Biomimética
Em sua forma mais simples, a biomimética significa estudar e imitar os processos biológicos e químicos da natureza para projetar sistemas, estruturas e estratégias de sustentabilidade. Exemplos arquitetônicos incluem o Estádio Nacional de Pequim (projetado para imitar o isolamento de um ninho de pássaro) e a Torre Eiffel em Paris (modelada a partir de um fêmur humano para estabilidade estrutural). O mercado de biomimética médica (pense em engenharia de tecidos e regeneração de órgãos) é superior a US$ 32 bilhões (R$ 167 bilhões na cotação atual).
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A Beeflow, uma empresa com sede em Los Angeles, estudou os principais impulsionadores da polinização, incluindo os sinais químicos enviados entre as abelhas e as flores para tornar a polinização mais bem-sucedida. A empresa vende produtos de matéria-prima apícola para culturas importantes, como abacate, morango, amêndoa entre outras.
O fundador e CEO, Matias Viel, compartilha: “Entender como as abelhas e as plantas se comunicam por meio dos voláteis das flores nos ajudou a desenvolver tecnologias de polinização que aumentam, em média, 32% o rendimento das colheitas para os agricultores que trabalham com os programas de polinização Beeflow”. Isso combate a crise climática, reduzindo a aplicação de pesticidas e fertilizantes químicos. Outras startups a serem observadas, e que estão neste caminho, são a Sound Agriculture, Provivi, Invaio e Pivot Bio.
Repensando a produção de commodities básicas – com fungos
Procuraremos, cada vez mais, maneiras novas e inovadoras de produzir localmente ingredientes usando micélio. O micélio é a estrutura semelhante a uma raiz que normalmente cresce no subsolo e sustenta o que vemos acima do solo – os cogumelos. A micoproteína é uma fonte de alimento com alto teor de proteínas e fibras que tem baixo impacto ambiental e pode ser produzida em ambientes flexíveis.
A Nature’s Fynd, uma empresa de alimentos com sede em Chicago, com a missão de nutrir as pessoas e cuidar do planeta, produz uma proteína à base de fungos chamada Fy. Ela é apoiada pelas empresas de investimento de Bill Gates e Al Gore. Os produtos incluem laticínios e carne, em substituições utilizando a micoproteína Fy, originalmente encontrada no Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA.
Existem muitos exemplos de commodities globais “repensadas” com um modelo baseado em fermentação, incluindo C16 Biosciences (óleo de palma), Minus (café) e Hyfé Foods (trigo).
Recriar categorias com diversas fontes de alimentos à base de plantas
Cerca de 75% da dieta humana atual consiste em apenas 12 plantas e 5 espécies animais. Pense em soja, milho, trigo e carne bovina. Historicamente, essas culturas forneceram calorias baratas à humanidade, resultando em algumas das taxas de fome mais baixas da história da humanidade. Mas a fome agora está aumentando e o domínio da monocultura vem impulsionando uma crise de saúde e planetária. Diversificar as fontes de alimentos é um passo crítico para alimentar o planeta de forma saudável e sustentável.
Muitas marcas lançadas na última década utilizam diversos ingredientes e recriam categorias básicas. Um dos pioneiros na categoria de lanches sem glúten é a Simple Mills, com sede em Chicago. Lançada por Katlin Smith em 2012, a empresa distribui seus produtos em mais de 28 mil lojas nos EUA.
Um de seus produtos mais recentes utiliza farinha de semente de melancia, densa em nutrientes, e açúcar de coco cultivados usando práticas que visam promover a agricultura regenerativa. Outro exemplo é a Siete Alimentos. A empresa foi lançada em 2014 com a missão de internalizar nos EUA alimentos mexicanos-americanos melhores. A Siete usa ingredientes resistentes ao clima, como mandioca e chia, como base para uma dieta mais diversificada, e seus produtos estão disponíveis em mais de 16 mil lojas.
Inteligência Artificial (IA) para lidar com o desperdício de alimentos
Este pode ser o ano em que as máquinas inteligentes resolverão o problema do desperdício de alimentos de uma vez por todas? Sem dúvida, veremos a crescente importância da IA no monitoramento e gerenciamento da segurança alimentar, desenvolvimento de receitas e gerenciamento da cadeia de suprimentos. Mas e o Santo Graal? A resposta é: gestão de resíduos alimentares. Mais de 20% dos alimentos nos EUA acabam em aterros sanitários, representando entre 8-10% das emissões globais, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Um exemplo é a Afresh, uma empresa de software que usa a tecnologia de IA para reduzir o desperdício de alimentos, simplificando a previsão e o gerenciamento de estoque em varejistas desses produtos. A utilização de dados e IA ajudou a Afresh a economizar mais de 30 milhões de libras (cerca de 15 mil toneladas) em produtos até o momento.
O CEO Matt Schwarz compartilhou: “O desperdício de alimentos geralmente é impulsionado por um fator invisível: más decisões. As pessoas decidem comprar demais, varejistas e distribuidores encomendam demais e os produtores cultivam demais. A IA otimiza a tomada de decisões – portanto, quando aplicada a alimentos, tem o potencial de evitar bilhões de quilos de desperdício de alimentos anualmente”.
Grandes players de tecnologia também estão ativos neste espaço. A agtech do Google, a Mineral, está se mostrando mais. De acordo com a Agfunder, a “Mineral visa fornecer dados e análises fundamentais e acionáveis para empresas de alimentos, agricultura e tecnologia”. A empresa já mapeou e analisou 10% das terras agrícolas do mundo.
Desenvolvimento de produtos climáticos como prioridade
Além disso, lidar com as emissões do Escopo 3 significa mudar as origens e os ingredientes dos alimentos. É difícil religar as cadeias de suprimentos e criar receitas favoráveis ao clima para produtos produzidos em massa para empresas como McDonalds, Coca Cola ou Mondelez.
Para atingir as metas climáticas globais, veremos novos produtos nas prateleiras que foram criados a partir da cadeia de suprimentos agrícola, com base em ingredientes sustentáveis e ecológicos como primeiro princípio. Com menos de uma década para enfrentar o pior da crise climática, contaremos com os empreendedores para criar cadeias de suprimentos que priorizam o clima e desenvolver seus produtos em torno disso.
Considere a Planet FWD, uma empresa de tecnologia que gerencia carbono para empresas de consumo. Para demonstrar o software, a fundadora Julia Collins desenvolveu uma empresa de lanches de prova de conceito chamada Moonshot, como a primeira marca de lanches ecologicamente correta.
O tempo está passando rápido e a inovação do sistema alimentar será a chave para enfrentar a crise climática. Ampliar essas tecnologias – da biomimética à inovação de commodities baseadas em micélio, dietas diversificadas, IA para lidar com o desperdício de alimentos e desenvolvimento de produtos que priorizam o clima – pode nos dar tempo nessa corrida.
* Shayna Harris é colaboradora da Forbes EUA, escreve sobre tecnologias e transformação das cadeias alimentares e é sócia-gerente da Supply Change Capital, empresa que investe na transformação dos alimentos.