Alimentos orgânicos e não orgânicos: como enfrentar essa questão

6 de abril de 2023
Juanmonino/Guettyimages

Produção de alimentos precisa de equilíbrio entre escala e sustentabilidade

Outro dia eu recebi a seguinte pergunta: “já que o Brasil produz tanto alimento, abastece o mercado mundial, por que não fazemos da maneira correta?”. Então, perguntei: “qual é a maneira correta em sua opinião?”. A pessoa citou a produção orgânica como o seu principal exemplo.

A produção orgânica é, sim, maravilhosa. Mas, sozinha ela não abasteceria o mundo por uma questão biológica e de produtividade. Ou seja, faltaria alimento. Lá atrás, já percebendo esse problema, os responsáveis pelos cultivos desenvolveram produtos para ganhos de produtividade e para combater as muitas doenças naturais de um país tropical, como nosso o Brasil.

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Somente com a ajuda da tecnologia é possível produzir a quantidade de alimento que produzimos. Mas ouve quem já desafiou esse caminho e optou, radicalmente, pela produção orgânica. Isso aconteceu no Sri Lanka (país insular ao sul da Índia, com uma população de 22 milhões de habitantes).

Com a proibição de importação de fertilizantes e defensivos agrícolas, por uma decisão do líder (tomada em 2021) para mudar de forma drástica o sistema de produção, a consequência foi a falência de alimentos. O país ficou sem um terço de sua produção agrícola e a inflação de alimentos chegou a atingir 80% em 12 meses.

Houve a desestabilização do país, entre outras consequências, como a saída do presidente no ano passado. A questão não é nós contra eles, orgânicos versos agricultura convencional, mas entender que existe uma produção responsável dentro do campo. É preciso evitar o extremismo que quer levar a percepção de que a produção orgânica é a única via. A agricultura é muito ampla nos oferece muitos caminhos no Brasil. Por isso, saiba que os orgânicos são ótimos, mas não são únicos.

* Carmen Perez é pecuarista e entusiasta das práticas do bem-estar animal na produção animal. Há 14 anos, trabalha intensivamente a pesquisa na fazenda Orvalho das Flores, no centro-oeste do Brasil, juntamente com o Grupo Etco, da Unesp de Jaboticabal e universidades internacionais. Foi presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA) em 2017/2018.

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