Alcançado ao longo de uma trilha de fazenda empoeirada, o campo é uma das dezenas de locais que cultivam uma variedade de trigo geneticamente modificada chamada HB4, desenvolvida pela Bioceres e cientistas de uma universidade e centro de pesquisa estatal.
A Argentina, sexta maior exportadora de trigo do mundo, aprovou o plantio comercial do HB4 em 2020. Foi a primeira linhagem de trigo geneticamente modificado do mundo a receber tal aprovação.
Muitos grupos ambientalistas e de consumidores resistiram ao trigo geneticamente modificado, temendo efeitos colaterais imprevistos de mudanças no genoma de um grão que é matéria-prima de pães, massas e outros alimentos básicos. As modificações genéticas têm sido usadas há muito tempo em soja e milho, usados predominantemente para alimentação animal.
A Bioceres está liderando o caminho globalmente para a comercialização de trigo transgênico, conforme a Reuters descobriu a partir de entrevistas com a empresa e importadores, documentos sobre testes de campo nos Estado Unidos obtidos por meio de um pedido de acesso à informação e uma rara visita aos campos de teste da Argentina.
A empresa obteve vários níveis de aprovações no Brasil, Nigéria, Austrália e Nova Zelândia. Está usando blockchain e georreferenciamento para evitar a contaminação com trigo comum, um risco que os agricultores locais temem que possa levar a proibições de importação.
Ela explicou que a planta era “quase indistinguível” do trigo normal, mas que poderia tolerar melhor a falta de água devido a um gene extra trazido de uma planta de girassol.
O HB4 pode melhorar os rendimentos das colheitas em 20% em relação ao trigo normal sob condições secas e quentes, de acordo com um artigo acadêmico de 2020, publicado na Frontiers in Plant Science e no qual Chan foi coautora.
Mesmo com a aprovação da Argentina, a Bioceres ainda não começou a vender o trigo transgênico para uso comercial no país sul-americano, e também está testando no Brasil.
Ainda é tabu?
“Isso pode provocar proibições nos mercados internacionais e a Argentina precisa desses 4,5 bilhões de dólares em exportações. Eles são fundamentais em um momento tão complicado para a economia do país.”
Na Indonésia, maior comprador de trigo da Argentina atrás do Brasil, o chefe da associação de moinhos de farinha de trigo Ratna Sari Loppies minimizou as preocupações de contaminação, mas disse que os moinhos ainda não comprariam o trigo transgênico da Argentina para evitar um impacto “negativo” em suas próprias exportações e produtos de trigo de consumo.
O Brasil, que espera aumentar sua própria colheita de trigo e as exportações do grão, parece ter suavizado sua postura. Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), disse acreditar que o país pode aprovar o trigo HB4.
“As sementes que virão e serão plantadas no Cerrado terão rendimentos maiores”, disse ele em agosto, referindo-se à linhagem GM. “Todos esses fatores justificam o otimismo em relação à produção e à autossuficiência do Brasil na produção de trigo.”