivados 79,1 milhões de hectares de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e trigo, mais o café.
Além disso, para este período já está comprada boa parte dos fertilizantes que serão utilizados nas lavouras. Para soja, algodão e a primeira safra de milho, a Agroconsult estima que entre 90% e 95% dos insumos estão garantidos para o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Sul de São Paulo, Goiás, e o Matopiba (região de junção dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O mesmo ocorre para a segunda safra de milho, com índices de compras nas principais áreas produtoras entre 54% e 71%.