Não menos importante é o custo: nos últimos cinco anos, bilhões de dólares foram gastos no desenvolvimento de mais de 100 startups do setor. Mas eles ainda precisarão de mais alguns bilhões. O setor “precisava de um grande incentivo para dizer não só que estamos progredindo, mas estamos avançando em um dos aspectos mais desafiadores para trazer essa carne para o mercado, que é o sistema regulatório”, afirma à Forbes a investidora Lisa Feria, CEO da Stray Dog Capital, com sede em Kansas City. “Mas o que se pode escalar como produto ainda permanece como uma grande, enorme e muito cara atividade para trazê-lo ao mercado”, completa.
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Os preços são altos, mas não altos o suficiente para gerar lucro
O quilo da carne cultivada em laboratório custa milhares, senão centenas de milhares de dólares, para ser produzida. As marcas, no entanto, decidiram arcar com perdas substanciais para que os preços dos pratos de carne cultivada estejam em linha com a carne de ruminantes e aves comuns, os quais os clientes estão acostumados. Os primeiros pratos de frango da Upside Foods serão lançados no restaurante Bar Crenn, com estrela Michelin, do chef Dominique Crenn, enquanto o produto da Good Meat será vendido em Washington, no restaurante China Chilcano, do chef José Andrés, por preços a serem definidos. Andrés possui ações e Crenn tem um contrato de vários anos, mas eles não querem que a cabeça dos clientes exploda quando olharem para o lado direito do menu. Espere um preço normal de entrada. E espere grandes perdas.
A carne cultivada em laboratório pode nunca render dinheiro
Os pontos de venda com práticas artificiais de preços – justificados, isso porque dar uma amostra para o maior número possível de pessoas é um bom negócio – podem acabar prejudicando as marcas. Estima-se que a estrutura de custos esteja fora de sintonia por anos, senão décadas, e muitas das pessoas que experimentam carne cultivada em laboratório agora, pela primeira vez, podem não estar por aqui quando esses produtos forem lucrativos para as empresas.
“A lucratividade está muito aquém, então o maior desafio pela frente é produzirmos milhões de toneladas por ano e, finalmente, competir remotamente com a carne convencional”, diz Feria, que apóia a Upside Foods, bem como uma série de seus concorrentes, e prevê que muitas startups eventualmente se fundirão ou serão adquiridas por grandes empresas de carnes, como Tyson e JBS.
O cultivo não é barato
Vai ficar com gosto de frango?
Feria diz que aconselha qualquer pessoa a não apressar o lançamento de novos produtos. “Vai realmente impactar a categoria, quais produtos as pessoas vão colocar na boca primeiro”, diz ela. “Esses produtos precisam ser impecáveis. Eu gostaria de ver as pessoas impressionadas”, completa.
A carne cultivada não é necessariamente boa para o meio ambiente
É verdade que os métodos tradicionais de levar carne ao mercado podem provocar mudanças climáticas que precisam ser revertidas, mas a carne cultivada em laboratório apresenta um problema um pouco diferente: ela consome uma enorme quantidade de energia. Não há muita pesquisa sobre isso, especialmente do tipo que não é financiado por startups ou associações do setor. Dito isso, alguns estudos recentes mostraram que de fato há motivos para preocupação.
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O Good Food Institute, da indústria de proteínas alternativas, afirmou recentemente que, em uma década, a carne cultivada em laboratório poderia ter um impacto ambiental menor em comparação com a produção convencional de gado, se a energia renovável for usada. Seu estudo estima cerca de 80% menos emissões de carbono, além de menos terra utilizadas. Mas, se a carne cultivada usa fontes de energia tradicionais em escala, um estudo de 2015 descobriu que seria pior para o planeta do que a produção de carne convencional. Em outro artigo, anunciado no mês passado e que aguarda publicação revisada por pares, pesquisadores afirmam que o impacto ambiental da carne cultivada em laboratório pode ser de 4 a 25 vezes pior do que a carne natural.
Carne cultivada em laboratório não é especialmente saudável como alimento
Especialistas dizem que as proteínas cultivadas podem ser definidas como ultraprocessadas, contra as quais o Instituto Nacional de Saúde e pesquisadores das ONU (Organização das Nações Unidas) alertam há anos. Alguns estudos até mostram ligações com câncer e outras doenças com certos tipos de alimentos ultraprocessados. É muito cedo para qualquer pesquisa sobre os impactos em longo prazo da ingestão de novas proteínas ou o efeito de usar um ambiente esterilizado para criar nutrientes para as pessoas consumirem.
Além disso, a quantidade de dinheiro que os investidores estão colocando não incentiva a ir devagar e fazer as coisas intencionalmente, disse à Forbes Adrian Rodrigues, um banqueiro de investimentos de Washington que fundou a Provenance Capital. “Isso coloca muita pressão sobre a preocupação em priorizar a segurança do produto e garantir que não haja apenas testes de curto prazo, mas testes longitudinais”, afirma Rodrigues.
As guerras de patentes se aproximam
Pioneiros em proteínas vegetais, Impossible Foods e Motif FoodWorks travaram uma batalha prolongada (mas não sangrenta) para determinar quem tem o direito de fazer hambúrgueres sem carne de uma determinada maneira. O mesmo poderia acontecer facilmente para os demais criadores de carne de laboratório. Cada startup tem sua própria fórmula proprietária. Alguns são apoiados por patentes e outros são segredos comerciais. Rodrigues chama as startups desenvolvidas em laboratório de “empresas hiper investidas que parecem estar focadas em uma captura de propriedade intelectual, para realmente dar uma base a retornos focados em propriedade intelectual”.