Por que o produtor precisa ser financiado para salvar a saúde do solo

Apresentado por
25 de julho de 2023
Daniele Orsi/Guettyimages

Solo saudável está na base da segurança alimentar

Há um apelo global em rápida aceleração para proteger os ecossistemas e, embora a biodiversidade e a natureza façam parte da conversa geral, menos atenção tem sido dada à saúde do solo. Mas não há como falar de mudanças climáticas, biodiversidade ou segurança alimentar sem falar da degradação do solo. Sadhguru, chefe da Fundação Isha, na Índia, está realizando uma campanha, “Conscious Planet – Save our Soil”, para mudar esse quadro.

Por três décadas, o iogue global Sadhguru tem destacado a importância do solo e a ameaça alarmante de sua degradação em curso e diz: “O solo é nossa vida, nosso próprio corpo. E se abandonarmos o solo, de muitas maneiras, abandonaremos o planeta.”

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O solo está no centro da saúde do ecossistema, fornecendo serviços essenciais não apenas para a produção agrícola, mas também para o crescimento das outras plantas, vida animal, biodiversidade, sequestro de carbono e resiliência a secas ou inundações. O declínio da saúde do solo está exacerbando muitos dos desafios mais graves, desde as mudanças climáticas até a fome global.

Para ficar em alguns exemplos, a má saúde do solo está contribuindo para o aquecimento global, reduzindo o volume de carbono absorvido da atmosfera e levando à perda de biodiversidade ao impactar a vegetação que fornece alimento e abrigo para várias espécies animais.

Os objetivos da campanha de Sadhguru são simples, embora ambiciosos. Eles envolvem a conscientização sobre a importância do solo, inspirando o eleitorado a apoiar a política em torno da saúde do solo (a meta é de 4 bilhões de pessoas ou 60% do eleitorado mundial) e, em particular, ajudando a aumentar e manter o índice de matéria orgânica dos solos para um mínimo de 3% a 6%.

Perda e degradação do solo

Pesquisas publicadas em 2020 sugerem que cerca de 24 bilhões de toneladas métricas de solos férteis estão sendo perdidas a cada ano e a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação alertou que até 40% da área terrestre global já está em estado degradado. Isso se deve, em parte, às mudanças climáticas, mas a atividade humana tem um papel significativo a desempenhar, com agricultura intensiva, uso excessivo de insumos químicos, desmatamento e outras formas de conversão do uso da terra, contribuindo para o problema.

Isso tem um impacto econômico direto, bem como ambiental. A Comissão Europeia estimou recentemente que a Europa perde nove milhões de toneladas de solo anualmente, enquanto em 2019 a análise do valor do capital natural da Solar Energy UK sugeriu que a degradação do solo custa apenas ao Reino Unido cerca de 1,2 bilhão de libras esterlinas (R$ 7,3 bilhões na cotação atual), por ano.

Alimentos, agricultura e solo

Para o setor agrícola, o declínio da fertilidade do solo levanta uma série de questões. Reduz tanto o rendimento quanto a qualidade das colheitas, consumindo os lucros dos agricultores, bem como sua capacidade de produzir alimentos suficientes para a população crescente.

De fato, as estimativas sugerem que cerca de 95% dos alimentos que consumimos dependem direta ou indiretamente de solos saudáveis, mas aproximadamente 52% das terras agrícolas do mundo apresentam algum grau de degradação.

Cerca de 51 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a 70% de terras no planeta, são destinados à agricultura atualmente. Sadhguru diz: “No momento, as Nações Unidas estão dizendo que o mundo pode ter solo agrícola apropriado apenas para outras 80 a 100 safras. Isso significa que, se nada for feito, dentro de 45 anos a 60 anos pode haver escassez severa de alimentos, com solo ricos podendo se tornar estopins de guerras. Muitos cientistas apontam que, nessa toada, até 2045 estaremos produzindo 40% menos alimentos do que estamos produzindo agora, com uma população global que pode passar de 9 bilhões de pessoas.

Sondeep Shankar/Guettyimages

Jaggi Vasudev, conhecido pelo título de Sadhguru, em Nova Delhi

“Esse não é um mundo em que você deseja viver ou deixar para seus filhos e partir. Mas é isso que estamos criando. Em todas as terras agrícolas do planeta, deve haver um mínimo de 3% a 6% de matéria orgânica. Se você instituir isso na política de cada nação, dentro de 12 a 15 anos podemos mitigar significativamente a mudança climática apenas cuidando do solo.”

A restauração e a regeneração do solo também podem ser feitas em combinação com a indústria, como, por exemplo, por meio da agrosolar, com interesse crescente no impacto da implantação da energia solar fotovoltaica ao lado das lavouras e da pecuária. Mark Rowcroft, diretor de desenvolvimento da Exagen, que está promovendo a combinação da geração solar fotovoltaica com a agricultura, escreveu: “A regeneração da terra é tão vital para garantir um futuro de baixo carbono quanto a descarbonização de nossos sistemas de energia. Proteger e nutrir a biodiversidade tem o duplo impacto de restaurar a qualidade do solo para sequestrar carbono e melhorar a qualidade do solo e os rendimentos agrícolas”.

O solo como sumidouro de carbono

O solo é um sumidouro de carbono significativo – globalmente, estima-se que aproximadamente 75% do carbono terrestre esteja armazenado no solo, o que é até três vezes mais do que a quantidade armazenada em plantas e animais vivos.

Se o solo estiver coberto e tiver húmus (matéria orgânica), ele absorve o carbono da atmosfera. Ao mesmo tempo, o solo insalubre, arado e exposto, é uma fonte de emissões de dióxido de carbono e metano. Isso significa que melhorar a saúde do solo pode desempenhar um papel importante no aumento do sequestro de carbono e no combate ao carbono atmosférico.

Se você deseja consertar ou reverter a mudança climática, ou fazer o sequestro de carbono, ou limitar o aumento das temperaturas no mundo, ou resolver a escassez de água, a necessidade de conexão é a necessidade de consertar o solo. Como Sadhguru aponta: “É também a maior imersão de água do planeta. Se o solo for organicamente rico, podemos armazenar oito vezes mais água do que todos os rios do planeta juntos!” Isso pode ter um impacto significativo na resiliência local à seca e/ou inundações.

Um solo saudável sustenta muitas das abordagens que estamos adotando para enfrentar as mudanças climáticas e os desafios alimentares. O solo saudável abriga o micélio que conecta plantas e árvores, ajudando-as a compartilhar nutrientes, trocar nitrogênio, fósforo, magnésio, ferro etc, e adaptar-se ao desafio das alterações climáticas.

Impulsionando o financiamento para a regeneração do solo

Uma das maneiras pelas quais o financiamento pode ser canalizado para a regeneração do solo é por meio dos mercados voluntários de carbono. A metodologia de Verra para Melhoria da Gestão de Terras Agrícolas (IALM), por exemplo – que foi atualizada recentemente – permite que os agricultores forneçam importantes benefícios de mitigação do clima, ao mesmo tempo em que melhoram seus rendimentos e a resiliência na fazenda.

A metodologia IALM, que está vinculada ao Verra’s Verified Carbon Standard (VCS), permite o financiamento de carbono em escala para projetos que removem os gases de efeito estufa (GEE) da agricultura de várias maneiras – incluindo gerenciamento aprimorado de fertilizantes, gerenciamento da irrigação, cultivo reduzido ou melhor manejo de resíduos, plantio e colheita melhorados (por exemplo, agrofloresta e rotação de culturas) ou melhores práticas de pastoreio. Uma vez verificados e validados os projetos que aplicam a metodologia IALM, os agricultores podem obter Unidades de Carbono Verificadas (VCUs), ou seja, créditos de carbono.

Um porta-voz do órgão de certificação e padrão de carbono Verra diz: “Quando práticas de gerenciamento de terras agrícolas (IALM) são implementadas com foco no enriquecimento do solo, elas aprimoram seu papel como sumidouro de carbono, permitindo que absorva emissões de gases de efeito estufa em vez de liberá-los, além de maior resiliência do ecossistema. Essa resiliência ajuda a proteger as comunidades contra os impactos do clima induzido pelas mudanças climáticas, como inundações e secas, com benefícios indiretos para a segurança alimentar e a saúde”.

Ao promover esforços globais para restaurar a saúde do solo e implementar práticas agrícolas mais sustentáveis ​​no futuro, a indústria agrícola pode desempenhar um papel fundamental na solução das crises interconectadas de segurança alimentar, mudança climática e perda de biodiversidade.

Desafios e oportunidades

À medida que cresce o reconhecimento da importância da saúde do solo – para a mitigação do clima, da biodiversidade e da saúde do meio ambiente como um todo – cresce também o número de iniciativas e campanhas dedicadas a aumentar a conscientização sobre esse tema. Juntamente com a iniciativa francesa 4 por 1.000, outros exemplos incluem a Global Soil Partnership e a Coalition of Action for Soil Health.

Métodos inovadores direcionados a investimento para melhorar a saúde do solo são muito necessários, e há um número crescente de opções disponíveis para os agricultores acessarem fluxos de receita adicionais para melhorar a saúde do solo, o que está se tornando cada vez mais possível com os avanços tecnológicos e científicos no monitoramento e relatórios sobre o carbono orgânico do solo (SOC).

Existem desafios também. Como aponta Aadith Moorthy, executivo-chefe do mercado de carbono do solo Boomitra, a compreensão do papel do carbono do solo não é tão estabelecida quanto a silvicultura, que desempenha um papel central nos mercados de carbono atuais.

O mais importante não é realmente compreendido pelos financiadores, o que significa que é visto como um investimento de alto risco. Se esse desafio puder ser superado, porém, existem fundos nos mercados voluntários de carbono que podem ser capazes de direcionar fluxos financeiros significativos.

Sadhguru diz: “A degradação do solo é um desastre em escala global, mas pode ser revertido simplesmente com um foco comprometido. Não precisa de nenhuma tecnologia absolutamente nova ou trilhões de dólares. O que ela precisa é de uma abordagem comprometida dos governos.”

Para atingir o mínimo de 3%-6% de matéria orgânica, Sadhguru acredita ser necessária uma estratégia de três frentes. Em primeiro lugar, os governos do mundo precisam incentivar os agricultores a aumentar a matéria orgânica em seu solo. Em segundo lugar, o mercado de crédito de carbono precisa ser simplificado para que seja acessível aos agricultores. A terceira parte da estratégia prevê o reconhecimento do mercado e a valorização do produto quanto à matéria orgânica do solo de onde provém.

Existem outras oportunidades também – robótica, monitoramento e medição de solos são setores nos quais os investidores estão demonstrando interesse crescente – e o potencial de transformação da agricultura é imenso. Sadhguru diz que as indústrias e as empresas devem se concentrar na evolução de fertilizantes, agroquímicos e máquinas agrícolas que sejam mais amigáveis ​​ao solo, dizendo: “Hoje há tecnologia suficiente – robótica, inteligência artificial – para transformar essas coisas. A ciência já está lá; Nós sabemos o que fazer. Só que a indústria ainda não o alcançou.”

Ação solo e clima

Dado que quase 40% das mudanças climáticas são afetadas pelo solo, pode parecer estranho que o tópico ainda não tenha se tornado parte de uma conversa mais ampla sobre o clima e, de fato, das negociações climáticas. Moorthy aponta que, até o momento, apenas quatorze NDCs incluíram a saúde do solo de uma forma ou de outra.

Sadghuru diz: “Se você consertar esta única coisa, tudo será consertado naturalmente. Quer você queira consertar ou reverter a mudança climática, ou fazer o sequestro de carbono, ou limitar o aumento das temperaturas no mundo, ou resolver a escassez de água, precisamos consertar o solo”. Então talvez seja aí que o foco deve estar na próxima COP (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).

* Felicia Jackson é colaboradora da Forbes EUA. Fundadora da The Net Imperative Ltd e da New Energy Finance (posteriormente comprada pela Bloomberg), autora de Conquering Carbon: Carbon Emissions, Carbon Markets and the Consumer. É jornalista e professora no MSc Global Energy and Climate Policy and Finance, na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. (Tradução: ForbesAgro)