Como a abordagem ESG, que busca governança ambiental, social e corporativa, e a tecnologia blockchain, podem caminhar para a combinação de um futuro sustentável e inclusivo? A Forbes recebeu ontem (11), no Crypto & Carbon – Forbes Conference, durante o Rio2C, festival de criatividade e inovação que vai até domingo (16), no Rio de Janeiro, três lideranças que acompanham essa jornada em três frentes: no campo, no arcabouço regulatório e no mercado de capitais.
“O blockchain, por si só, já descentraliza. O stable coin é um modelo de criptomoeda que é lastreada em ativos reais. O real digital vai conseguir empoderar a população. Tem uma série de tecnologias envolvidas nesse novo ambiente”, diz a advogada Nicole Dyskant, head de Legal e Compliance da Hashdex, uma das maiores gestoras de criptoativos, e que está deixando a posição para se dedicar à área de ativos digitais em seu escritório de advocacia, o Dyskant Advogados. “Proteger o cidadão na hora de transacionar com as moedas digitais é uma questão central de sustentabilidade”, afirma ela, reforçando que investidores se mostram ávidos e de olho em oportunidades.
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Para Nathalie Vidual, gerente de securitização e agronegócio da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), uma autarquia que regulamenta e fiscaliza o mercado de valores mobiliários e tem como função promover a transparência e o acesso às informações por parte dos investidores, há um conjunto de esforços nos dias atuais para incorporar fatores de ESG à sustentabilidade das normativas. Vidual também tem se debruçado sobre temas como Fiagro, crédito de carbono e criptoativos.
“Os instrumentos são utilizados como mecanismo de praticidade. Então, temos uma oportunidade, ao mesmo tempo, de levar educação a esse sistema de produtos financeiros”, diz ela. Vidual explica que a autarquia não tem, ainda, todas as respostas relativas a padrões, ou critérios de métricas, mas que a CVM está trabalhando nesse sentido. “Para melhorar os relatórios relacionados à sustentabilidade”, afirma. “O que a gente percebe é que os tomadores de recursos querem desenvolver projetos educativos que geram impactos ambientais.”
De acordo com Vidual, as tecnologias vão ajudar a fazer essa ponte entre os ativos verdes e o mercado de capitais. Essa ponte é um dos focos da Moss, uma fintech ambiental que vende créditos de carbono, tendo a tecnologia da blockchain como um caminho para levar liquidez a esses créditos de carbono.
Luiz Antônio Whitaker Dias Garcia, CSO da fintech, explica que a mudança na configuração dos negócios da Moss vem dando respostas para escalar esse core. A mudança foi passar de comprador de crédito para colocá-los no mercado para construtor de projetos de crédito como instrumento para acelerar essa oferta.
O Brasil tem cerca de 500 milhões de hectares de áreas nativas, o equivalente a 28 países da Europa, a título de comparação. Desse total, 220 milhões de hectares estão registrados no CAR (Cadastro Ambiental Rural), um instrumento do Código Florestal Brasileiro, ou seja, são áreas dentro de propriedades rurais que se dedicam à pecuária, agricultura, silvicultura, extrativismo, entre outras atividades. É com esses ativos que a Moss trabalha.
“A blockchain é uma ferramenta muito importante para democratizar o acesso ao investimento ou compensação de crédito de carbono”, diz Garcia. “A gente tem 38% das florestas mundiais. Já se falou que 15% dos créditos carbono do mundo estariam na Amazônia, e que poderiam chegar a 50%. Na Amazônia há 38 milhões de habitantes. Então, tecnologias ajudam as comunidades”, afirma Garcia. O mais recente relatório do ICC Brasil (International Chamber of Commerce), mostra que todo o país tem capacidade de suprir até 48,7% da demanda global de mercado voluntário de carbono e de 28% de mercado regulado, dentro dos parâmetros da ONU (Organização das Nações Unidas).