Um relatório de 2014 mostra que 24% das emissões globais vêm do uso da terra, a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa depois da energia. Então, se vamos frear a mudança climática e manter o mundo dentro de 1,5°C, devemos evoluir a maneira como cultivamos. A agricultura regenerativa faz isso, concentrando-se na saúde e na fertilidade do solo, sequestrando carbono, melhorando a saúde das reservas hidrográficas, aumentando a biodiversidade e melhorando a qualidade de vida dos produtores que cultivam nossos alimentos.
LEIA MAIS: COP27: Amazônia é o drive do agro para salvar o clima do planeta
Na PepsiCo, traçamos um caminho que esperamos servir de modelo para outros. Definimos metas ambiciosas e estamos, hoje, adotando a agricultura regenerativa, com urgências para causar impacto em escala.
Dito isto, a transição para métodos regenerativos levará tempo. Há muito trabalho a fazer para quebrar as barreiras que impedem a expansão dessas práticas. Em última análise, para que a agricultura regenerativa crie raízes, os produtores precisam de três coisas: apoio econômico, apoio social e cultural e apoio agronômico.
Suporte econômico à agropecuária regenerativa
Os fazendeiros são empresários e, embora a transição para a agricultura regenerativa seja mais lucrativa a longo prazo, é preciso um investimento inicial e alguns anos para ver o retorno. É fundamental estabelecer programas que possam ajudar a tornar a transição um pouco mais fácil. Isso inclui ferramentas como programas de compartilhamento de custos, iniciativas para ajudar os produtores a solicitar empréstimos ou doações e dotar incentivos fiscais e outras políticas que apoiem a transição economicamente.
Suporte social e cultural
Por causa disso, muitos agricultores costumam fazer o que funcionou para eles no passado, em vez de tentar algo novo, como a agricultura regenerativa. Se as empresas puderem mostrar a eles que essa abordagem é algo que toda a comunidade está adotando, aumentam as chances de os produtores e empresas se unirem nessa jornada.
Suporte agronômico
Estas são novas formas de produção para muitos e podem não ser compreendidas rapidamente. É importante fornecer treinamento local sobre as práticas e os benefícios que os agricultores podem esperar ao experimentá-las.
As empresas podem trabalhar com seus parceiros para fornecer treinamento apropriado sobre as práticas regenerativas para o produtor rural e a região. Nos EUA, por exemplo, a PepsiCo também recebe agricultores em suas fazendas piloto para que possam ver como essas práticas são implementadas no terreno, literalmente.
Utilizando uma abordagem regional
Uma abordagem regional – reunindo as partes interessadas em uma área específica que abrange várias culturas, setores e usos da terra – pode ser altamente benéfica e impulsionar a mudança em nível de sistema, necessária para criar resiliência às mudanças climáticas. Trabalhar em uma região pode permitir a colaboração e a construção de consenso em torno de práticas de agricultura regenerativa, destinadas a lidar os desafios daquela região.
O objetivo? Entregar os resultados positivos para todos os envolvidos, lidando com as barreiras financeiras, técnicas e sociais que os produtores rurais enfrentam para tornar possível a mudança para a agricultura regenerativa em toda a região. Temos ampliado esse tipo de esforço nos EUA, onde já estamos obtendo sucesso, e estamos expandindo nossa estratégia regional para novas geografias.
No entanto, é importante não ser muito prescritivo. Os líderes empresariais devem fornecer orientação por meio de uma abordagem flexível. É por isso que na PepsiCo criamos um manual para nossos parceiros, e seria muito interessante que outras empresas agrícolas fizessem o mesmo.
No final das contas, temos conhecimento, recursos e ferramentas. Está na hora de a agricultura regenerativa ocupar o centro do debate sobre o clima. Fazer deste momento um momento de ação, em que há um comprometimento coletivo em adotar essa alavanca crítica para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, fortalecer nosso sistema alimentar global e elevar nossas comunidades. A hora de agir é agora.
*Roberto Azevêdo é brasileiro, já foi diretor da OMC (Organização Mundial do Comércio). Atualmente, é membro do Forbes Council nos EUA e vice-presidente executivo global para assuntos corporativos da Pepsico e presidente do conselho de administração da PepsiCo Foundation.