4 mulheres que empreendem com a ajuda de abelhas sem ferrão

5 de outubro de 2022
Divulgação

Mariana Feres, Thais Guaratini, Juliana Feres e Elaine Cunha, as mulheres por trás do projeto das abelhas sem ferrão

De olho nas possibilidades de produtos provenientes das abelhas sem ferrão, a startup Heborá decidiu ir além da venda de mel e seus subprodutos, como geleia real, cera e própolis. Localizada em Ribeirão Preto, um dos municípios mais importantes do estado de São Paulo, com quase 750 mil habitantes, a startup está iniciando a produção de dermocosméticos, com produtos para pele e cabelo.

A mãe da ideia é a bióloga Juliana Feres, formada na USP (Universidade de São Paulo), sendo Ribeirão a sede de um de seus principais campi, onde trabalhava como pesquisadora. Ela saiu justamente para cuidar do filho, que sofria de dores garganta crônicas, e decidiu abrir uma microempresa. Mas não qualquer uma. “Encontrei o mel da jataí há cerca de sete anos, quando buscava, com base científica, produtos que pudessem auxiliar no tratamento de saúde do meu filho”, conta Juliana.

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O ano era 2015 e sua percepção era de que havia mercado para o mel da abelha sem ferrão. Juliana passou a vender o produto em feiras artesanais e de agroecologia em vários municípios da região. Seu faro estava correto: o interesse e a produção de mel vêm crescendo. Nos anos 2000, São Paulo produziu 2.000 toneladas, dados que não distinguem a origem: se de abelhas com ou sem ferrão. Os dados mais recentes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado, mostram que a produção mais que dobrou: são 4,5 mil toneladas, cerca de 10% da produção nacional. E mais: ela passou a acreditar que poderia estar ali um nicho de mercado. “Frequentando esses ambientes, percebi que as pessoas tinham alto interesse por cosméticos naturais. E aí, de novo, a ciência estava mostrando para mim que era possível agregar valor a esses subprodutos das abelhas nativas.”

Para colocar seu projeto de pé, Juliana convidou três amigas e em 2020 a Heborá se tornou uma sociedade com as farmacêuticas Elaine Cunha e Thais Guaratini, mais a irmã Mariana Feres, técnica de TI (Tecnologia da Informação). Elas já investiram R$ 300 mil em uma fábrica no Supera Parque, hub de inovação de Ribeirão Preto que reúne diversas startups. Dentre elas, 15 são agtechs, como a Decoy, que desenvolve soluções de biotecnologia e recentemente recebeu um aporte de R$ 9 milhões.

As sócias também estão em busca de financiadores, em modo coletivo. Os kits de produtos que estão sendo produzidos, e que serão entregues a partir de novembro, podem ser comprados no site da startup. Custam de R$ 160 a R$ 1.000. No pacote máximo há 14 produtos, entre bálsamo, shampoo, pomada, máscara, extrato de própolis e, claro, um pote de mel.

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Além do mel, a empresa está fabricando cosméticos a partir de subprodutos de abelhas sem ferrão nativas do Brasil

Dois pilares sustentam a produção dos cosméticos: a ciência e o campo. A Heborá mantém uma parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, também no campus de Ribeirão Preto, para estudos sobre aplicação dos subprodutos de abelhas nativas. “Vários subprodutos das abelhas com ferrão já são muito explorados e reconhecidos como matérias-primas cosméticas e até farmacêuticas. A cera dessas abelhas é utilizada desde o Egito antigo para processos de embalsamamento”, conta Thais. “Nosso diferencial é que temos estudado quimicamente a diferença entre os subprodutos das abelhas com ferrão e sem ferrão.”

A matéria prima vem de oito espécies de abelhas, entre elas a mandaguari, a jataí e a mandaçaia. Uma pequena produção é do próprio município, mas a maior parte vem de parcerias com pequenos produtores espalhados pelo país, principalmente da região sul. Para impulsionar a produção local, a startup está começando a comprar a produção de 20 famílias. A Heborá mantém um projeto educativo em Ribeirão Preto (Assentamento Mário Lago) e em São Carlos (Assentamento Nova São Carlos), a cerca de 100 quilômetros. No estado existem cerca 1.600 criadores de abelhas, com mais de 72 mil colmeias.

“A meliponicultura é algo que pode ser rentável e não é uma atividade excludente”, diz Juliana. “As mulheres, os idosos e os jovens são capazes de desenvolver o trabalho. Ela é bastante generosa com a diversidade de pessoas no ambiente rural.” Cada produtor de abelhas jataí, por exemplo, produz cerca de 20 a 30 quilos de mel por ano. No financiamento coletivo, para cada kit máximo reservado, a startup vai doar um enxame de abelhas entre os produtores dessas comunidades.

Com o início da entrega dos cosméticos no próximo mês, Juliana espera ter capital para expandir sua equipe. Hoje, oito mulheres estão empregadas na fábrica de cosméticos. “Somos como colmeias, queremos formar uma grande rede de colaboradoras para disseminar saúde, inovação, diversidade e conhecimento por meio de abelhas do Brasil”, diz ela.