As microcervejarias que estão começando hoje enfrentam altos custos iniciais e uma escassez de bancos dispostos a emprestar pequenas quantias. Lembrando de sua própria dificuldade em obter financiamento inicial para a Sam Adams, Koch criou um programa chamado Brewing the American Dream, para conceder empréstimos e orientação a pequenos empresários de alimentos e bebidas. O programa fez parceria com o Accion Opportunity Fund de microcrédito sem fins lucrativos, para emprestar US$ 99 milhões (R$ 480 milhões) desde sua fundação em 2008, e Koch diz que a taxa de reembolso foi de 96%. Este ano, o programa ultrapassará a marca de US$ 100 milhões.
Leia também:
- Rede Lúpulo pesquisa bioinsumos para o principal ingrediente da cerveja
- Cadeia do lúpulo ganha reforço para melhorar a produção de cerveja no país
- Brasil mostra que é um país cada vez mais cervejeiro
A história da origem de Sam Adams tornou-se lendária – Koch e sua parceira Rhonda Kallman vendendo cervejas artesanais em Boston, em meados da década de 1980, usando telefones públicos para minimizar os custos indiretos e ganhando o prêmio de “melhor cerveja da América” por sua principal cerveja, em seu primeiro ano, 1985. A cerveja americana tinha uma péssima reputação na época. As cervejas consideradas de alta qualidade eram todas de origem estrangeira, da Heineken à Becks.
“No começo, nossa competição era com a ignorância e a apatia”, disse Koch. “Pessoas que não conheciam uma boa cerveja e não se importavam se bebiam cerveja amarela e com gás adicionado. Como indústria, todos nós ajudamos a educar [o público]. E todos nós crescemos.”
Agora, os EUA são indiscutivelmente a capital mundial da cerveja artesanal, com o número dessas cervejarias no país atingindo um recorde histórico de 9.552 no ano passado, de acordo com a Brewers Association. Mas nem tudo são flores: a produção geral de cerveja artesanal americana estagnou no ano passado. Alguns analistas especulam que o mercado está próximo da saturação.
Pequenos produtores estão lutando por uma fatia da indústria cervejeira em geral, dominada por empresas como Anheuser-Busch Inbev e Molson Coors, que juntas controlam 81% do mercado norte-americano, de acordo com um relatório da IBISWorld de janeiro. Em um relatório divulgado no ano passado, o departamento do tesouro dos EUA encontrou “vários problemas competitivos” no setor, que podem levar ao aumento dos preços para os consumidores.
Koch tem criticado muito a consolidação do setor, apontando a decisão do Departamento de Justiça dos EUA de permitir as fusões da Molson Coors e SABMiller e da Anheuser Busch e InBev, em um artigo de opinião do New York Times de 2017. (Em 2019, a Boston Beer Company adquiriu a Dogfish Head por US$ 336 milhões [R$ 1,6 bilhão], um movimento que Koch descreve como “não uma aquisição de planilha”, mas de “uma união de forças”.)
- Inscreva sua empresa ou cooperativa no Forbes Agro100 utilizando este link
- Siga a ForbesAgro no Instagram
Financiar startups é uma das maneiras de Koch reagir. Em seus 15 anos de operação, a Brewing the American Dream treinou 14.000 empreendedores e criou ou manteve 9.000 empregos. Pouco mais de três quartos dos participantes do programa e beneficiários de empréstimos são negros, indígenas ou pessoas de cor, e 63% são mulheres. No ano passado, a média dos empréstimos foi de US$ 33 mil (R$ 160 mil). O programa não divulga quanto do financiamento vem da Boston Beer Company e do Accion Opportunity Fund. Koch diz que sua empresa direciona todos os lucros dos empréstimos de volta para o programa.
Se a Boston Beer Company ainda conta como uma cervejaria artesanal é discutível. Tecnicamente, a Associação dos Cervejeiros limita a designação àqueles que produzem até 6 milhões de barris (cerca de 955 milhões de litros) de cerveja por ano. A Boston Beer produziu 8,13 milhões de barris (R$1,3 bilhão de litros) no ano passado.
Ainda assim, sua reputação de pequenino permanece, em parte porque Koch continua experimentando novas cervejas e técnicas. “Eles ainda são cervejeiros artesanais em nosso livro”, disse Steinman, da Beer Marketer’s Insights. O argumento é de que não há uma maneira perfeita de definir o termo, mas que “a maneira como eles interagem no mercado está de acordo com o conceito de cerveja artesanal”.
As seis microcervejarias competindo pela orientação de Koch, no evento de sexta-feira, eram pequenas operações dirigidas por apenas duas pessoas. Muitos de seus fundadores ainda têm empregos em tempo integral, durante o dia. “Fazemos nossas torneiras à mão”, disse Bhavik Modi, da Azadi Brewing Company, com sede em Chicago. “E minha esposa faz nossa arte em lata.”
Quando perguntado se ele poderia ver a Boston Beer Company adquirindo uma dessas microcervejarias um dia, Koch disse que provavelmente não – “elas estão perfeitamente bem do jeito que estão” – mas acrescentou: “Quem sabe? Uma coisa que aprendi é nunca diga nunca.”
Apesar dos múltiplos desafios para as startups de cervejas artesanais, há oportunidades. Bart Watson, economista-chefe da Brewers Association, observou que o potencial de longo prazo para o crescimento da indústria ainda permanecerá vivo se as pequenas cervejarias desenvolverem novas estratégias para ampliar seu apelo de consumo. “A [cerveja] artesanal será maior do que é agora em 10 anos? Eu gostaria de acreditar que sim. Será maior do que é agora em dois ou três anos? Talvez não.”
Koch aponta que a infraestrutura em torno das startups é mais robusta do que quando ele começou em 1984. “Ser um empreendedor agora não é considerado a margem lunática do capitalismo, mas sim algo celebrado e admirado”, disse ele. “Quarenta anos atrás, não havia muito capital de risco. As pessoas questionavam sua sanidade. Isso não é mais verdade. Agora, os empreendedores são os heróis do capitalismo, o que é muito legal.”