Entenda o que acontece com o preço das commodities agro

23 de junho de 2023
Sergeyryzhov/Guettyimages

Preço da carne vem caindo para o consumidor e preço do boi para o pecuarista

Uma pergunta que eu tenho recebido demais é sobre o motivo da forte queda dos preços agropecuários que tem acontecido ao longo de 2023. Afinal de contas, o preço do boi gordo caiu 18,3%, o bezerro 15,1%, o milho 33,4% e a soja 28,6%. Esses são todos produtos importantes para composição do PIB agropecuário e da pauta de exportações brasileira.

O índice de alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) indica uma queda de preço, em nível global, de 21% na comparação anual. Então, a primeira constatação é que essa queda forte e generalizada não está acontecendo apenas no Brasil.

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Quando analisamos o movimento internamente, de cara, se constata claramente uma oferta maior e sistêmica desses produtos. Afinal, não tem sido difícil encontrá-los no mercado. Esse é um ponto que pode parecer subjetivo, mas para quem trabalha com essas commodities a tendências é bem evidente e esse sentimento fica bem forte.

No caso da pecuária, nós temos falado muito sobre como os preços altos em 2020 e em 2021 incentivaram os produtores a segurar as fêmeas nas fazendas, um movimento que agora traz esse tal de aumento de oferta – o nosso famoso ciclo pecuário que já abordamos bastante aqui na coluna.

Mas uma medida que demonstra, na prática, esse cenário é abate de bovinos no Brasil, que subiu quase 25% na comparação anual. Isso é uma indicação forte, de fato, de que tem mais oferta disponível hoje. Não é só achismo.

No caso dos grãos, a situação é parecida: o crescimento da área plantada foi de quase 5% no ano, com boa produtividade devido ao clima favorável no Centro-Oeste, o que trouxe uma produção quase 16% maior. Novamente, oferta adicional e relevante entrando para ser oferecida no mercado.

E, por fim, para cravar uma resposta ponderada, vamos analisar também o lado da demanda. Então, eu ouço, por exemplo, que novas políticas de Estado impostas estariam minando o consumo doméstico. Mas será que dá para sentir isso mesmo? Será que isso é verdade?

A gente sabe que a demanda, especialmente de carne bovina, depende completamente do nível de emprego e de renda para que o grosso da população possa acessar os produtos. O desemprego fechou o mês de abril em 8,5%, o mais baixo desde 2015, enquanto a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em quase 4%. Ela é a mais baixa desde janeiro 2021.

Faz muito sentido, já que eu costumo dizer que o deslocamento da demanda é como um grande transatlântico no oceano: precisa de tempo e de espaço para se mover se movimentar, se reorientar. Outro ponto é que os preços altíssimos das commodities, visualizados no biênio 2020 e 2021, estimularam a produção, o que é normal e que agora cresceu sem que a demanda acompanhasse na mesma medida.  Então, hoje nós temos mais oferta e menos demanda.

Outro ponto importante é que as commodities, principalmente as alimentares, as agro, têm uma demanda bem menos elástica, porque ninguém para de comer. Então, qualquer aumento de oferta, com uma demanda um pouquinho menos elástica, acaba interferindo bastante nos preços.

* Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

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