Brasil guarda sementes de pastos pela primeira vez na Noruega

12 de novembro de 2022
Willian Bonani/Embrapa

Banco de sementes de pastagem representa segurança alimentar global

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) enviou, pela primeira vez, sementes de pastagem para serem armazenadas no Banco de Svalbard, na Noruega. O material brasileiro saiu do Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), e da Embrapa Cerrados, de Planaltina (DF).

A Noruega é sede do Banco Mundial de Sementes, que agora passa a ter materiais de forrageiras do país destinadas à pecuária, armazenadas como cópias de segurança, mantidas a -18°C.  As sementes saíram do Brasil em junho e foram depositadas no banco no mês passado, informou a Embrapa nesta semana. O banco oferece armazenamento seguro, gratuito e em longo prazo de amostras de sementes, funcionando como um cofre.

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De acordo o engenheiro agrônomo Marcelo Cavallari, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, foram escolhidos 53 acessos de 15 espécies de gramíneas formando uma amostra da diversidade genética da coleção do Banco de Germoplasma local. “Os acessos selecionados possuem várias aptidões – pastagem, gramados – e diferentes portes e hábitos de crescimento”, afirma.

O pesquisador explica que acessos são amostras coletadas em um determinado local e representam uma população específica, com características próprias. Os acessos são registrados com todas as informações de origem, inclusive o nome de quem os coletou.

O Paspalum, por exemplo, que é um dos materiais envidados, é um gênero de gramíneas originário das Américas, com mais de 200 espécies nativas do Brasil. A Embrapa Pecuária Sudeste desenvolve pesquisas com foco nesse gênero.  Cavallari, na Embrapa desde 2011, é curador do banco ativo de Germoplasma de Paspalum. Ele é doutor em ciências biológicas, com parte de seu pós-doutorado realizado em Montpellier, França.

A unidade da Embrapa possui um programa de melhoramento genético visando a aumentar a diversidade de forrageiras disponíveis para a pecuária e, dessa forma, oferecer alternativas para situações em que as principais forrageiras do mercado não se adaptam ou, ainda, para o caso do aparecimento de doenças ou condições climáticas adversas no futuro.

“Pode ser que apareça uma nova praga e as principais forrageiras sejam suscetíveis. Então, ter diversidade de oferta de pastagens pode ser a ‘salvação da lavoura’, literalmente”, diz Cavallari. Ainda, segundo ele, grande parte da pecuária brasileira utiliza o capim Marandu para alimentação do gado. Caso ocorra alguma doença que afete essa forrageira, milhões e milhões de hectares serão prejudicados.

Cofre de segurança da humanidade

Inaugurado em 2008, o Banco de Sementes é um imenso cofre no meio do gelo, em uma pequena ilha do arquipélago de Svalbard, situado no paralelo 780 N, próximo do Polo Norte. Em local frio e isolado, se houver uma guerra, um desastre climático ou uma praga nova, pode-se recorrer a ele para recuperar a cópia de segurança. “São recursos à disposição para uma situação futura da humanidade”, afirma Cavallari.

Conhecido como a “Arca de Noé”, a criação do banco foi uma extensão para o mundo do Nordic Gene Bank, que desde 1984 já armazenava em uma mina de carvão abandonada, localizada em Svalbard, o germoplasma de plantas nórdicas por meio de sementes congeladas.

Divulgação

Banco Mundial de Sementes, na Noruega, foi criado em 2008

O banco hoje armazena espécies de sementes das principais culturas de alimentos do planeta e funciona como uma salvaguarda da biodiversidade das espécies de vários cultivos, evitando assim a extinção.

Situado dentro de uma montanha em Longyearbyen, foi construído para resistir a catástrofes climáticas (enchentes, terremotos, aquecimento gradual, etc.) e até mesmo a uma explosão nuclear. O local tem capacidade para 4,5 milhões de amostras de sementes, distribuídas em três câmaras de segurança máxima, situadas ao final de um túnel de 125 metros dentro da montanha.

O banco está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especificamente a meta 2.5, que é ” garantir a conservação da diversidade genética de espécies nativas e domesticadas de plantas, animais e microrganismos importantes para a alimentação e agricultura, adotando estratégias de conservação ex situ, in situ e on farm, incluindo bancos de germoplasma, casas ou bancos comunitários de sementes e núcleos de criação e outras formas de conservação adequadamente geridos em nível local, regional e internacional”.