Primeiro trator acessível a deficiente físico começa a ser vendido no Brasil

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14 de agosto de 2023
NH/DIvulgação

Fernando Dal Molin, 42 anos, diz que a vida continua depois de um acidente

“O acidente é um baque que você nem sabe se vai viver depois dele”, diz o produtor rural Fernando Dal Molin, 42 anos, que há cerca de um ano e meio sofreu um acidente de trabalho. Ao desmanchar uma leira, um tronco de árvore atingiu suas costas. Desse dia em diante, foram 60 dias internado, uma cirurgia, uma grave infecção e outros quatro meses de fisioterapia, já em casa, para se adaptar à uma vida sem os movimentos das pernas.

Por “em casa” entende-se a fazenda de 300 hectares em Mafra, município catarinense na divisa com o Paraná, onde ele cultiva soja. “Mas a vida continua, tem de continuar“, afirma Dal Molin, que diz ainda estar no caminho das descobertas dessa realidade. Dal Molin, que é filho de agricultor, pai de três crianças, declara que não saberia fazer outra coisa na vida que não fosse cuidar da terra.

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Há alguns meses, Dal Molin foi convidado pela New Holland, fabricante de máquinas agrícolas  que pertence ao grupo CNH Industrial, para testar no campo o primeiro trator adaptado disponível no mercado em todo o mundo a sair de fábrica pronto, e que foi lançado comercialmente nesta segunda-feira (14), em Curitiba (PR), onde está a principal fábrica da marca no Brasil. “O trator ficou três dias na minha fazenda”, diz Dal Molin. ”É uma máquina muito segura para subir, que é essa a dificuldade: chegar no banco do operador.”

Irrequieto, na sua jornada de retorno a uma vida normal na fazenda – e antes de conhecer o trator adaptado –, Dal Molin já havia convocado um amigo que é dono de uma oficina de torno mecânico em sua cidade para adaptar às suas necessidades o antigo trator, uma aventura que, segundo ele, está longe da tecnologia concebido pela New Holland.

“Vemos o tema inclusão e acessibilidade como urbano, mas é preciso enfrentar o desafio também no meio rural”, diz Eduardo Kerbauy, VP da New Holland para a América Latina. “É preciso cobrir uma lacuna hoje sem assistência e foi esse nosso objetivo”. No Brasil há cerca de 2,9 milhões de pessoas que possuem alguma deficiência e que residem no campo. No total, há no país 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade com algum tipo de deficiência (8,4% da população), sendo que 7,8 milhões possuem deficiência física nos membros inferiores, de acordo com a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) de 2019, realizada pelo Ministério da Saúde em conjunto com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Chamado de TL5 Acessível, o trator destinado a pessoas com deficiência motora nos membros inferiores e que agora entra na linha comercial da New Holland, começou a ser pensado em 2018, quando a marca lançou uma retroescavadeira acessível. Em 2019, o trator foi apresentado como um conceito em duas feiras agropecuárias, e desde então ele era aguardado. O veículo foi desenvolvido em parceria com a empresa de mobilidade inclusiva Elevittá, a Arteprima e o Senai de São Leopoldo (RS), testado e validado entre 2021 e 2023. A New Holland possui cerca de 14 mil patentes no mundo, das quais 1.400 foram criações de sua equipe brasileira.

A máquina está na faixa de 80 a 100 cavalos de potência (nas versões de 80, 90 e 100 cv ), onde se concentra 43% do mercado dos tratores da New Holland, diz Flávio Mazetto, diretor de marketing. “É o trator mais vendido e faz parte de todo o ciclo de uma propriedade rural, além da possibilidade de uso urbano, por exemplo, na limpeza de cidades. O trator acessível custa cerca de R$ 310 mil, mas depende da região e das condições que o banco da montadora dispõe. De modo geral, os juros de um financiamento ficam na casa de 9% ao ano. Mas Kerbauy diz que a marca vem fazendo um movimento junto ao governo federal para que nas linhas do Plano Safra tenham juros diferenciados para tratores dessa categoria.

Isso porque a marca pretende seguir com investimentos em inovação, o que inclui mais máquinas e equipamentos acessíveis, por exemplo de maior potência. A CNH Industrial faturou no ano passado, em todo o mundo US$ 23,6 bilhões (R$ 117,6 bilhões na cotação atual), dos quais US$ 1,4 bilhão (R$ 7 bilhões) foi em inovação e pesquisa. “Para 2023, a estimativa é US$ 1,6 bilhão (R$ 8 bilhões)”, afirma. No projeto do trator acessível, a marca colocou cerca de R$ 5 milhões. E segundo o executivo, sua venda está aberta ao mundo. “Fizemos o trator para o mercado brasileiro, para as nossas necessidades, mas claro que ele é um produto para todos.”