Quem é Ilaria Felluga, a herdeira dos grandes vinhos brancos italianos

16 de março de 2023
Felluga/Divulgação

Ilaria Felluga, uma sucessora dos brancos vinhos italianos

Grandes edifícios de ferro fundido que abrigavam lofts grandiosos, com enormes janelas de batente cercadas por ruas de paralelepípedos, levam a um outro mundo, mas não muito longe da agitação vertiginosa de seu entorno. O bairro de Tribeca, na cidade de Nova York, há muito é um refúgio tranquilo para os poucos sortudos que podem morar lá e para muitos outros que vêm visitá-lo.

Era um dia frio deste último mês de fevereiro, embora a luz do sol iluminasse os longos cabelos castanhos da jovem sentada em um restaurante italiano sofisticado. Ilaria Felluga fazia uma degustação dos vinhos de sua família, conhecida entre os apreciadores italianos de vinhos brancos como uma das melhores.

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Ilaria não voltava a NYC desde Covid-19 e, apesar da cidade estar tão lotada e elétrica quanto antes, algo estava muito diferente nessa visita. Seu pai, Roberto Felluga, não estava com ela. O patriarca faleceu de câncer, em novembro de 2021, aos 63 anos.

Vinhos Marco Felluga e Russiz Superiore

O avô de Ilaria, Marco Felluga, fundou a Vinícola Marco Felluga em um local de vinhos brancos de alta qualidade, em Collio, um lugar na região vinícola do nordeste italiano de Friuli-Venezia Giulia (também conhecida como Friuli). O avô, aos 95 anos, é um senhor saudável e ativo.

As raízes vitivinícolas da família Felluga remontam a seis gerações, mas foram Marco e seu irmão Livio que se tornaram pioneiros ao elevar o nível dos vinhos friulianos e conquistar os corações de muitos apreciadores italianos sérios de vinho tinto em todo o mundo, fazendo-os beber também o vinho branco italiano. Livio estabeleceu sua vinícola em Rosazzo e, em seguida, Marco, o avô de Ilaria, abriu sua própria adega na cidade de Gradisca d’Isonzo, na prestigiada área de vinhos brancos de Collio.

Felluga/Divulgação

Ilaria, seu pai Roberto e seu avô Marco

Se um apreciador de vinho ainda não experimentou um pinot grigio de um dos principais produtores de Collio, então ele ainda não tem ideia do verdadeiro potencial da uva local. Muitas vezes e em muitos lugares, o pinot grigio é apenas um vinho saboroso e não muito levado em conta. Mas o Collio Pinot Grigio é uma beleza, com boa concentração equilibrada, por uma acidez nítida e envolta em intensa mineralidade.

Marco Felluga, com seu filho Roberto, não apenas faria parte de um punhado de vinicultores da região, focando nos vinhos Pinot Grigio orientados para o terroir, mas também apostaram fortemente em variedades locais menos conhecidas, como ribolla gialla, uma uva branca que faz vinhos delicados com aromas encantadores.

No final da década de 1960, Marco Felluga comprou a propriedade Russiz Superiore, área com uma longa história e localização elevada, e que se tornou conhecida por sua fantástica vinha Cru, que sempre ilustrou a natureza superior com vinhos soberbos.

A propriedade Russiz Superiore já era conhecida por seus elegantes vinhos tintos cabernet franc. Mas, em vez de manter o nome original, ele trocou para Vinícola Marco Felluga, mostrando que a propriedade era seu próprio lugar sem outra comparação. Sob a liderança de Roberto, a pureza de expressão do cabernet franc permaneceu a mesma, mesmo quando lutava contra um mercado que só queria vinhos tintos pesados ​​e super extraídos.

Hoje, finalmente, o vinho é apreciado, pois há um desejo por tintos de clima mais fresco e com finesse. Como seu pai, Roberto também pressionou por mais respeito pelos vinhos brancos italianos. Ele colocou dinheiro para bancar suas crenças, já que Roberto muitas vezes não lançava vinhos brancos de reserva até oito a 10 anos depois, considerado uma loucura por alguns, considerando o quão difícil é vender esses vinhos.

Empatou capital que, como ocorre a uma pequena vinícola familiar, ele era desesperadamente necessário em muitos momentos para outras atividades. Mas Ilaria disse que seu pai acreditava firmemente que eles faziam vinhos de classe mundial com os melhores vinhedos e que, por isso, nunca deveriam desistir de apresentá-los de outra maneira.

Relacionamentos que o vinho une

Enquanto Ilaria servia uma safra de 2017 da assinatura branca da Vinícola Marco Felluga ‘Molamatta’, ela falou sobre a sorte de sua família por ter relacionamentos longos com os mesmos importadores em vários países. Um deles está com a família há 50 anos. Nos EUA, estão com Dalla Terra (de Napa, Califórnia) há pelo menos 20 anos.

Ou seja, considerando a frequência com que os produtores de vinho mudam de importador no desafiador mercado de vinhos dos EUA, pode-se prever que estas relações estão praticamente garantidas pelos próximos 100 anos.

O proprietário da Dalla Terra, Brian Larky, é bem conhecido na indústria por cuidar de seus produtores de vinho e ser respeitado por muitos restaurantes e compradores de vinho no varejo – são poucos como ele, entre as centenas e centenas de importadores de vinho dos EUA.

Na apresentação dos vinhos, quando Ilaria sentiu o cheiro da mistura branca, de seis anos em seu copo, esboçou um leve sorriso. Por um momento, parecia que ela foi transportada para outro tempo e lugar. Ilaria conta que sempre esteve ao lado do pai, desde que se lembra, aprendendo tudo sobre vinificação, viticultura e negócio do vinho, embora alguns possam dizer que o pai permitiu que sua paixão obscurecesse sua lógica financeira.

TizianoBiagi/Divulgação

Vinho Russiz Superiore, Collio, Pinot Bianco, produzido pela Felluga

Muitos de seus importadores de vinho a conheceram desde criança, sempre ao lado do pai, olhando para ele como herói, sabendo que sua convicção manteria a família segura e protegida, mesmo nos momentos mais desafiadores.

Mas, quando o pai adoeceu, foi a vez dela – de cuidar das vinícolas, dos negócios e do pai. Agora, é ela que visita os mesmos importadores ao redor do mundo que se lembram dela ainda criança. E dizem que estão maravilhados com a mulher diante deles, pois ela se tornou a líder que seu pai sempre soube que se tornaria.

Confira alguns vinhos que estão sob o comando de Ilaria, para conhecer a sua produção:

2021 Marco Felluga Vinícola ‘Maralba’ Ribolla Gialla: 100% Ribolla Gialla. Floral com raspas de limão picante e um bom peso no corpo com uma mineralidade feroz.

2021 Marco Felluga Winery ‘Mongris’ Pinot Grigio: 100% pinot grigio. Sabores marcantes de pêssego branco, com notas de castanha do Brasil e madressilva com pedras molhadas no final.

2021 Vinícola Russiz Superiore, Collio Sauvignon: 100% sauvignon. Aroma brilhante com flor cítrica, mineralidade salina com sálvia fresca e um toque de riqueza no paladar de dar água na boca.

Vinícola Marco Felluga 2017, Molamatta, Collio Bianco: Mistura de pinot bianco, ribolla gialla e friulano da parcela Molamatta. Um aroma complexo de folha de louro, maçapão e pimenta branca com sabores vibrantes, como pasta de marmelo e um final longo e expressivo com uma sedutora nota de mineralidade esfumaçada.

Vinícola Russiz Superiore 2019, Collio Cabernet Franc: 100% cabernet franc. Logo de saída, uma pureza encantadora de frutas de mirtilo com um toque de crosta de torta, chão de floresta e pedras esmagadas com uma textura macia e um final longo e expressivo com notas de violetas.

  • Cathrine Todd é colaboradora da Forbes EUA. Escreve sobre vinhos e viagens, fundadora do blog Dame Wine, indicado para vários prêmios, entre eles Louis Roederer International Wine Writers’ Awards, Wine Blog Awards e Born Digital Wine Awards. (tradução: V.Ondei)