Agrishow movimenta R$ 13,290 bilhões em tecnologias para o campo

5 de maio de 2023
VeraOndei

CaseIH aposta em fichas cada vez mais tecnológicas, como os tratores apresentados na Agrishow

“O cliente pode ser pequeno ou grande, mas ele precisa ter uma mentalidade na tecnologia. Ele busca na tecnologia o retorno que ela dá”, diz Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH para as Américas do Sul, Central e Caribe, uma das maiores fabricantes de máquinas agrícolas que pertence ao grupo multinacional CNH Industrial. “Isso gera todos os nossos investimentos.” À frente de um time gigante de técnicos, Gonzalez comandou os trabalhos de um dos principais momentos da marca, todos os anos: a participação na Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, que começou no dia 1 de maio e terminou nesta sexta-feira (5).

Entre 2019 e 2021, o grupo investiu globalmente em novas estruturas e tecnologias US$ 2,2 bilhões, destinando para o período de 2022 a 2024 mais US$ 4 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões na cotação atual). No final da tarde de hoje, os organizadores da Agrishow informaram um volume recorde de R$ 13,290 bilhões em negócios gerados e intenções de compra em máquinas agrícolas, de irrigação e de armazenagem, em relação à feira de 2022, com R$ 11,243 bilhões. O crescimento foi de 18,2%.

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No caso da Case IH, Gonzalez parece ter um mantra sobre as apostas da marca em digitalização e produtividade, tomando por base a conectividade, a IA (inteligência artificial), a automação e a eletrificação dos processos nas lavouras. Insumos com todas essas ferramentas foram mostradas na Agrishow. “Softwares e hardwares estão internalizando tecnologias”, diz o executivo. “Neste ano, 100% de nossas máquinas já estão saindo de fábrica conectadas. Não é uma opção.”

Até 2024, a frota de máquinas conectadas e da marca, como tratores, colheitadeiras, entre outras, deve chegar a 50 mil operando no Brasil. Um ranking global da Case IH coloca o Mato Grosso como o estado que mais adota tecnologias entre os top 5, o dobro do segundo lugar, o estado do Illinois, seguido do Arkansas, ambos nos EUA. “A gente dizia que o Brasil ia ser um dos pioneiros e isso estamos vendo agora, na prática”, afirma Gonzalez.

Do mesmo grupo, a CNH Industrial, o italiano Carlo Lambro, presidente da New Holland Agriculture e CEO da CNH Industrial naquele país, é figura constante na Agrishow e neste ano não foi diferente. Nos próximos dois anos, a New Holland deve colocar no mercado novos 50 produtos, entre 10 e 15 por ano. No último período, a marca investiu US$ 900 milhões em soluções tecnológicas visando conectividade, automação e energias limpas, como tratores a biometano.  E anunciou que investirá R$ 340 milhões no país.

No ano passado, a marca vendeu globalmente 150 mil tratores, 8 mil colheitadeiras e 15 mil enfardadeiras de feno. “O Brasil está se tornando o primeiro mercado de colheitadeiras no mundo para a marca”, diz Lambro.

Eduardo Kerbauy, vice-presidente da New Holland para a América Latina, lembra de um tempo hoje remoto para o agro. “Quando se falava em piloto automático parecia algo quase inacessível e hoje ele é standard”, afirma ele. Questionado qual a próxima tecnologia que se tornará padrão, ele é rápido na resposta: “telemetria vai ser padrão, basta ver a quantidade de centros de inteligência para o agro”. Outras tendências nesse rumo são o metaverso e a tokenização para os grãos.

Para a norte-americana John Deere, do grupo Deere & Company, o aumento da conectividade do campo, sob a sua batuta no Brasil, está ligado ao esforço para que os produtores se engajem no projeto Campo Conectado, uma colaboração com a Claro e a startup SOL que visa a adoção da chamada agricultura 5.0. De acordo com a empresa, já foram entregues 4 milhões de hectares de cobertura 3G e 4G no país e há outros 3 milhões em negociação.

Campo está mudando as suas demandas

Na Massey Fergusson, o executivo Luis Felli , vice-presidente e head global da AGCO Corporation, que também é dona de marcas fortes no agro, como Valtra e Fendt, disse na Agrishow que há uma mudança nítida no mercado de máquinas. Não por acaso, o Brasil foi alvo de investimentos da ordem de R$ 340 milhões em infraestrutura, o que fez a marca sair do patamar de 14 mil máquinas fabricadas localmente em 2019, para 29 mil máquinas no ano passado. “Aumento do número de máquinas é importante, mas o tamanho hoje importa”, afirma.

Felli diz que os motivos da procura dos produtores por máquinas mais robustas, como colheitadeiras, tratores e pulverizadores, são dois: se o produtor pode fazer o serviço com uma, ele economiza; e as segundas safras, que no Centro-Oeste é uma realidade, agora avançam para áreas do Matopiba (região que compreende o encontro dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que compreende 337 municípios, 31 microrregiões e cerca de 73,1 milhões de hectares. “Hoje, a segunda safra no Piauí e Tocantins vem crescendo e não vai parar”, aposta Felli.

A Fendt, marca que desembarcou no Brasil em 2019 e que está indo também para o Paraguai, chegou ao país trazendo uma das maiores colheitadeiras do mercado e, segundo seus executivos, é a maior em operação no país, ao custo de cerca de R$ 4,5 milhões. Fábio Dotto, diretor de produto da Fendt e Valtra, afirma que, embora neste momento haja uma redução dos preços da commodities, principalmente na soja, a safra de grãos deve bater recorde em 2022/23, com 330 milhões de toneladas, e já está posto novo recorde para 2023/24.

“Janelas curtas pedem equipamentos eficientes”, afirma o executivo. “Entre produtividade e custo, tudo que fica no meio é margem. Toneladas por hectare, hora/dia de máquina parada pesam.” A Fendt, por exemplo, está investindo neste ano e no próximo R$ 660 milhões para sair de 22 lojas e chegar a 40 lojas, além da aposta nas operações on line. No caso da Valtra, no país desde os anos 1960, Dotto diz que a estimativa é sair dos atuais 168 pontos de vendas, para 200, nos próximos três anos. “As tecnologias estão chegando mais rapidamente e nos últimos anos estamos muito atentos à experiência do cliente na sua adoção”, afirma.