Brasil faz recorde na exportação de carne, mas preço do boi cai em 2022

5 de dezembro de 2022
Pilar Olivares/Reuters

Mesmo com exportação recorde, o preço do boi gordo caiu em 2022

As exportações de carne bovina tomaram grane espaço no noticiário em 2022 e se tornaram um grande vilão na narrativa que culpabiliza alguém pela alta dos preços no varejo brasileiro. Mas você sabia que, apesar do Brasil ter batido esse recorde de exportações, o preço do boi gordo caiu ao longo do ano e o preço da carne se estabilizou no varejo. Se exportamos mais, porque os preços não deram continuidade à trajetória de alta?

Entre janeiro e novembro de 2022, as exportações de carne bovina cresceram 22% em comparação com o mesmo período ano passado. Foram mais de dois milhões de toneladas comercializadas até novembro, um recorde histórico absoluto.

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Como sabemos, a China tem sido a grande estrela da constelação de importadores, levando 54,4% desse volume, uma participação impressionante. Enquanto isso, o preço do boi gordo no mercado doméstico caiu de R$330 por arroba, em janeiro, para os atuais R$ 280 por arroba na média de fechamento de novembro, representando uma queda de 16%. Enquanto isso, a carne no varejo caiu 3%.

O que explica então esse movimento tão descolado das fortes altas observadas no ano passado?

Em primeiro lugar, o Brasil tem aumentado a sua produção de carne como parte do ciclo pecuário. Já comentamos anteriormente nesta coluna o processo que, basicamente, responde a uma retroalimentação direcionada pelos preços. Ou seja, altos preços registrados para o boi gordo entre 2020 e 2021 estimularam o produtor a investir, trazendo agora os efeitos desse aumento produtivo: preços em queda por mais oferta.

Já o varejo, por incrível que pareça, não conseguiu acompanhar a alta do boi ao longo dessa trajetória recente de alta. Enquanto o boi subiu 66% entre 2020 e 2021, o varejo repassou 54% dessa alta, de modo  que a resistência em baixar os preços agora sugere a recomposição das margens com a venda de carne bovina.

Por fim, as exportações são importante parte da composição da demanda pela carne bovina, já que respondem por 30% da produção. Entretanto, o grande direcionador de preços continua sendo a oferta de animais para o abate, que é determinada pelo ciclo pecuário. Dessa forma, qualquer política que mire os preços e não incentive a produção será um grande erro econômico a ser pago pelo menor acesso da população ao produto; vide Argentina, que viu seu consumo per capta de carne cair ao menor nível dos últimos 100 anos, após política de limitação às exportações. Os preços são sempre o sintoma e não a doença.

Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

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