No Brasil, ao contrário de EUA, Europa e Austrália, ainda não há uma legislação de bem-estar para a criação de galinhas poedeiras em sistema cage free, mas o movimento ocorre nesse sentido. Por isso, as empresas que já partiram para essa prática utilizam protocolos e certificações que atendem parâmetros internacionais e que dão confiabilidade na ponta do consumo.
“Eu neguei isso de 2012 a 2019, mas todo mundo sabe o que acontece no mundo.” Para o produtor, o ovo está na gôndola de maneira diferente “e por isso acredito que o modelo de criação da galinha em gaiola vai pagar o custo de implantação do modelo do futuro. O que me pergunto é se estamos além do tempo ou no tempo dessa transformação.” Em 2020, a empresa, que hoje é dona de 12,9 milhões de aves, anunciou que a partir daquele ano todas as novas granjas seriam cage free. A meta é ter 2,5 milhões de aves no sistema até 2025, em suas unidades de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
No ano passado, o país bateu recorde ao produzir 54,5 bilhões de unidades ou o equivalente a 1.728 ovos por segundo, volume 1,8% superior a 2020, com 53,5 bilhões de ovos, de acordo com a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Para este ano, a previsão é que fique próximo de 56 bilhões de unidades. O maior produtor de ovos do país, Ricardo Faria, dono do Grupo Granja Faria, com sede na capital Florianópolis, e dono de 14 milhões de galinhas, das quais 10 milhões são poedeiras que entregam 7,5 milhões de ovos por dia, diz que o ritmo dessa mudança vai depender da renda do consumidor e que é ela a ditar o que ocorre na cadeia.
“A gente tem uma linha de inovação em relação a ovos de galinhas criadas soltas, algo em torno de 700.000 aves em quatro granjas diferentes”, afirma Faria. “Mas a gente entende que o Brasil é um país de baixa renda e as pessoas, entre consumir algo especial ou consumir algo, elas vão consumir algo. Qual o sentido que faz a gente sair de 260 ovos per capita para 300 ovos per capita, se ninguém vai consumir?”
Recursos para ser cage free
No Brasil não há dados oficiais, mas a estimativa é de que estejam no sistema entre 4 milhões e 5 milhões de aves em sistema fora de gaiolas, das quais 2 milhões certificadas, basicamente de galpões de frango que foram adaptados. Ainda são poucas aquelas que já nasceram no sistema e em larga escala, como a unidade do Grupo Mantiqueira, em Lorena (SP), que começou a funcionar em agosto do ano passado para 1 milhão de aves em sistema cage free
Para Anderson Herbert, da Naturovos, de Salvador do Sul (RS), a saída está no mercado externo e nas suas potencialidades. Uma das discussões feitas com frequência no setor é se a produção de ovos em sistemas sem gaiolas vai ser regra ou se pode virar um nicho de mercado, como ocorre para as carnes, por exemplo. Herbert acredita em dois movimentos: um para aumentar a exportação e outro na mudança da modalidade de produção. “Com mais valor, aí o mercado começa a mudar”, diz ele.
Em 2021, a produção mundial de ovos de mesa atingiu 87,6 milhões de toneladas, volume 26,8% maior na comparação com 2010, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). A estimativa é de que em 2030 a produção global chegue a 95 milhões de toneladas, com uma alta de 9% no consumo mundial em relação a 2021.
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